Na visão da ortodoxia econômica, a economia é um campo de conhecimento descolado dos dilemas da sociedade, da natureza e dos seres humanos. Estes últimos seriam sujeitos inconvenientes que volta e meia sofrem as externalidades que turvam a pureza da economia. Por este caminho, há pouco ou nada a entender ou dialogar fora do espaço moldado e pré-moldado pelas lógicas de mercado. Atenção: não se trata de negar a validade das tais lógicas e sim de considerar que elas não são e nem podem ser o centro ou vetor das dinâmicas da vida social (e biológica também!). Isso quer dizer que a economia é de mercado, mas a sociedade não. Quer dizer também que a economia é “impura” no sentido de ser condicionada exatamente pela sociedade, a natureza e os seres humanos que, numa visão ortodoxa, são uma espécie de pasto predatório. O problema é que, sem travas, pode se desenrolar uma lógica suicida. Mas é difícil reconhecer a infertilidade dessa suposta centralidade do mercado, como terá sido difícil há alguns séculos reconhecer que a Terra talvez não fosse o centro do universo. O artigo da professora Marcato é uma bela reflexão a respeito da pandemia e a permanência do Mainstream depois que passar a tempestade.
* Professora do Instituto de Economia da UFRJ.
Link de referência: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2020/05/a-economia-mainstream-sobrevivera-a-pandemia.shtml (FSP de 19/05/2020)