
“Em algum remoto recanto do universo, que se deságua fulgurantemente em inúmeros sistemas solares, havia uma vez um astro, no qual animais astuciosos criaram o conhecimento. Foi o minuto mais audacioso e hipócrita da “história universal”: mas, no fim das contas, foi apenas um minuto.”
Com estas palavras, duras e leves, Nietzsche iniciava em 1873 um pequeno texto chamado: Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral. Uma crítica à arrogância humana que, diante do universo infinito, “se acha”. Cutucada Nietzscheana em nossas feridas narcísicas.
Arrogância e outros tantos sentimentos dão forma e deformam o conhecimento. Somos passionais patéticos que costuram razõezinhas em umas tantas paixões e chamamos de pensamento esta colcha de retalhos mal cortados. A crítica vale para todos. Eu, você, Nietzsche, ninguém escapa! Entendida a crítica, podemos nos esforçar por sermos melhores.
Certamente alguns agem como se a crítica fosse conselho. Unem as razões mais toscas aos sentimentos mais baixos e sem vergonha alguma zurram suas ideias de peito inflado. Falam com o orgulho intelectual e a convicção inabalável típica dos que não fazem ideia do que falam.
Abraham Weintraub era um destes homens. Grandioso e garboso, transformou a inépcia orgulhosa em política de Estado. Fácil de implementar. Basta lá estando, nada fazer.
Lá esteve, de abril de 2019 a junho de 2020. Lá nada fez. Antes disso, pouco dele se sabia. Grande feito, apenas a falência de um banco. Como tempo lhe sobrava, encontrou nas redes sociais ambiente fértil para fertilizá-lo ainda mais.
Dançou em sua estreia, demonstrando admirável desenvoltura para a prática desavergonhada de atos vergonhosos. Twittou agredindo a língua portuguesa, a verdade e a inteligência alheia. Agrediu seguidores, ministros do STF e deputados, dentre outros tantos. De vocabulário restrito, abusou do termo “vagabundo”. Em momentos machistas, expelia ofensas ricas como: “égua sarnenta e desdentada da sua mãe”.
Ocupar-se pouco da educação foi seu mérito. Sem nada a expressar além de ofensas, ignorâncias e má fé, foi excluído do debate público sobre educação. Nenhum de seus projetos prosperou.
Desumano exemplar, ensino para ele deveria ser sem humanidades. Na contramão do futuro, tentou contribuir para a formação de profissionais ensimesmados em suas áreas. Sem conhecimentos transdisciplinares. Preparados para empregos que não mais existirão.
Em meio à crise sanitária e econômica, mostrou-se útil para o agravamento das duas. Despido de máscara e bom senso, reuniu-se a manifestantes antidemocracia. Com seu vácuo de ações e ideias ofuscado pela pandemia, criou constrangimentos diplomáticos com a China.
Antes do ministério, desconhecido. Histriônico, tornou-se conhecido e visível por absurdos, agressões e fracassos. Agora nos deixa. Leva um abraço. Sai da vida pública para entrar para a história. Animará páginas de futuros livros, que para refrescar a leitura de passagens tenebrosas, historiadores citarão uma ou outra patetice. Isso, se no futuro ainda tivermos quem consiga escrever livros.






