
Nunca! Mas nunca mesmo! Em hipótese alguma vá à cozinha do seu restaurante favorito! Dizia o amigo e cozinheiro de mão cheia. Alertava para o desencanto que a cozinha provoca. É quente, tem gritaria, mau-humor, restos de alimentos, frango decapitado a seca machadada. Melhor o encanto do prato servido ao som de violinos no salão do que o desencanto das entranhas da cozinha. Acho que o conselho vale também para reuniões ministeriais.
Não me lembro qual o filme em que o sujeito fala do grande plano que executará. Coisa de CIA. O interlocutor pergunta: quantos tem na equipe? Eu e mais dois, diz; seguido por um silêncio cômico. Nosso olhar para governos, repartições e tantas outras coisas grandiosas é profundamente encantado. Fazemos delas muito mais do que são. Isso não é ruim. Precisamos do encanto. É ele que faz da carne com batatas fritas um PF ou experiência gourmet. É ele também que faz de governos algo crível ou apenas um bando patético.
Nosso encantamento nos faz dedicar respeito mesmo a um ministro que demonstre menos conhecimento e traquejo com o tema que freira em sex shop. Não o vemos como um indivíduo, mas como um órgão. Suas ações não nos são – ou não deveriam ser – apenas o resultado do que lhe dá na telha, mas conclusões a partir de relatórios, pareceres, tabelas e gráficos em pizza. Saberes produzidos por gente estudada e experiente. Concursada e sacramentada no assunto. Não é o Diário Oficial, mas nosso encantamento que faz do beócio, ministro.
Descobri que, ao contrário do que pode acontecer numa cozinha, em reuniões ministeriais o que desencanta não é o que se encontra por lá, mas o que não se encontra. Não havia relatórios, gráficos em pizza, nem falas que parecessem ter saído de mente cutucada por algum dado. Tudo parecia improviso e “eu acho que”.
Não parecia sequer um governo. Não digo isso por causa da ideia que tenho de governo, mas da ideia de UM governo. Não havia unidade. Presidente aos palavrões enquadrando ministros. Ministro diz A, outro diz o contrário de A. Presidente não conclui nada do tema. Solta um palavrão e alerta para conspirações que ameaçam as hemorroidas. Não havia um diálogo, mas sobreposição de monólogos. Um bando.
Muito se falou dos palavrões. Coisa chula. Indecorosa. Eu não ligo muito pra isso. Acho mais indecoroso que uma pandemia que já levou mais de 20 mil brasileiros à cova não seja um tema da reunião. Não era sequer um problema. Era uma oportunidade.
Lembrei daquela frase de autoajuda empresarial: enquanto alguns choram, o empreendedor vende lenços. Isso não é exemplo de empreendedorismo, mas de indiferença. Só um celerado moral pensaria em como lucrar diante da tragédia alheia. Gente decente, age para salvar da dor. Se não puder, consola. Se não sabe como consolar, respeita. Na reunião ministerial não havia nada. Nenhuma preocupação com as mortes, nenhuma ação, nenhum consolo, nenhum respeito.
“Putaqueopariu” nenhum é mais indecoroso que a indiferença.






