Ah, Joca! Joca, Joca! Você fez de novo! Estragou tudo. Acabou com a alegria da ceia de Natal. Eu falei, Joca, para você parar de beber, mas você me escuta? Aliás, será que você escuta alguém que não seja completamente idiota ou algum espertalhão que se dá bem em cima de gente idiota feito você, Joca?

Não, não me venha com essa de culpar a bebida. Você, bêbado, não vira outro. É o mesmo Joca de sempre, só que mais Joca ainda. Você nem tinha bebido muito quando quebrou o presente de Natal do seu sobrinho só porque era redondo e, como você diz sempre, a Terra é plana e essa coisa de dizer que ela é redonda é coisa de comunista. O menino chorou, Joca. Que tipo de idiota perverso é você que faz criança chorar no Natal por causa de política, Joca? Se bem que esse negócio de Terra plana nem é bem política, é só burrice mesmo.

Por que você não consegue ser só um bêbado inconveniente que nem todos os outros bêbados inconvenientes, Joca? Por que você não fica só falando palavrão e vomitando onde não deve? Por que você precisa brigar com todo mundo, Joca? Ver inimigos por toda parte? Por quê? Olha, maldito o dia em que eu te tirei daquele acampamento de “patriotas” em Brasília. Deveria ter te deixado lá para ser preso do mesmo jeito que seus amigos de WhatsApp.

Você sempre estraga tudo, Joca. Precisava quebrar o aparelho de som do seu irmão só porque tocou uma música do Caetano? Precisava rasgar aquele quadro da sua cunhada só porque tinha uma mulher negra pintada e tudo que tem gente preta você diz que é coisa do demônio?

Aliás, essa sua outra mania de ver demônio em tudo quanto é canto é um saco! Já deu para encher a paciência de todo mundo. Falou mal do deputado ladrão que você segue no Instagram, está possuído pelo demônio. Tocou samba, está chamando o demônio.

E você piorou muito depois que se meteu nesse negócio de subir montanha para rezar e encontrar sua masculinidade. Joca, sua masculinidade é tóxica. Já estava aí, na sua cara. Nem precisava procurar. Agora, o que você achou é essa nova fantasia de se achar guerreiro de Jesus. Guerreiro, Joca! Logo você? Olha, Joca, se Jesus fosse montar um exército não chamaria você. Aliás, esqueceu que nem o exército de verdade te quis por causa do seu pé chato? Ah, Joca, antes só seu pé fosse chato!

Joca, olhe bem pra mim, Joca. Você estragou a festa de Natal. Estragou seu casamento tratando sua mulher como empregada. Estragou a relação com seus filhos querendo fazer deles Jocas que nem você. Aliás, ainda bem que você fracassou nisso também! Você estragou suas finanças tratando aposta como se fosse investimento. Eu te disse que isso era burrice, mas você me escuta, Joca? Claro que não! Mas escuta e confia na moça peituda do Instagram que disse que ficou rica apostando, né?

Você já estragou muita coisa, Joca. Mas vê se te manca. Vem ano novo. Tem eleição, Joca. Olha lá o que você vai fazer, Joca! Não me vá tentar estragar o país de novo, Joca! Se você não consegue deixar essas suas abilolices de lado, então, pelo menos nesse ano, contenha sua estupidez só à sua vida.

A vida é sua, Joca, para estragar como quiser, mas não me venha querer ferrar com o país entregando o Estado para gente entre a delinquência e a demência.

Vê se te toca, Joca. Arrume alguma noção das coisas.

Ah! E seu irmão pediu para eu te dizer que você está desconvidado para o Natal do ano que vem.

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Ilustração: Mihai Cauli
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