Manuel Bandeira escreveu “Coisas de Arte” em 1931 – crônica linda e expressiva! Falou assim:

  • “Os artistas têm reservas surpreendentes de alegria criadora. Muitas vezes, quando o ambiente social mais se afunda na apagada e vil tristeza que vem da falta de dinheiro, das dificuldades de vida, das incertezas aflitivas da situação, é que eles, aliás as primeiras vítimas dessas depressões, mais sentem a necessidade de afirmar bem alto aos homens entristecidos a preexcelência das criações espirituais desinteressadas.” (Crônicas Inéditas. 1930-1944).

O país não vivia uma situação confortável, e Manuel Bandeira continua nesta mesma crônica, escrita logo após a revolução de 1930:

  • “O Brasil está na posição do sujeito que caiu no poço. Não o poço gozado do jogo de prendas: – Ai, ai caí no poço! – Quem quer que lhe tire? e quem tira a gente do poço é a menina mais bonita da roda… O poço em que caiu o Brasil é como aquele a que há anos atrás não pôde mais escapar o pobre trabalhador de São Paulo que a ele descera para limpá-lo. (…) Esbarrondaram-se as paredes da cisterna, o homem ficou atolado na vasa e durante uma semana os bombeiros (…) fracassaram nas tentativas difíceis de arrancar e içar o infeliz do fundo lôbrego do buraco. O chefe do Governo Provisório e seus ministros estão me dando um pouco a impressão da turma de bombeiros que não sabia bem como fazer para tirar o homem do poço. (…) Há os que ainda não perderam o gosto de brincar de prendas: – Ai, ai, caí no poço! – Quem quer que lhe tire? – Dona Constituição!”

O imenso valor da arte faz vibrar profundamente os nossos corações nesse tempo de pandemia. Em quantas apresentações musicais fomos tocados por antigos e novos talentos, relembrando os momentos importantes das nossas vidas. Quantos vídeos, mostras teatrais, cinematográficas, fotografias, pinturas, gravuras foram apresentados! Textos literários e livros divulgados e relembrados; a troca de livros, a oferta de versões eletrônicas. Até mesmo as publicações científicas ganharam destaque com certas apresentações visuais: gravuras, mapas, novos gráficos. Quantos saraus eletrônicos foram realizados pelo país afora.

Muitas páginas pessoais nas redes nos apresentam publicações e indicações de arte e algumas são como excelentes revistas especializadas no tema. A arte entrou no nosso duro cotidiano nos ajudando a suportá-lo, seja por sua beleza, seja por seu papel crítico. Como no texto de Bandeira, artistas consagrados e jovens que se revelam e se pronunciam na rede eletrônica nos oferecem a “alegria criadora”, a solidariedade, a resistência e a esperança ativa, em tempo agreste. (Glória de Sant’Anna, poeta moçambicana)

E tomando o bordão de Wilson das Neves: OH SORTE! Ela nos traz luz e vida. A Arte nos Salva! Obrigado aos Artistas.

Mas também, como em outro trecho da crônica, vivemos em um poço que se afunda. Afundamos no lodo do “novo normal” da tirania. Um desgoverno, de presidente e ministros genocidas que já causaram mais de 200 mil mortes. O entreguismo do patrimônio estatal, o fim das proteções trabalhistas, a venda das nossas reservas e matas, enfim, desgoverno promotor de várias crises – a econômica, a sanitária, a ambiental. A crise da fome, pois cortou a mais elementar ajuda à população pobre: o auxílio emergencial.

É um governo que a cada dia se aproxima do “ideal tipo” da conceituação do fascismo: a ameaça de imposição do “estado de defesa”; a exigência de retratação e a acusação de “detratores” a jornalistas, desrespeitando a liberdade de opinião; a retaliação jurídica a reitores e professores; a perseguição ao movimento dos Trabalhadores Sem Terra, entre tantos outros. Sem falar na desastrada antipolítica sanitarista, cujo último capítulo é a falta de vacinas e seringas e as mentiras sobre as compras internacionais das vacinas. Um verdadeiro genocídio! Já passou a hora de darmos um basta. De sairmos do fundo desse poço. Um “não rotundo” ao fascismo, como dizia Leonel Brizola.

Vamos tomar a bandeira do Bandeira, chamando, como ele, a “Dona Constituição”. Pois, embora para o presidente do Brasil tudo pareça uma brincadeira, é sempre do mal e de mau gosto. Não se trata de “brincar de prendas”, pois quem vem “nos tirar do poço” é a doença e a morte. Crimes de responsabilidade e contra a humanidade não faltam(1).

Invoquemos então, os preceitos da “Dona Constituição”, e façamos o Impeachment Já! #ForaBolsonaro!

(1) Clique para ver no El País a estratégia de propagação do vírus.