Entre Socialismos e

A antítese – entre socialismos e liberalismo – tenderá a confluir para um termo médio …

Ilusão e Realidade

O processo eleitoral está claro: Lula mantém a dianteira, desde o início, da pré-campanha.
Ao aproximar-se o domingo, dia 30 de outubro, que marcará a história desse país, por decidir o rumo que tomaremos nos próximos quatro anos e nos definir como modelo de sociedade, essa data será particularmente significativa.
O processo eleitoral serviu para nos revelar a existência de uma direita, talvez de uns 30% da população, que eu chamaria de centro-direita, talvez liberal-conservador, e outros talvez 15 a 20% constituindo a “bolha” da extrema-direita.
Simultaneamente verificamos fato mais conhecido: a esquerda marxista, socialista em conjugação com a comunista, continua pequena, talvez uns 10%, representada por parte do PT, em parte pelos partidos de nomes distintos que nada identificam, tipo PSOL, ou mais claros em sua apresentação política, como o PCdoB, ou o Cidadania (antigo PPS). As denominações variam e as convicções marxistas pouco são declaradas muito provavelmente para evitar um claro preconceito no país.
Existe, ainda, entretanto, uma esquerda com tendência ao centro do espectro político, talvez socialista não-marxista, que busca uma conjugação tentativamente possível – e desejável – entre socialismos e um liberalismo mais fluente do que seria o liberalismo conservador. Corresponderia a um centro esquerda de 25 % da população. Restam uns 15% a 20% não definíveis.
Ressalvado o paradoxo – denominação mais do domínio da Filosofia – mas afirmado aqui como oxímoro – que seria a combinação política possível de dois conceitos antagônicos em sua definição original – aplicado à análise política e com ele talvez possamos chegar ao fenômeno brasileiro, cujo reestudo este domingo poderá tornar obrigatório, como ação política.
Adoto o “otimismo” de Norberto Bobbio, autor italiano, heroico formulador contra o fascismo, que então, anos antes, fora o inimigo com Mussolini, e considero todos: socialistas, sociais democratas, liberais sociais, liberais flexíveis, inclusive os marxistas (comunistas ou não), como necessários para estabelecer ou restabelecer princípios e práticas que foram sabiamente reconhecidos pela Constituição de 1988, e dar consistência lógica formal à obra já acontecida que permitiu o retorno da esperança na reconstrução do país, depois do período militar ditatorial.
Os grandes temas das Liberdades (Individual, da Imprensa, expressão do pensamento), Direitos Humanos e dos Cidadãos, Democracia, Deveres do Estado como ator social (fome e pobreza), Livre Iniciativa, Capital, todos conjugados e conciliados entre si são instrumentos do Desenvolvimento Sustentável. Saúde e Educação, são naturalmente partes primordiais da contraposição entre os Deveres do Estado e Direitos dos Cidadãos. Estão bem desenvolvidos no texto constitucional, mas deveriam ser rediscutidos e reafirmados para a desejável prática do Estado Democrático de Direito sob o qual queremos viver.
Como à época de Bobbio, na Itália, o extremismo de direita neo-fascista constitui o adversário contra o qual devem ser esboçadas soluções para o futuro. Equivale à luta de reformulação da Democracia na Itália, pós-Mussolini.
A antítese – entre socialismos e liberalismo – tenderá a confluir para um termo médio, mas que seja satisfatório para um país que necessita promover um desenvolvimento sustentável e sustentado, no caminho de redimir erros do passado e atrair o conhecimento, ao mesmo tempo em que se solucionam os problemas do país, que podem ser resumidos na injusta desigualdade social, com as consequências da fome, da pobreza extrema, do desconhecimento estrutural de si mesmo.
Nesse oxímoro, um lado, talvez Carlo Rosselli, Stuart Mills, ou Von Hayek e Paretto, do outro lado, terão representado a discussão da confluência entre socialistas de diversos tons e liberais.
Essa possível política Social-Liberal está reconhecida na Constituição de 1988 e Lula Presidente terá de ser assessorado por gente capaz de interpretá-la corretamente para o necessário debate com cidadãos e no Parlamento.
Não creio em saída exceto por esse caminho. Parece absolutamente necessário conscientizar cidadãos de seu papel e essencial contrarrestar a extrema direita quase-fascista inconformada.
Domingo decidiremos o país possível, o caminho sem volta, a confirmação do Estado Democrático de Direito que somos, a grandeza de nosso ideal como País, religado ao mundo internacional, retomado em sua Política de Paz e Cooperação num planeta politicamente em transformação. Serão tempo de grandeza de concepções, de pragmatismo, de luta e conciliação.

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Os artigos representam a opinião dos autores e não necessariamente do Conselho Editorial do Terapia Política.

Ilustração: Mihai Cauli

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