Este artigo é um exercício, ou talvez fosse mais apropriado classificá-lo como uma brincadeira. Dele não deve ser extraída nenhuma conclusão. Ao contrário, ele pode gerar sentimentos de preocupação com as dificuldades que uma pessoa comum tem para absorver as transformações e identificar os impactos da Inteligência Artificial sobre a vida atual e das gerações futuras.

Inteligência Artificial, este é o tema do texto. Uma coisa é certa, e não é muito, ela veio para ficar, com suas vantagens e riscos. Separar os ganhos das perdas impõe compreender. Em outros termos, a Inteligência Artificial já faz parte do cotidiano de todos. Comprender melhor suas características é essencial, mesmo antes de uma visão mais holística de seus impactos no planeta e sobre quais limites não devem ser ultrapassados. Nesse processo, a maior parte da humanidade atua de forma passiva, como em outras transformações globais, nas quais o controle e a regulação social, quando ocorrem, chegam com atraso de anos.

Além de cientista, Albert Einstein também ficou conhecido por sua preocupação com os efeitos do avanço científico na sociedade, nos campos da ética e da moral. Durante toda a sua vida, alertou ser assustador o risco de que a tecnologia supere a humanidade. Ficou famosa uma frase atribuída a ele: “A ciência sem religião é coxa, a religião sem ciência é cega.”. Religião entendida como uma síntese de princípios de toda ética humanista. Hoje, parece óbvio que a tecnologia disponível está à frente da capacidade humana de controlar eticamente seu uso.

Aqui não se faz uma apologia da terra plana, que nega a inovação, é um chamado para lembrar a necessidade de avanços no campo da ética e da governança social para aperfeiçoar a capacidade de fazer juízo do progresso científico, especialmente do seu uso. Quantas vezes um fenômeno de impacto mundial como o da Inteligência Artificial já ocorreu na história? Não há resposta para esta pergunta.

Sem querer brincar com assuntos importantes, o propósito deste artigo é fazer um exercício muito simples. Hoje é Carnaval, e também o dia de um dos eventos mais importantes para o cinema – o Oscar. É ele, o Carnaval, quem concede a liberdade para brincarmos com a Inteligência Artificial e com a premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que pela primeira vez atinge uma boa parcela da população brasileira. Brincando, solicitei ao ChatGPT que respondesse as seguintes perguntas sobre cada um dos filmes:

O que você achou do filme? Quais são suas chances de ganhar o Oscar de melhor filme?

Para quem não quiser ler os comentários de cada um dos indicados, antecipa-se que a Inteligência Artificial, seguindo a corrrente, aponta dois favoritos para o prêmio de melhor filme: “Conclave” e “Amora”. Para compensar o leitor pela leitura, foram colocados ao lado dos títulos dos filmes links direcionados para o trailer de cada um dos indicados.

Seguem os resumos das respostas fornecidas pela Inteligência Artificial, em décimos de segundo. É importante ressaltar que, em geral, as opiniões vieram acompanhadas da fonte de onde foram extraídas as informações.

Emilia Pérez (13 indicações)

 IA: “Emilia Pérez” é um filme musical visualmente deslumbrante. No entanto, alguns críticos apontam falhas no roteiro e uma resolução que recorre a clichês de Hollywood. Apesar disso, o filme é considerado fascinante e difícil de ser ignorado.
Contudo, enfrentou controvérsias significativas. Críticas foram direcionadas à representação da protagonista trans e à visão caricatural da cultura mexicana. Além disso, declarações do diretor Jacques Audiard sobre o idioma espanhol geraram debates acalorados. Essas questões podem influenciar a percepção da Academia em relação ao filme.
Em relação às chances de “Emilia Pérez” vencer o Oscar de melhor filme, embora tenha liderado as indicações com 13 nomeações, as controvérsias mencionadas podem afetar negativamente suas probabilidades. Especialistas sugerem que o filme pode ser mais competitivo na categoria de Melhor Filme Internacional, onde enfrenta concorrência direta com “Ainda Estou Aqui”, produção brasileira que ganhou força recentemente.

 Wicked (10 indicações)

 IA: “Wicked” é uma adaptação cinematográfica do aclamado musical da Broadway, dirigida por Jon M. Chu.  O filme narra a história não contada das bruxas de Oz, explorando temas de amizade, preconceito e poder.
No Rotten Tomatoes, “Wicked” possui uma aprovação de 88% baseada em 378 avaliações, com uma nota média de 7,5, no Metacritic, o filme alcançou uma pontuação de 7,3 Apesar de seu sucesso, enfrenta forte concorrência e pode não ser o favorito para levar o prêmio principal.

