O mundo de 2025 não é lugar para otimismo ingênuo. É tempo de preparação, resistência e, sobretudo, coragem moral.

A ordem global vive, em 2025, uma transição acelerada e desordenada. Longe vão os dias de uma economia mundial totalmente interconectada sob a hegemonia indiscutível dos Estados Unidos, quando a globalização parecia avançar sem limites e as instituições multilaterais funcionavam como garantias mínimas de estabilidade. Hoje, o que temos é o oposto: choques simultâneos, reconfigurações de alianças, rupturas em cadeia. É um mundo em que guerra, clima e economia se entrelaçam perigosamente, criando um ambiente em que o risco de colapso é real.

Nesse cenário, há seis grandes eixos que definem o presente turbulento e que qualquer observador atento deve acompanhar e, em muitos casos, temer.

A nova Guerra Fria: EUA vs. China na era Trump 2.0

O epicentro da geopolítica global continua sendo a relação entre Estados Unidos (EUA) e China. Mas, sob Donald Trump, agora em seu segundo mandato, as regras mudaram de forma radical. Se na década anterior ainda havia tentativas de convivência dentro de marcos multilaterais, o Trump 2.0 aposta numa postura explicitamente protecionista e bilateral, em que tarifas e sanções são usadas como armas geopolíticas. A lista de países atingidos é longa: além da China, parceiros como Brasil, Índia, México, Turquia e praticamente toda a União Europeia estão sob sanções e medidas tarifárias.

Esse movimento acelerou a fragmentação do comércio global, criando blocos de influência que lembram, em escala econômica, a lógica das antigas alianças militares. A China, por sua vez, respondeu com firmeza. Intensificou sua estratégia de multipolaridade, ampliou os laços com o Sul Global via BRICS+ e expandiu projetos de infraestrutura e crédito associados à Nova Rota da Seda.

O risco imediato é duplo: de um lado, uma desaceleração econômica global causada por guerras comerciais prolongadas; de outro, a possibilidade de incidentes militares no Estreito de Taiwan ou no Mar da China Meridional. Nessas regiões, a presença militar chinesa cresce ano após ano, e qualquer provocação pode se transformar em um conflito de grandes proporções. O eixo EUA-China é hoje o verdadeiro termômetro do mundo, e ele marca temperatura febril.

Conflitos armados: Ucrânia, Oriente Médio e Gaza

A segunda dimensão central é a guerra. O planeta vive o maior número de conflitos ativos desde a Segunda Guerra Mundial — são 59 atualmente, espalhados por diferentes regiões. A Ucrânia e o Oriente Médio concentram os focos de maior preocupação.

Na Ucrânia, Trump pressiona por um cessar-fogo, mas a paz parece distante. A Rússia insiste em manter territórios conquistados, enquanto Kiev exige a integridade de suas fronteiras. A população civil continua a pagar o preço mais alto, em deslocamentos forçados, destruição de infraestrutura e colapso social.

No Oriente Médio, a instabilidade ganha contornos ainda mais dramáticos. A queda do regime de Bashar al-Assad na Síria abriu espaço para novos rearranjos de poder, com crescente envolvimento do Irã e da Arábia Saudita em disputas regionais. O risco de fechamento do Estreito de Hormuz, por onde passa 20% do petróleo mundial, mantém os mercados globais em permanente estado de alerta.

Mas é em Gaza que se encontra a ferida mais aberta e sangrenta da política internacional. A ofensiva de Benjamin Netanyahu contra o povo palestino atingiu níveis inéditos de brutalidade desde 1948. Hospitais, escolas, campos de refugiados e até corredores humanitários foram bombardeados. O número de mortos ultrapassa centenas de milhares, em sua maioria civis, mulheres e crianças. Essa tragédia humanitária é denunciada como genocídio por organismos internacionais, por juristas e até por setores críticos dentro de Israel. A matança em Gaza não é apenas um drama regional: é um divisor moral do nosso tempo. Ela escancara a seletividade das potências ocidentais, que, ao apoiar Israel em nome da “segurança”, avalizam crimes de guerra diante dos olhos do mundo. O genocídio palestino é o que há de mais repugnante na política contemporânea.

Crise climática como acelerador de conflitos

Enquanto as guerras consomem recursos e vidas, a mudança climática se torna o pano de fundo de todas as crises. O clima não é mais um tema periférico, mas um multiplicador de ameaças. Secas prolongadas, enchentes devastadoras e falhas nas colheitas provocam deslocamentos em massa, alimentam tensões sociais e geram instabilidade política. O Sahel africano, o Oriente Médio e até partes da América Latina experimentam migrações forçadas em escala inédita.

