Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich, líderes da coalizão “Sionismo Religioso” da extrema direita fundamentalista, membros do governo Natatanyahu.

Qualquer ataque praticado contra civis é um crime contra toda a Humanidade. A única posição digna e humana nesse momento é prestar solidariedade a todos os mortos, de ambos os lados, sem nenhum “mas”. O Hamas é uma organização fundamentalista e terrorista que não reconhece o secularismo e nem representa a justa, legítima – e ignorada por décadas – luta dos palestinos, enquanto Israel é um Estado nuclear armado até os dentes pelos Estados Unidos e atualmente governado por uma camarilha de delinquentes extremistas, sob a liderança de um gângster chamado Benjamin Netanyahu.

Sem levar em consideração a história do conflito Israel-Palestina (em que quase tudo pesa a favor dos palestinos), considerando apenas o atual cenário da situação, é impossível não enxergar com o déspota de Tel-Aviv a principal responsabilidade pelo que está acontecendo. Como publicou o editorial do jornal israelense Haaretz, Netanyahu tem as mãos sujas de sangue, e é o maior culpado pela selvageria que os israelenses sofreram no dia 6 de outubro, no Negev Ocidental.

Vamos aos fatos. Ele está exercendo o seu sexto mandato, quebrando o recorde de permanência no poder daquele país (mais de 16 anos) e responde a inúmeros processos por corrupção e abuso de poder. Desde que foi reeleito pela última vez, decidiu transformar o seu governo em uma seita de extrema direita formada por fanáticos anti-palestinos, a começar pelos dois ministros mais importantes: o da Economia, Bezalel Smotrich; e da Segurança Nacional, Ismael Ben-Gvir.

Aqui estão alguns trechos de uma reportagem da insuspeita Folha de São Paulo sobre os dois: “Quando o primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin foi assassinado, em 1995, Ben-Gvir, comemorou: ele fazia parte — assim como o assassino — de um grupo de radicais de extrema direita que odiava a ideia de acordos de paz com os palestinos, a exemplo dos de Oslo, que Rabin havia assinado (…). Vinte e sete anos depois, Ben-Gvir foi o fenômeno das eleições de Israel junto com seu parceiro de coligação, Bezalel Smotrich (…) A surpresa se deu porque até bem pouco tempo atrás ambos eram considerados radicais demais, marginalizados pelo mainstream político. Suas ideias xenófobas e racistas chocavam, mas não eram levadas muito a sério (…). Smotrich é um advogado de extrema direita que já foi detido por protestar contra a retirada israelense da Faixa de Gaza e que este ano declarou em Paris que “o povo palestino não existe, é uma criação imaginária para reivindicar direitos imaginários” (…) Uma de suas propostas é a adoção do Velho Testamento como fonte para o sistema jurídico (…); defende que construtoras não deveriam vender apartamentos para árabes (…) e afirma que os LGBT são anormais (…)

Já Ben-Gvir é um advogado que se especializou em defender ativistas judeus radicais, principalmente em casos ligados a confrontos com árabes-israelenses e palestinos. Ele mesmo foi indiciado várias vezes por incitação ao racismo (…) Ben-Gvir segue as ideias do rabino Meir Kahana, ultranacionalista acusado de terrorismo nos EUA e que chegou a ser eleito para o Knesset em 1984, mas foi boicotado e banido do Parlamento. Seu partido, o Kach, no qual Ben-Gvir militou, foi declarado ilegal. Ben-Gvir tinha em casa uma foto de Baruch Goldstein, que assassinou 29 muçulmanos numa mesquita na Cisjordânia em 1994 (…) Ele está à frente dos incidentes mais violentos desse novo capítulo do conflito entre Israel e palestinos (como sequestros e espancamentos) e chegou a ser responsabilizado por aquilo que o próprio chefe da polícia israelense, Kobi Shabtai, classificou de intifada judaica (…) Netanyahu conseguiu promover a união dos dois (e a fusão dos seus partidos) para apoiá-lo nas últimas eleições e com eles formar o governo mais à direita da história de Israel”.

Além de nomear esses sujeitos para postos-chave do governo, Netanyahu também é o responsável pelo desmonte do Exército e dos serviços de inteligência de Israel, os quais passaram a ser acusados de fazer oposição ao criticá-lo e investigá-lo por corrupção (ele se tornou réu em três ações envolvendo suborno de empresários e a tentativa de manipulação da imprensa, tendo a promotora pública Liat Ben Ari classificado como “um dos casos mais graves da história política de Israel, pelo direcionamento das eleições de 2013 e 2015”). Em seu novo governo, o primeiro-ministro tem adotado medidas para anexar a Cisjordânia e promover uma limpeza étnica nas colinas de Hebron e no vale do Jordão, incluindo uma expansão brutal dos assentamentos e uma tentativa de acordo com os árabes no qual os palestinos não receberiam nada. Neste novo mandato, Netanyahu subordinou todos os interesses do Estado de Israel (inclusive o de sua segurança) à tentativa de libertá-lo de uma possível pena de prisão e adotou uma política externa irresponsável e abertamente racista.

Nada disso, obviamente, justifica o ataque bárbaro sofrido pelos civis israelenses (que inclusive acabou abafando o resultado militar bem sucedido da operação realizada pelo Hamas, com a tomada de quartéis, destruição de postos de controle etc.). Neste conflito entre Hamas e Israel, só há um sujeito de direito reconhecido pelo Direito Internacional Público (até porque os palestinos foram proibidos de formar um Exército): o Estado de Israel. E em poucos dias, Israel já assassinou 2.125 pessoas da população de Gaza e submeteu todos os que ali vivem a um crime de guerra, com o corte no abastecimento de água, energia e comida.

Em minha humilde opinião, ao contrário de chavões apelativos e mensagens despolitizadas – como a de que todos devemos “rezar por Israel” nesse momento – a solução para esse problema começa por uma campanha internacional em favor dos habitantes de Gaza que faça imediatamente interromper esse massacre e crie as condições para um acordo que cumpra, finalmente, aquilo que foi previsto pela ONU há várias décadas: a criação do Estado Palestino. Mas infelizmente, nada disso irá acontecer.

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Os artigos representam a opinião dos autores e não necessariamente do Conselho Editorial do Terapia Política. 

Revisão: Celia Bartone
Leia também “Israel e Hamas: onde está a verdadeira linha divisória?“, de Slavoj Žižek.