Não havia camisa que combinasse com aquela gravata xadrez de cores tão vibrantes. O assessor insistia – Gravata! É preciso passar uma imagem de seriedade e elegância!

O candidato nunca foi elegante. Desengonçado nos gestos. Desarmônico nas formas. Feio mesmo. De mau gosto em quase tudo. Nada nele lembra seriedade. É esquivo. Irresponsável. Tem o olhar vazio, de olhos inconstantes que dificilmente encaram. Olhos que não denunciam a existência de um espírito pensante e sensível por detrás.

Sem opinião própria. Sem carisma. Sem alma. Apenas um corpo desengonçado nos movimentos e barulhento nas falas. – O candidato perfeito! – Pensou Sandro, marqueteiro experiente na criação de propagandas de supermercado.

Empolgou-se pelo desafio de elegê-lo vereador. Seria seu bicho de estimação profissional. Corpo vazio no qual poderia facilmente colocar algum conteúdo. Ditar-lhe as palavras. Moldar-lhe os gestos, como os de uma marionete. Seu case de sucesso, que lhe garantiria acesso a um novo nicho de mercado.

Na primeira sessão de fotos, o desafio mostrou sua grandeza. Iluminação nenhuma compensavam o grotesco das imagens. Tudo parecia forçado, porque era forçado. O candidato era péssima marionete. Não havia como mudar a posição de um braço sem fazer uma careta ou inclinar a cabeça sem dar um passo pro lado. Fora aquela gravata horrível!

Nas ruas, outro problema. Falava muito. Frases feitas entrecortadas por palavras difíceis e sem nexo. Não havia diálogo com eleitores. Não deixava falar. Não ouvia. Falava e pronto! Havia o sorriso torto que não lhe deixava a boca. Fixo. Estático. Sorriso que não sorri, mas que amenizava o desconforto de estar ali, cara a cara.

Sandro apelou para imagens manipuladas e textos lidos por ator de voz grave e suave. Discursos que cabem em qualquer gosto. Contra tudo isso que está aí. A favor de mais saúde, segurança e educação. Sem dizer o quê ou o como sobre nada.

Nas ruas, corria. Cercado de gente paga para criar aglomeração e impedir a aproximação de qualquer eleitor. Por sorte, tinha boa disposição física. Moças jovens e rapazes musculosos, mal pagos e com roupas insinuantes, distribuíam sedutoramente papeizinhos com a cara e o número do candidato.

Deu certo. Eleito e bem votado. Derrotou outros mais inteligentes, preparados e honestos que ele. Um sucesso! Mérito óbvio de Sandro.

Cumpriu o mandato sem fazer nada de relevante. Sem nem ao menos se tornar conhecido na cidade. Vez ou outra, criava alguma dificuldade só para negociar um ou outro cargo público para um cabo eleitoral qualquer e embolsar metade do salário do contratado, que nem precisava trabalhar de verdade.

Procurou Sandro novamente. Quer ser prefeito e fazer tudo de bom pelo povo que diz ser seu e que não o conhece. Tudo que não pôde fazer como vereador. Tudo que nem tentou.

Mas Sandro não topou. Já acertou com outro candidato. Outro mais sem carisma. Mais desengonçado. Mais despreparado. Mais irresponsável. Porém, mais vaidoso. Mais rico. Mais pilantra. E dono de gravatas de fina elegância.