Ainda não nos conhecemos, apesar de já termos nos cumprimentado no curral do Alvorada. Meu nome é Doutor Fábio Dummkopf. O sobrenome é inventado, que nem o da Sara Winter. O verdadeiro é Silva, mas eu o escondo porque é sobrenome de petista.

Fiquei entristecido ao saber de sua última internação. Realmente, o caminho de quem quer livrar o Brasil do comunismo é pedregoso. Saiba que eu e outros patriotas de Deus estamos orando para que o senhor volte a defecar com alegria.

Sei que é um homem muito ocupado com tuítes, lives e motociatas. Vou direto ao assunto. Soube que talvez não seja fácil nomear seu amigo André Mendonça. Para que não fique sem mais uma voz no STF, estou, humildemente, me apresentando como alternativa.

Conheço os atributos que o senhor valoriza. Tenho carteira de motorista A e B e poderia participar de motociatas em defesa do fechamento do Congresso e do STF. Já me imagino em cima de uma CG 125 tremulando as bandeiras da Hungria e de Israel, como um bom patriota.

Sou terrivelmente evangélico. Sei orar e sou dizimista. A bem da verdade, vou bem além do dízimo, na esperança de Deus me devolver tudo em dobro. Virar ministro do STF compensaria com folga as doações e, sendo o senhor um ungido de Deus, penso que a nomeação poderia quitar a dívida em nome Dele.

Apesar de minha fé contrita, ainda não consegui uma arma. Jeremias, um miliciano aqui da comunidade e grande fã seu, me garantiu que, se for necessário, me empresta uma. Antes que eu me esqueça, Jeremias pediu que eu lhe mandasse um salve, então, salve!

Os militares do seu exército, que com certeza providenciarão um dossiê a meu respeito, descobrirão que não estou frequentando uma igreja no momento, mas não é por culpa minha. Mudou o pastor de onde eu frequentava. Agora, fala-se de amor, tolerância, respeito e outras coisas gays. Não deu mais para mim. Mas amanhã mesmo vou visitar outra. Ouvi dizer que o pastor de lá celebrou um culto para expulsar o demônio dos seus intestinos. Acho que vou gostar.

Garanto que tenho notório saber jurídico, apesar de achar que isso já não é mais necessário. E mais do que sábio, sou criativo.

Também estou disposto a lhe doar parte do salário. Até o limite de 80% porque 10 seriam para o dízimo e o restante eu precisaria para sobreviver em Brasília. Como tenho uma Belina 89 a álcool, posso abrir mão também do vale transporte, mas gostaria de ficar com o vale refeição, se o Senhor não se importar, é claro.

E, se a grana ficar curta, eu poderia cobrar uma rachadinha de quem eu nomeasse. Seria de pouca gente, porque pensei em deixar algumas vagas para montar um gabinete paralelo com quem o senhor indicasse. Talvez um de seus filhos topasse comandá-lo, que tal?

Mas também tenho meus defeitos. Enxergo pouco. Para se ter uma ideia, eu não vejo general ameaçar o STF e o Congresso. Também não vejo presidente cometendo prevaricação ou crime de responsabilidade. Não vejo corrupção. Não consigo enxergar nem genocídio! Meus amigos sacanas me chamam de Mister Magaras. Mistura de Magoo com Aras – confesso que não sei o que o Augusto Aras tem a ver com isso.
Sei que o Brasil está à beira do abismo. Mas com sua inteligência e minha lealdade conseguiremos dar uma volta de 360 graus e avançar. Tudo posso naquele que me fortalece! Então fortalece aí, vai?

Abraço macho do seu – quiçá! – ministro.

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