 O Brutalista(10 indicações)

 IA: “O Brutalista” é um épico de 3 horas e 30 minutos dirigido por Brady Corbet, que explora a vida de um arquiteto visionário e suas ambições. A crítica especializada apresenta opiniões mistas sobre a obra. Alguns elogiam, outros apontam falhas em suas escolhas narrativas e na execução de sua proposta estética. Em relação às chances de “O Brutalista” vencer o Oscar de Melhor Filme, embora seja um dos principais concorrentes, a disputa permanece acirrada. Outros filmes, como “Anora” e “Conclave”, também são considerados favoritos, tornando o resultado imprevisível.

 Um Completo Desconhecido (8)

IA: É uma cinebiografia dirigida por James Mangold que retrata os primeiros anos da carreira de Bob Dylan, no entanto, a recepção crítica ao filme como um todo foi mista. Aspectos técnicos foram bem avaliados, mas críticos apontaram que a narrativa não conseguiu aprofundar-se na complexidade da personalidade de Dylan. Em relação às chances de vencer, especialistas sugerem que é difícil.

 Conclave  (8)

Para animar um pouco mais esta conversa, pedi que o Mauro Abdon fizesse uma pequena avaliação do filme. Ele enviou o seguinte:

“Conclave tem ótimos atores, mas sofre de um problema recorrente nas produções de grande orçamento de Hollywood, especialmente nos últimos 30 anos: um roteiro fraco, até pueril, e uma direção burocrática, muitas vezes não por culpa do diretor em si, mas porque o sujeito já foi contratado para uma obra pronta e não pôde mexer em nada.
Lembram-se das últimas 30 produções que ganharam Oscar de melhor filme? Vejam no Google e pensem quantas realmente permaneceram como obras relevantes. Poucas, em minha opinião. E já foram mais. Com todas as críticas ao cinemão americano, dali já vieram ótimos filmes, cada vez mais raros.
Conclave é mais um filme trivial, com ótimos atores fazendo papéis que não exploram seus talentos, são personas binárias, pouco complexas, emocionalmente superficiais. Cada um fazendo seu papel. O cardeal bonzinho idealista, o cardeal progressista, o cardeal reacionário negro, pautando o problema do identitarismo despolitizado, o cardeal reacionário clássico, branco e europeu, ou europeizado. Esse último, então, meu Deus (perdão da blasfêmia aí, Criador), seria difícil criar personagem mais simplório. Pior do que os piores personagens maus das piores novelas da Globo. Aquele que é malvado 24 horas por dia, até dormindo ou tomando banho, onde tortura sabonetes. O sujeito parece saído do Concílio de Trento, de 1545, o da contrarreforma. Até Ratzinger soaria moderado perto dele.
Ah! Tem também a freira inteligente, politicamente afiada, que sabe agir nas brechas do sistema misógino, mas que sabe seus limites. Ou seja, igual a milhares de mulheres que dedicam suas vidas à milenar igreja católica.
E o final é desconcertante, ou melhor, quis dizer constrangedor, pela absoluta irrealidade. Um caso claro de quando a mensagem politicamente correta se torna mais importante do que a dramaturgia, do que o próprio filme. Como filme, Conclave é ruim. Como filme político, é pior ainda, escrito por alguém da quinta série, quando nossas mentes ainda são mais binárias e pouco afeitas à complexidade do mundo.”

No caso, pedi à Inteligência Artificial um comentário sobre a opinião do Mauro. Sua resposta foi a seguinte:

IA: A opinião é definitivamente mais crítica e negativa do que muitas análises feitas por especialistas no cinema. Muitos tendem a destacar pontos positivos, como as atuações e a atmosfera intensa criada pelo filme. O filme é geralmente elogiado pela sua abordagem do suspense e pela recriação da tensão política e religiosa que marca o processo de eleição papal. Existem algumas resenhas que mencionam o filme como um tanto previsível e com falhas de ritmo, mas poucas têm uma avaliação tão crítica em relação à construção dos personagens e ao que seria uma “mensagem politicamente correta” que toma precedência sobre a narrativa. A crítica de que os personagens são “binários” e carecem de complexidade, por exemplo, é um ponto mais incisivo, e em muitos casos, as resenhas falam de uma falta de profundidade de maneira mais suave ou mais focada nos aspectos de entretenimento e nos temas levantados pela trama, como a política dentro da Igreja Católica.

