Lula continua o favorito; talvez não haja segundo turno

A seis semanas das eleições e recém começado o período oficial de campanha eleitoral, as pesquisas da última semana seguem apontando uma eleição que pode se resolver no primeiro turno. Para ficar apenas nos números da pesquisa do IPEC divulgada pela Rede Globo na última segunda feira, 15 de agosto, Lula fazia 44% das intenções de voto, Bolsonaro 32%, e os demais candidatos somados menos de 12%, com destaque para Ciro Gomes, que arrebanhava metade desse total, com 6%. As demais pesquisas divulgadas vão todas na mesma toada.

Mais do que isso, Lula começava a colocar vantagem na Região Sudeste, que somava à sua já grande intenção de votos na Região Nordeste. No Sul, liderava no Rio Grande do Sul, maior eleitorado da região.

Enfim, uma situação que vai se mostrando confortável, exatamente no momento em que se inicia a campanha eleitoral na TV, quando o atual presidente vai começar a receber maiores críticas, e complicadores da campanha que iam ficando no retrovisor (como as mortes pela Covid-19, e o desastroso gerenciamento da área de saúde durante a pandemia, só para ficar em dois exemplos bem contundentes) vão voltar com força. Do lado de fora da TV, mas alimentando também o debate eleitoral, um processo inflacionário que insiste em se mostrar forte ainda nos alimentos, complicando a vida de um governo que busca a reeleição. A vida não está fácil para ninguém, e por isso mesmo, mais difícil ainda para um presidente que disputa a reeleição, e vai ter que, além de tentar projetar algum futuro, justificar a sua gestão nos últimos quase quatro anos de governo.

Os números que vão saindo confirmam alguma coisa, colocam outra em debate, e afirmam uma terceira.

A confirmação é que a eleição parece que vai mesmo ficar marcada pela polarização entre as opções em torno das duas principais candidaturas apontadas pela pesquisa, o ex-presidente Lula e o atual presidente Bolsonaro. Se a vida não está fácil para Bolsonaro, menos ainda para os candidatos da chamada “terceira via”, que seguem patinando no dilema de meses – o candidato alternativo que poderia ser viável, Ciro Gomes, tem a total antipatia dos grandes meios de comunicação e do establishment político e empresarial, enquanto a candidata que tem a simpatia (e os recursos) deste establishment e da mídia, não parece ser alternativa para a maioria do eleitorado (Simone Tebet, do PMDB, aparece na pesquisa com apenas 2%, disputando a quarta e quinta posições com a candidata Vera Lúcia, do PSTU, com 1% das intenções de voto na pesquisa). A primeira constatação: a seis semanas do primeiro turno, não parece haver uma “terceira via” viável.

O ponto a ser colocado em debate é até que ponto a série de medidas levadas adiante pelo candidato-presidente (Auxílio-Brasil e subsídios aos combustíveis, entre as principais) pode ainda afetar os resultados eleitorais. Anunciadas com enorme alarde, e com muita pressa em sua tramitação, as medidas não parecem ter impactado tanto (se é que algum impacto houve) as intenções do eleitorado. No que diz respeito ao auxílio, talvez tenha vindo muito tarde, e com um futuro incerto, já que nem o próprio ministro da Economia Paulo Guedes garante a sua continuidade além de dezembro deste ano. Ou seja, fica excessivamente aparente se tratar de uma medida de cunho quase que exclusivamente eleitoral – enquanto de outro lado, o candidato Lula assentou no então Bolsa Família uma boa parte do seu “capital” político entre os mais pobres, com um programa de garantia de renda reconhecido internacionalmente mas, o que é fundamental aqui, mais reconhecido ainda nacionalmente, passando confiança na sua continuidade exatamente aos mais pobres.

As medidas em relação aos combustíveis, que deveriam ter repercussão no voto da classe média, não parecem ter tido tanta repercussão, embora agradando a quem voltou a poder “encher o tanque”. Isso porque a crítica de que o programa de paridade internacional dos preços do petróleo é sempre uma ameaça (neste momento, não por uma subida dos preços do petróleo, que tem até caído em um cenário internacional que parece apontar para a recessão, mas por outro eventual ricocheteio da relação entre o real e o dólar estadunidense, não descartada, e que poderia representar pressão por aumentos de preços dos derivados de petróleo aqui dentro).

Por outro lado, a implementação do subsídio via redução dos impostos estaduais sinaliza um passivo financeiro em relação aos estados que pode agravar o endividamento do governo federal na medida em que a Justiça for fazendo definições (novo esqueleto?). A classe média aproveita os atuais preços, mas fica ressabiada quanto ao futuro. E, enquanto isso, a inflação de preços de alimentos campeia, assustando Chico e Francisco, pobres e remediados.

Finalmente, com uma eleição aparentemente mais previsível quanto a seus resultados, cresce a imprevisibilidade do comportamento político do candidato que vai ficando sem espaço eleitoral, mas que pode tentar (e já buscou anunciar isso de diversas formas) opções políticas não-eleitorais. Crescem então as dúvidas quanto ao que pode ser o tal 7 de setembro, embora as manifestações pela democracia do 11 de agosto da semana anterior e o discurso de posse do novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o ministro do STF Alexandre de Moraes, tenham mostrado contundência na crítica do que poderíamos chamar de “saídas não-eleitorais).

Emoção não deve faltar nas próximas seis (ou dez, se tivermos segundo turno) semanas, mas a principal dúvida (eleitoral, vale ressaltar, porque políticas existem várias) nesse momento, é se a candidatura Lula resolve a parada já no primeiro turno ou não.

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Os artigos representam a opinião dos autores e não necessariamente do Conselho Editorial do Terapia Política.

Ilustração: Mihai Cauli e Revisão: Marlon S. Martins.
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