Muitos perguntam sobre o sentido da vida, buscam livros atrás de respostas, de caminhos. O sentido da vida se constrói e é essa construção que diminui o vazio de sentido, vazio que revela o estado de tédio, melancolia. O vazio é um estado passivo, tristonho, já a construção de sentido é o oposto, é a coragem, o entusiasmo de viver.
A criança quando nasce é um antigo futuro sujeito, antigo porque cada um de seus pais tem já histórias que envolvem também os antepassados. Já o futuro da criança está por ser vivido, construído, a partir do nome próprio, no qual estão presentes os desejos inconscientes dos progenitores. Portanto, o bebê já nasce dividido, pois seu nome é posto por outros que não ele. Sua vida é totalmente dependente, não há assim o indivíduo – o não dividido – mas sim, um sujeito marcado pela divisão, convive o bebê entre a alienação e a separação.
Importante é que uma criança tenha uma base na qual se apoiar a partir de relações suficientemente boas, que o amparem diante do desamparo.
Viver é aprender, a vida é incerteza, e a gente está sempre aprendendo, pobres são os que pensam saber de tudo. A construção de sentido são aventuras, odisseias que acompanham a cada um do nascimento à morte. Quantas vitórias e derrotas, ilusões e desilusões, sucessos e fracassos são os labirintos surpreendentes, onde se entra num, sai e já se está em outro? Ocorrem tristezas, depressões, um vazio de sentido é vivido, tudo perde a cor, o sabor e a dor toma conta do ser. Uma desconstrução, um pânico de não ser nada ou quase nada, uma perda de norte, de rumo, a gente se assusta.
Já construir um sentido de vida próprio é um caminho de incertezas, um caminho no qual as parcerias são essenciais. A construção do sentido de vida depende das parcerias, da força da fraternidade, dos mestres inesquecíveis. Quem recorda, quem agradece, quem vive hoje a potência de estar bem acompanhado sabe o que é ser entusiasmado.
Construção é compartilhar, sejam vivências, artes, ciências, amores, pois compartilhar é abraçar e assim, matamos um pouco o desejo de abraçar. Um dos obstáculos na construção é a compulsão à repetição, a necessidade de castigo através do masoquismo moral.
O pintor judeu da Bielorrússia Marc Chagall, o mago das cores, escreveu: “Há só uma cor que dá sentido à vida e à arte: a cor do amor”. A cor do amor é ampla, pois o amor vai desde o amor familiar, passa pelo amor aos amigos, amor aos livros, à natureza, amor ao povo, amor ao mundo. O que é mesmo o amor? Amar é mudar a alma de casa, escreveu o poeta, aprender essas mudanças, aprender o quanto são essenciais, entusiasmam, são o sentido da vida, são o melhor da vida.
No Cântico dos Cânticos está escrito que o amor é forte como a morte. Já Macedônio Fernandez, o mestre de Jorge Luís Borges, escreveu que a morte vence a vida, mas o amor vence a morte. Os artistas cantam o amor, a cor do amor, o amor à vida, o amor ao mundo. O amor também se aprende, sejamos aprendizes.
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Ilustração: Mihai Cauli
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