De todos os afetados pela pandemia do coronavírus, o segmento etário a partir de 60 anos é o que mais tem sido castigado no Brasil. Embora não seja uma especificidade nacional, convém lançar luz sobre o processo de envelhecimento populacional, pois permite conectar o passado e o presente com o futuro.
Isso porque ao se confirmarem as projeções demográficas, o Brasil poderá contar daqui três décadas com quase 70 milhões de habitantes na faixa etária de 60 anos e mais. Com uma população estimada em 233 milhões para o ano de 2050, 22 milhões a mais do existente atualmente, somente o segmento etário de 60 anos e mais poderá corresponder a um idoso a cada grupo de três pessoas.
Nos dias de hoje já há alguém na situação de sexagenário e acima posicionado a cada grupo de seis brasileiros, cuja importância na sustentação da renda familiar e nas atividades econômicas locais tem sido cada vez mais inegável. Se considerar a totalidade das famílias no país, por exemplo, percebe-se que quase 30% delas são atualmente chefiadas pelo rendimento maior de um ou mais idosos.
Tratados no passado por alguns como estorvo ou fardo para as famílias, dado o grau de dependência financeira, os idosos passaram a assumir cada vez mais a centralidade na sustentação da renda. Em 1970, somente uma família a cada dez detinha algum idoso na condição de chefia domiciliar numa economia em plena industrialização e ainda com forte presença da população rural.
Meio século depois, com a desindustrialização avançada e a menor parcela dos habitantes no campo, os arranjos familiares tornaram-se cada vez mais dependentes dos idosos. Assim como a própria dinâmica do consumo nacional e a dinâmica local dos municípios brasileiros passaram a se subordinar aos proventos do segmento de 60 anos e mais.
Do total da renda recebida pelas famílias brasileiras, 1/5 deriva do conjunto de aposentadorias e pensões recebidas atualmente por 31 milhões de beneficiários que representam quase 16% da população nacional. Em 1981, por exemplo, as aposentadorias e pensões representavam um pouco mais de 9% da renda das famílias do país que contava com 7,2 milhões de pessoas a responder por 6,1% do total da população.
Além da renda dos idosos ter se tornado crescentemente importante na sobrevivência das famílias, o conjunto das aposentadorias e pensões assumiu maior determinação na vida econômica de cerca de 4/5 das cidades brasileiras. Isso porque o recebimento dos pagamentos previdenciários compreende uma quantidade de recursos que supera o que chega às prefeituras através do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), responsável pela repartição das receitas tributárias no país.
Os idosos, assim como o conjunto dos brasileiros, encontram-se expostos às desigualdades que marcam a nação. Enquanto 15% deles fazem parte dos 10% mais ricos do país, também há outros 15% na faixa de 60 anos e mais situados entre os 40% mais pobres do país.
Mas a maior parcela, que compreende 60% dos idosos, situa-se do 5º ao 9º decil da distribuição da renda nacional. Sabe-se também, que 15% dos idosos ainda são analfabetos, enquanto 53% não têm acesso ao uso de internet e 70% não dispõem de TV por assinatura.
Por outro lado, 83% dos idosos residem em casa própria com praticamente todas contendo acesso à televisão aberta. No ano de 2018, por exemplo, a faixa etária de 60 anos e mais era constituída por 27,3 milhões de eleitores (19,6% do total) que superou em quase 5 milhões o contingente de 22,4 milhões de eleitores com 16 a 23 anos de idade (15,3% do total).
Por conta disso, as eleições municipais de 2020 deverão trazer o tema dos idosos, por ser relevante em si e por ser o segmento etário mais atingido negativamente pela pandemia do coronavírus. Certamente a temática da reforma previdenciária aprovada pelos parlamentares em 2019 não será esquecida, uma vez que toda a vez que o país perde um aposentado, o vazio do rendimento termina rebaixando, em geral, a posição da família para a condição de pobreza.