Em vários textos publicados aqui no blog Terapia Política, tenho escrito sobre a importância do jornalismo em qualquer sociedade.

O fim da Idade Média, o início do Renascimento, da era moderna, decorre de uma série de invenções revolucionárias: a prensa, o astrolábio, a bússola, o quadrante, o arcabuz, dentre muitas outras inovações que possibilitaram as grandes navegações. Neste período, surgiu, também, a imprensa e o romance.

A imprensa, primeiro restrita ao jornal, mais tarde ampliada pelo rádio, depois à televisão e mais recentemente pela internet tem, todos sabemos, importância vital numa sociedade, que será tão mais democrática, quanto mais imparcial e isento tal sistema de informação for.

Sabemos que numa sociedade capitalista, em que uma elite proprietária defende seus interesses, a opinião pública é escandalosamente manipulada pela oligarquia. Temos hoje grandes oligopólios midiáticos globais. No Brasil a chamada “grande imprensa” é um caso de polícia. Meia dúzia de famílias mafiosas mantém um sistema nacional de informações manipulado, que falseia dados, fabrica versões, tudo na “sagrada” missão de defender os interesses dos patrões. As grandes redes nacionais de rádio e televisão detêm mais de 70% da audiência do país.

A missão do jornalista de bem informar, de ter um atento olhar crítico é desvirtuada. Grande parte dos nossos profissionais é mera “pena de aluguel”; vende sua força de trabalho para defender com unhas e dentes os interesses patronais. Nenhum amor à verdade, uma grande paixão pelo salário.

Há alguns dias a Folha de S. Paulo deu mais um escandaloso exemplo disso ao publicar um artigo de Samuel Pessoa com o título: “Gaúchos dizem não ao populismo”, um ataque aos governos de Olívio Dutra (1999/2002) e Tarso Genro (2011/2014) e uma bisonha exaltação a Eduardo Leite. Uma jogada ensaiada, prevista, episódio de uma crônica anunciada. Fato que comprova que as grandes lideranças do PSDB nacional de São Paulo e Minas, junto com a grande mídia, trabalham de forma afinada na defesa dos seus interesses neoliberais.

Como sabemos, há algumas semanas o governador Eduardo Leite foi convidado pela turma do FHC/Aécio para ser pré-candidato do PSDB à presidência da República. Uma necessária resposta de FHC e Aécio ao crescimento de Dória no partido. Problema: Leite, uma “cara nova” – só na aparência, na verdade velha, muito velha! – de curta biografia política, teria que ter sua imagem nacional ampliada. Era previsível que o velho PSDB iria encarregar a grande mídia desta tarefa. E o trabalho já começou: começam a pipocar notícias do Leite em redes nacionais de televisão.

Eduardo Leite é mais um dentre os ultraliberais que há décadas, no Rio Grande do Sul, no Brasil e no exterior defendem com unhas e dentes os interesses empresariais. No Brasil há mais de três décadas são liderados pela sinistra figura de um FHC, acompanhado por outros dois personagens ainda piores: José Serra e Aécio Neves. Estes lesa-pátria, entreguistas de carteirinha, vêm, há décadas, vendendo o patrimônio nacional ao capital privado, especialmente o estrangeiro, a preço de banana. FHC deveria ter sido cassado e preso. Seu ciclo de privatizações – Vale, Telebras e Banespa, dentre muitas outras – lesou o país em centenas de bilhões de reais. As irregularidades cometidas foram investigadas e tornadas públicas no livro “A privataria tucana”, de Amaury Ribeiro Jr. O livro foi solenemente ignorado pela grande mídia, silêncio total.

FHC foi além. Junto com Gustavo Franco, à época presidente do Banco Central (BC), patrocinou uma nova maracutaia, uma outra operação obscura. O BC, inexplicavelmente, autorizou através das famosas contas CC-5 a remessa, sem qualquer controle, de centenas de bilhões de dólares para contas no exterior. A maior lavagem de dinheiro da história do país. O episódio deveria ter sido investigado na denominada “operação Banestado”, objeto de uma CPI – rapidamente arquivada. Varreram tudo para debaixo do tapete. Além disso, Serra foi flagrado com a boca na botija, negociando propinas para entregar o pré-sal para a Exxon. Aécio foi gravado em vídeo veiculado em várias redes de televisão recebendo propina e ameaçando de morte um possível delator. Tornados públicos seus crimes, deveriam estar presos, mas estão aí livres, leves, soltos porque têm a proteção da grande mídia, do judiciário e maioria de votos nas casas legislativas.

Eduardo Leite faz parte de uma longa lista de políticos gaúchos – Antônio Brito, Yeda Crusius, Germano Rigotto, José Fogaça, José Fortunati, Nelson Marchezan Jr, Sebastião Melo, dentre outros -, que embora filiados a vários partidos, são na verdade “crias” de um partido maior, a RBS – Rede Brasil Sul de Comunicações, o verdadeiro braço forte da direita gaúcha.

Fazer a boa gestão pública não é importante para eles. Não têm interesse em assegurar a boa prestação de serviços à população, especialmente para os mais pobres: garantir uma escola de qualidade, boas redes de serviços de saúde e assistência social. Ocupam os cargos públicos para facilitar negócios, para entregar o patrimônio público para o setor privado. Foi este o caso da recente privatização da CEEE – D (Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica). Eduardo Leite conduziu o processo de forma atropelada e, por isso, por duas vezes liminares suspenderam sua tramitação. Para viabilizar o leilão o Estado perdoou uma dívida de R$ 2,8 bilhões de ICMS da empresa, o que causou uma perda de receita no montante de R$ 700 milhões para os municípios gaúchos.

Tudo que vai acontecer no futuro a gente já sabe: teremos tarifas mais caras – sem subsídios, será o discurso oficial -, fim da tarifa social e da possibilidade dos mais pobres pagarem menos ou de terem isenção.

Mas preparem-se. Como, infelizmente, ainda teremos pelo menos mais 20 meses de governo Leite, já foi escolhido um novo alvo, a joia da coroa, a Corsan – Companhia Riograndense de Saneamento. Enquanto o neoliberalismo recua na Europa, aqui as aves de rapina não desistem, ávidas de lucros. Na contramão, insistem na privatização, pois têm que cumprir o seu papel: viabilizar negócios lucrativos para seus parceiros privados.

Na Prefeitura de Porto Alegre, Sebastião Melo insiste em privatizar o DMAE, uma autarquia que abastece 100% da cidade com água barata de boa qualidade, que tem boa capacidade de investimento e que registra resultados financeiros superavitários. Recentemente o DMAE implementou um grande programa, o SocioAmbiental, que investiu mais de R$ 1 bilhão no saneamento da capital. Por que privatizar?

Nos países desenvolvidos, especialmente na Europa, dezenas de países e as principais cidades estão reestatizando seus serviços essenciais: a produção e distribuição de energia elétrica, o abastecimento d’água e o saneamento. E a razão é simples, singela: a privatização não deu certo.

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