As duas últimas pesquisas com avaliações sobre o governo Bolsonaro e o processo eleitoral de 2022 que vieram a público apontam algumas tendências bem parecidas. Essas pesquisas são a do IPESPE (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas), divulgada nos primeiros dias de novembro, e a da Genial Investimentos/QUAEST Consultoria e Pesquisa, divulgada uma semana depois.
Ambas as pesquisas vão, em linha geral, no mesmo sentido. São bastante detalhadas e com informações segmentadas, mas apontam ao menos três pontos bem gerais que são comuns, e que procurarei avaliar brevemente neste artigo.
O primeiro diz respeito ao título acima, e se refere à avaliação do governo Bolsonaro: por qualquer ótica que se tente ver, definitivamente o gráfico das pesquisas mostra que abriu a boca do jacaré – ou seja, a desaprovação do governo atual se destaca crescendo rapidamente, enquanto que a aprovação cai na mesma proporção. Isso aparece na pesquisa da QUAEST na forma da avaliação positiva, que desaba, e negativa, que dispara; e na pesquisa do IPESPE na avaliação “ótimo + bom”, que desaba, e “ruim + péssimo”, que dispara. Esse movimento tendencial já foi revertido em alguns momentos anteriores, mas é importante observar que agora ele atingiu seus maiores patamares de diferença entre as duas avaliações, de longe.
O segundo ponto que salta aos olhos nas duas pesquisas é a predominância dos temas econômicos, possivelmente por um reflexo do avanço da vacinação contra a Covid-19 no país. Os temas econômicos passam a prevalecer nas preocupações das pessoas sobre os temas sociais, mostrando que, no processo de avaliação, o tema da pandemia vai ficando cada vez mais no retrovisor, enquanto os temas econômicos (crescimento econômico, desemprego, inflação) passam a predominar, além de temas sociais (o próprio desemprego, a fome e a miséria, na pesquisa QUAEST, ou as menções ao novo auxílio Brasil na pesquisa do IPESPE).
Isso é muito importante para uma avaliação do cenário dos próximos meses. De um lado, porque na avaliação da pandemia o estrago já está feito para o governo Bolsonaro (mais de 600 mil mortos, gestão ineficiente da pandemia e ministros mal avaliados na Saúde, denúncias de corrupção com vacinas, meses de CPI transmitida pela TV e reportada na grande imprensa, desgastando o governo federal), ao mesmo tempo em que a saída de cena do tema impedirá qualquer revisão do estrago feito.
Por outro lado, para o governo, é trágica a vinda dos temas econômicos para o lugar de destaque do palco, em um momento em que algumas expectativas de crescimento mais sustentado no ano que vem vão sendo derrubadas definitivamente por projeções que oscilam entre a estagnação dos mais otimistas até uma nova recessão que começa a ser cada vez mais a aposta dos realistas. E a inflação e as expectativas de inflação só fazem subir, e os juros também vão subindo rapidamente para uma população endividada, ou por se endividar (a “expectativa de endividamento” também é avaliada na pesquisa do IPESPE, e é crescente).
Além disso, a preocupação com fome, miséria e programa de renda básica é fatal para uma possível candidatura Bolsonaro frente a uma disputa com o ex-presidente Lula. Mesmo que o novo “auxílio Brasil” comece a ser implementado, substituindo o antigo Bolsa Família, que foi descontinuado, isso se dará em um enorme quadro de dúvidas sobre a sua continuidade para a população mais pobre. E frente a isso, bastaria “martelar” na campanha eleitoral de 2022: “Quem você acha que é mais favorável à manutenção do programa de renda a partir de 2023, Lula ou Bolsonaro?” – creio que não haverá muitas dúvidas por parte da população mais pobre sobre quem estaria mais inclinado a seguir com essa política, inclusive porque Bolsonaro vai ser lembrado pelo término do programa Bolsa Família, e quem terminou com um pode terminar com outro. Só observando que Bolsonaro terminou com o auxílio emergencial, programa criado pelo próprio governo no início da pandemia. Além do que, o tal “Posto Ipiranga” do governo Bolsonaro nunca foi tão assertivo defendendo gastos sociais.
Finalmente, sobre as pesquisas eleitorais. Elas mostram três coisas básicas, sempre lembrando que a campanha não começou de fato, e que ainda não estamos tão próximos, embora muitos já comecem a lembrar que estamos a menos de um ano do próximo processo eleitoral. Uma é que a candidatura de Lula parece consolidada bem à frente (na pesquisa do QUAEST, chega a ganhar no primeiro turno), e com rejeição diminuída, ao mesmo tempo em que, na pesquisa IPESPE, 44% dos entrevistados dizem que “já decidiram”, o que é curioso, a tanto tempo da data da eleição. O segundo é que, apesar da redução significativa nos últimos meses, a candidatura Bolsonaro parece ter um reduto “de irredutíveis gauleses”, como dizia uma velha história em quadrinhos, cujo número varia conforme a pesquisa (um pouco mais de 25% dos entrevistados na pesquisa do IPESPE, um pouco menos de 25% na pesquisa da QUAEST) de onde não caiu significativamente até aqui. Com esse patamar, é provável que o atual presidente consiga ir ao segundo turno (se segundo turno houver, pois como vimos antes, uma das pesquisas aponta a possibilidade de vitória no primeiro turno), mas é seguro que ele inviabiliza de fato qualquer outra alternativa, seja terceira, quarta ou quinta vias.
Mas faltam muitos meses, vamos adiante!
Ilustração: Mihai Cauli e Revisão: Celia Bartone.
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