A educação no Brasil sofreu a maior inflexão na sua trajetória histórica do ensino-aprendizagem. Em 2020, ampliou-se uma tendência que já estava em curso, a ampliação do ensino a distância, sem nenhum critério didático e regulação pública. Em função disso, a docência, assim como a perspectiva de melhorar a qualidade do ensino-aprendizagem. Em geral, o modelo perseguido de aprendizagem pode ser dividido em 70% para prática de aprender, 20% para convivência com interação e intercâmbio de experiências e 10% apenas ao ensino tradicional.

Desde a pandemia da Covid-19, a modalidade de educação à distância foi recurso escolhido, na maioria dos casos, sem a crítica, sem o monitoramento ou uma avaliação em âmbito nacional. O parlamento e os governos (municipais, estaduais e federal), salvo algumas exceções, foram completamente passivos.

As autoridades, em geral, assistiram a mudança como se ela fosse um processo natural. Porém, passar do método de ensino presencial para o remoto online repercute intensamente na quantidade e na qualidade da educação. Aulas expositivas através das plataformas (Moodle, Google Meet, Zoom, Whereby e outras), que em alguns casos já eram usadas como atividades facilitadoras do ensino-aprendizagem, se transformaram na principal forma didática pelos estabelecimentos educacionais no Brasil.

Noutras palavras, o que era apenas 1/10 no modelo existente de ensino-aprendizagem, assumiu a centralidade. Sem tutores e dinâmicas de interação professor-aluno, sem a convivência estudantil, prevalece a falta das experiências de interação e da autodireção na prática de aprender.

A dificuldade de ampliar a curiosidade e a busca de conhecimento por motivações individuais pressupõem o envolvimento e intervenções coletivas, que não ocorre no modelo de ensino remoto adotado generalizadamente. Não compreender estas mudanças em curso ao longo do ano de 2020, pode ser uma validação do autoengano educacional. Resumidamente, os docentes deveriam saber das limitações decorrentes da imposição desta modalidade de ensino aprendizagem e os discentes deveriam tomar conhecimento das lacunas e deficiências implícitas nesse processo de ensino remoto.

No mínimo, teriam de ser feitas avaliações sobre essas experiências de ensino a distância, que permitiriam oferecer às autoridades educacionais melhores condições para traçar políticas nacionais de ensino. Com as informações e análises, o país teria como tomar decisões, escolher as melhores opções para melhorar a educação brasileira nos próximos anos. Na hipótese de superação da pandemia da Covid-19, ficarão dúvidas acerca do retorno integral à modalidade de ensino tradicional no Brasil.

Grandes corporações privadas de educação já tomaram importantes decisões de concentrar o modelo de ensino aprendizagem nas plataformas das aulas remotas. Com isso, a alteração na estrutura de custos e na organização do trabalho docente, sobretudo na esfera do ensino superior.

Com o foco na aprendizagem em aulas remotas, privilegia-se o conhecimento transmitido pela escuta e visão. De forma estanque, a educação bancária a que se referia o mestre Paulo Freire termina sendo ainda mais enaltecida, escamoteando-se a aprendizagem na leitura, prática, conversação e muito mais.

Para ter sentido lógico ao aluno, a aprendizagem deve funcionar na forma de processo que se manifesta por diferentes temporalidades. Muito mais no tempo autodirigido a aprender e trocas de experiências com outros do que no ensino tradicional.

Para um país com sérios problemas educacionais, o mínimo que se poderia imaginar seria um grande debate sobre o resultado atual da dominância das aulas remotas. O ensino a distância não deve ser descartado, tampouco ser a via quase única, sem critérios e sem regulação, sob o risco do abandono do ensino-aprendizagem de qualidade.