Trump, negacionista climático confesso, desmontou regulações ambientais internas e abandonou qualquer pretensão de liderança em acordos globais. Isso abriu espaço para que China e União Europeia disputem a dianteira na transição energética, ainda que com contradições evidentes. De um lado, ambos anunciam investimentos em tecnologias verdes; de outro, a competição por minerais críticos como lítio, cobalto e cobre acirra conflitos no Sul Global, transformando a transição climática em mais uma fonte de tensões.

A crise climática, portanto, não é apenas ambiental. É geopolítica e humanitária. Sem enfrentamento coordenado, ela se tornará o estopim de guerras pela água, pela terra fértil e pelos recursos naturais.

A revolução da segurança nacional: IA e Cyber Guerra

O quarto eixo do cenário internacional é a corrida tecnológica. A guerra do século XXI também se trava no campo digital. Ciberataques a hospitais, bancos e redes elétricas já não são exceção. Estados como Rússia, Coreia do Norte e Irã são acusados de patrocinar operações contra países ocidentais, enquanto grupos hacktivistas e mercenários digitais proliferam.

A Inteligência Artificial é o novo “ouro negro” da geopolítica. Quem dominar a IA dominará o futuro econômico e militar. EUA e China investem bilhões em sistemas de defesa autônomos, drones armados com algoritmos, softwares de vigilância e armas cibernéticas. É a militarização da IA em escala global, ainda sem regulamentação e sem limites éticos. Essa corrida tecnológica abre um dilema: ou o mundo define regras mínimas, ou a próxima guerra poderá ser travada por máquinas fora de controle humano.

A fragmentação do poder global: multipolaridade ou caos?

O quinto eixo: a fragmentação. O mundo já não é unipolar, como no auge da hegemonia norte-americana nos anos 1990, nem bipolar, como na Guerra Fria. Vivemos uma multipolaridade difusa, marcada por disputas e alianças instáveis. EUA, China, Rússia, Índia e União Europeia compõem os polos principais, mas sua interação é caótica, marcada mais por rivalidades do que por coordenação.

Países intermediários como Turquia, México, África do Sul e Vietnã atuam como conectores entre blocos de poder, mas essa posição frágil os torna alvos constantes de pressões e retaliações. Na Europa, partidos de extrema direita como o AfD, na Alemanha, a Liga, na Itália, e o Reagrupamento Nacional, na França, crescem sob a retórica anti-imigração e eurocética, ameaçando a coesão do bloco europeu.

A fragmentação, portanto, pode significar tanto a construção de uma ordem multipolar mais democrática, quanto o caos de uma governança impossível.

O avanço global da extrema direita

Por fim, o sexto eixo, o avanço da extrema direita. Enquanto guerras e crises climáticas dominam as manchetes, há um fenômeno subterrâneo — mas cada vez mais visível — moldando a política global: o fortalecimento da extrema direita. A narrativa do “nacionalismo soberanista” encontra terreno fértil na insegurança econômica, no medo da imigração e na disseminação de teorias conspiratórias. Nos EUA, o trumpismo reorganizou o Partido Republicano e se tornou força dominante, irradiando seu estilo de governar para além das fronteiras.

Na Europa, partidos ultraconservadores ganham espaço em países como Itália, Hungria, França e Alemanha, transformando minorias em bodes expiatórios e corroendo instituições democráticas. Israel, sob Netanyahu, leva esse extremismo ao limite ao promover uma ofensiva genocida contra Gaza com respaldo tácito de aliados. Na América Latina, lideranças herdeiras de regimes autoritários tentam reocupar espaço, apostando no ressentimento e na polarização permanente – Jair Bolsonaro, no Brasil, e Javier Milei, na Argentina são exemplos.

Essa marcha da extrema direita não é apenas política: é cultural e midiática, sustentada por redes digitais de desinformação e por uma aliança estreita entre elites econômicas e militares. A ameaça, portanto, não é episódica, mas estrutural — e redefine o tabuleiro democrático global.

Um mundo em colapso cooperativo

O que vemos em 2025 é uma ordem internacional à beira de colapso cooperativo. Instituições como Organização das Nações Unidas (ONU), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Organização Mundial do Comércio (OMC) perderam legitimidade e capacidade de resposta. Potências rivais preferem a ação unilateral a qualquer tentativa de solução compartilhada.

Ainda assim, há espaço para resistência e ação estratégica. Governos e sociedades precisam investir em resiliência climática, em cadeias produtivas mais diversificadas e em cibersegurança. Precisam também defender os princípios mínimos de direitos humanos diante de horrores como Gaza, sob pena de que a barbárie se torne a nova norma.

O mundo de 2025 não é lugar para otimismo ingênuo. É tempo de preparação, resistência e, sobretudo, coragem moral. Sem ela, a fragmentação global nos arrastará não para uma nova ordem, mas para um deserto de violência e desesperança.

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Os artigos representam a opinião dos autores e não necessariamente do Conselho Editorial do Terapia Política. 

Ilustração: Mihai Cauli  
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