Jorge tem nome grande, repleto de sobrenomes. Mas ninguém o chama pelos sobrenomes. Para todos, Jorge é Jorginho. Não que seja pequeno. Ao contrário. É grande em estatura e riqueza. Mas ainda assim é Jorginho. Para os próximos, é forma de intimidade, que precisa ser lembrada no diminutivo carinhoso porque as grandezas de Jorge parecem dificultar qualquer intimidade. Para os que não são próximos, Jorge é Jorginho porque faz se sentirem menos pobres por terem “intimidade” com Jorginho.

Nasceu rico. Mas aumentou muito a riqueza que herdou. Fez da fabriqueta uma fábrica e da fábrica um conglomerado econômico. Seu pai, sujeito duro e muito pragmático, lhe dizia que o segredo do sucesso era comprar por cinco e vender por dez. Jorginho fez isso e muito mais. Sofisticou-se em tudo.

Aumentou os lucros da fábrica cortando custos. Diminuiu a qualidade e a durabilidade dos produtos. Para que alguém continuasse comprando, investiu em marketing. Passou a vender ilusões junto com os produtos. Pelo desejo de se sentirem melhores do que são pelo que têm e não pelo que pensam ou fazem, as pessoas passaram a comprar mais e pagar mais caro pelos produtos.

Não se lembra de quando ouviu que “custos são como unhas, precisam ser cortadas com frequência”, mas repete a frase dizendo que é sua. Cortando as unhas da fábrica, de tempos em tempos, manda gente embora. Os que ficam, trabalham pelos que partem. Quando não dão conta, são substituídos por gente mais nova, forte e barata.

Com o que ganhou a mais, comprou mais coisas para ganhar mais ainda. E fez o mesmo com o que comprou. Cortou custos, qualidade e gente. Aumentou lucros diminuindo gente.

Convencido por um deputado, decidiu investir em saúde. Laboratórios que, sem gente e insumos decentes, atestavam como saudáveis partes de gente doente. Próteses que adoeciam pacientes. Clínicas que cobravam por procedimentos inexistentes. Tudo pago com dinheiro público. O deputado ficava com a maior parte, que dividia com mais gente importante.

Em pouco tempo, Jorginho tornou-se famoso no país todo. Cheio de amigos poderosos, conseguiu favores cada vez mais lucrativos. Gente da imprensa passou a lhe ouvir como sábio das formas de ganhar dinheiro e de dizer para todos como se deveria viver.

As coisas ficaram um pouco chatas para Jorginho quando uma ou outra fraude virou notícia. Mas não passou de chateação. Não importava o que dissessem dele ou de seus serviços ou produtos, não importavam nem mesmo as mortes que causava. Nada disso parecia ter a ver com Jorginho. Continua convidado para festas. Continuava amigo dos poderosos. Continuava guru de jornalista. Jorginho continuava homem de sucesso.

Fraudou a contabilidade de seu conglomerado, conseguiu dinheiro de investidores e bancos. Nem quando a fraude foi descoberta e gente rica perdeu dinheiro Jorginho foi incomodado. O sucesso inocenta.

Há gente que pensa que a economia deve estar a serviço das pessoas. Outros, pensam que as pessoas é que devem estar a serviço da economia. Jorginho não pensa nem de um jeito, nem de outro. Para ele, a economia e as pessoas devem estar a serviço dele. E estão e estarão enquanto Jorginho tiver a grana que tem, enquanto Jorginho continuar sendo este grande homem de sucesso.

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Ilustração: Mihai Cauli
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