Em resumo, enquanto algumas das críticas, como a falta de complexidade dos personagens e uma mensagem política superficial podem ser compartilhadas por uma parte dos especialistas, a dureza da opinião e a acusação de que o filme é “ruim” tanto como obra de entretenimento quanto como análise política é certamente uma visão mais extrema do que a média das resenhas. Assim, sim, parece ser uma opinião mais dissidente em relação à maioria dos especialistas.

 Anora  (6)

IA: O filme oferece uma releitura moderna do conto da Cinderela, abordando temas como desigualdade social e relações transacionais. O filme foi amplamente aclamado pela crítica, destacando-se por sua narrativa envolvente e após vencer a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2024, consolidou-se como um forte candidato na temporada de premiações. É considerado um dos favoritos, suas premiações indicam uma forte possibilidade de vitória. No entanto, enfrenta concorrência acirrada de títulos como “Conclave”, mas “Anora” possui elementos que o posicionam favoravelmente na corrida pelo prêmio máximo da Academia.

 Duna: Parte 2 (5)

 IA: É a sequência direta da adaptação cinematográfica da aclamada obra de ficção científica de Frank Herbert. O filme continua a jornada de Paul Atreides em Arrakis, aprofundando-se nas intrigas políticas, batalhas épicas e no destino messiânico do protagonista.
A crítica tem elogiado o filme por sua grandiosidade visual e narrativa envolvente. Apesar das indicações, especialistas sugerem que, embora o filme seja um forte candidato nas categorias técnicas, suas chances de vencer como Melhor Filme são menores.

 A Substância (5)

 IA: É um filme de terror corporal. A trama aborda temas como etarismo e pressão estética, seguindo a história de uma atriz envelhecente que consome uma substância na esperança de rejuvenescer, mas enfrenta consequências inesperadas. O filme foi amplamente aclamado pela crítica, alguns classificando-o como “uma obra-prima épica e audaciosa de terror corporal… um clássico instantâneo”. Embora o filme seja reconhecido por sua originalidade, especialistas sugerem que suas chances de vencer na categoria de Melhor Filme são menores, devido à forte concorrência de títulos como “Anora” e “Conclave”.

Ainda Estou Aqui  (3)

Neste caso, a pergunta foi ligeiramente modificada: Quais são as reais chances do filme brasileiro vencer o Oscar de melhor filme.

 IA: A chance de “Ainda Estou Aqui” conquistar o Oscar de Melhor Filme em 2025 depende de vários fatores, incluindo o reconhecimento do filme por parte da Academia, sua recepção crítica e o contexto de outros filmes concorrentes.
 O filme tem se destacado por sua forte narrativa e pela representação histórica, com a trama abordando a ditadura militar brasileira e os conflitos pessoais de uma mulher buscando a verdade sobre o desaparecimento do marido. Porém, o filme enfrenta uma concorrência acirrada de títulos como “Emilia Pérez” e “The Brutalist”, que possuem uma presença muito forte, tanto em termos de indicações quanto de recepção crítica. Estes filmes, além de estarem em destaque no número de indicações, possuem uma ampla visibilidade e reconhecimento, o que pode pesar nas escolhas da Academia.

 Nickel boys (2)

IA: É uma adaptação cinematográfica do romance vencedor do Prêmio Pulitzer de Colson Whitehead, e narra a história de dois jovens afro-americanos, Elwood e Turner, que enfrentam as duras realidades de uma instituição de reforma juvenil segregacionista na Flórida durante a era Jim Crow. A narrativa é apresentada de maneira intimista. Críticos elogiaram o filme por sua abordagem inteligente e sentimental. Embora tenha sido amplamente aclamado pela crítica, o filme teve um desempenho comercial modesto, o que pode influenciar suas chances na principal categoria da premiação. Especialistas sugerem que é difícil sua vitória.

Talvez os tempos de Carnaval tenham influenciado este artigo. Pode parecer que ele seguiu o modelo dos sambas enredos das escolas cariocas, que para falar sobre algum tema qualquer, só vale se começar a contar a história lá do início. Para ficar bem claro, o melhor é começar na pré-história, com as figuras bíblicas de Adão e Eva, ou ainda, os mais econômicos até aceitam que a primeira ala fale da Grécia ou Roma antiga. Depois será um sobrevoo de alguns milhões e milhares de anos de história.

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Os artigos representam a opinião dos autores e não necessariamente do Conselho Editorial do Terapia Política. 

Ilustração: Mihai Cauli  e  Revisão: Celia Bartone
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