O processo recente, capitalizado pelo atual presidente da República, Jair Bolsonaro, fez com que, apesar da pandemia e seus efeitos sobre o país, se acelerasse a discussão eleitoral de 2022.

Aparentemente interessa ao chefe do Executivo federal não apenas acelerar esse movimento político, construindo uma forte polarização, como com isso tirar o foco político de uma discussão centrada na pandemia, que lhe tem até o momento desgastado inexoravelmente. Se esta for colocada no centro do debate, pode inclusive encurtar o seu mandato, tamanha a quantidade de barbaridades e falcatruas que vieram à tona no debate político desde que a pandemia se instalou no país, mas especialmente nos últimos meses com o funcionamento da CPI sobre o tema no Senado Federal.

Entretanto, uma das grandes incógnitas neste momento em que estão se acelerando as discussões e antecipando a campanha eleitoral, diz respeito a qual será o efeito da economia neste processo. O ponto fundamental é: o que acontecerá nos próximos dois semestres (o segundo de 2021 e o primeiro de 2022) que possa influir decisivamente nas leituras e narrativas a serem colocadas na mesa na disputa do ano que vem.

Partindo de um desempenho em 2019 (primeiro ano de seu governo) que não foi significativamente diferente dos dois últimos anos do Governo Michel Temer (ou seja, uma economia estagnada, rodando a uma taxa de crescimento do PIB em torno de 1%) e um 2020 que, pelos números do início do ano, significaria seguir na pasmaceira, mas que com a pandemia se transformou na maior recessão das últimas décadas, os olhos se voltam especialmente para o desempenho de 2021. Esse deve apresentar, para começar, um forte efeito de “carregamento”, já que a base de comparação será o “buraco” de 2020. Ou seja, uma economia estagnada em 2021 significaria um crescimento de 3% a 3,5%. Os otimistas do mercado financeiro apostam em 5% ou mais nesse momento, mas isso parece um discurso mais de propaganda política, de quem se identifica com a política de Paulo Guedes, atual ministro da Economia, do que qualquer outra coisa.

O fato é que seria um absoluto contrassenso se, adotando uma política fiscal contracionista (na qual os gastos efetivos do setor público, fora os financeiros, são absolutamente comprimidos), uma política monetária contracionista (depois de anos de baixa de taxas de juros, entramos em um processo cada vez mais acelerado de elevação das taxas de juros), uma política cambial que se tenta contracionista (ou seja, de tentar apreciar o real, a moeda nacional, visando estancar uma inflação de custos provocada pela desvalorização do real frente ao dólar estadunidense no período anterior), chegássemos a uma expansão econômica.

Além disso, os investimentos seguem andando de lado, e a renda, com salários e emprego em queda, seguem sem crescer. Independente do discurso oficial, os elementos de demanda trabalham contra, com a política econômica jogando na retranca e a renda não apresentando nada além do que se poderia prever em um quadro como esse. O desemprego deve seguir alto, em torno de 15%, e não se distanciará muito disso – se o fizer, será para pior.

Independente do discurso oficial, os elementos de demanda trabalham contra, com a política econômica jogando na retranca e a renda não apresentando nada além do que se poderia prever em um quadro como esse. O desemprego deve seguir alto, em torno de 15%, e não se distanciará muito disso – se o fizer, será para pior.

O setor externo, incensado pelo agronegócio e a mineração como o caminho virtuoso da recuperação, tem baixa capacidade de puxar uma economia grande como a brasileira. E, mesmo olhando atentamente para esse lado, as componentes estruturais da economia mundial apontam no sentido de uma cada vez maior preocupação ambiental, ou seja, é difícil prever um desempenho de longo prazo entusiasmante para um país produtor de commodities agrícolas, minerais e energéticas de forte efeito negativo sobre o meio ambiente, isso seria na contramão de toda a agenda internacional de discussões que têm sido colocada.

Pelo contrário, os efeitos nefastos de uma política doméstica agressiva ao meio ambiente têm sido sentidos, junto com uma pluviosidade que está longe de ajudar (e acaba sendo agravada pela destruição ambiental), por isso, a crise hídrica é cada vez mais explícita. Nesse momento, o que temos é o encarecimento dos custos da energia, o que por si só já seria complicado (em função de uma inflação que se acelerou nos últimos tempos), mas que pode resultar mais adiante em uma discussão sobre a utilização dos recursos hídricos das bacias, importantes não só para a produção de energia no país, como para a agricultura, a indústria e o consumo das populações urbanas. De novo, efeitos negativos sobre a produção, a médio e longo prazos.

Finalmente, temos a já citada inflação, que pela política de metas de inflação, embora não seja causada por aumento de demanda (como vimos, estamos em processo de saída de uma aguda recessão), leva a um aumento dos juros e à desaceleração da economia.

Ou seja, em um quadro estrutural como esse, é muito difícil pensar que o desempenho econômico possa servir para sustentar qualquer arroubo de otimismo de uma campanha oficialista. Melhor procurar muleta em outro lado.

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