“Ser um inimigo dos EUA, é perigoso, mas ser um aliado é fatal.” Henry Kissinger

A guerra da Ucrânia foi causada pelos EUA que apoiaram o golpe de Estado em 2014 que derrubou o regime de neutralidade da Ucrânia em relação à OTAN. Caso isso não seja acordado com os EUA, não haverá a mínima chance de paz. Trata-se de uma guerra propugnada pelo Deep State, pela CIA, pelo Pentágono e pelo complexo industrial militar dos EUA que forçaram diversos presidentes norte-americanos a continuar encurralando a Rússia com a contínua expansão da OTAN sobre suas fronteiras, o que não é aceito pela Rússia. Diga-se, de passagem, que a Rússia recebeu e aceitou promessas incumpridas pelos EUA de que a OTAN não iria avançar sobre países da antiga União Soviética, fronteiriços com ela. Em 1999 a Polônia, Hungria e a República Tcheca se tornaram membros da OTAN.  Em 2004, entraram sete novos países – Estônia, Letônia, Lituânia, Bulgária, Romênia, Eslováquia e Eslovênia, o que consolidou a presença da OTAN em todas as ex-repúblicas soviéticas da Europa Oriental e dos Bálcãs. O plano era promover, também, a adesão da Geórgia, o que foi inviabilizado pela guerra com a Rússia em 2008. Ucrânia recebeu acenos, mas a guerra com a Rússia inviabilizou sua adesão à OTAN.

A Europa, sozinha, não tem condições de sustentar uma guerra com a Rússia. O apoio dos EUA é indispensável.

Trump e Putin se encontrarão no Alasca,  hoje, 15 de agosto de 2025. Apesar de Trump continuar com as sanções contra a Rússia e até mesmo ameaçar países que compram produtos russos (Índia e Brasil, por exemplo), ele parece querer estreitar sua relação pessoal com Putin e sair disso como apaziguador do conflito Rússia x Ucrânia. Além disso, é bastante provável que Trump no fundo queira cair fora dessa guerra que foram os próprios EUA que começaram em 2024. Como pensam inúmeros norte-americanos, mais progressistas, o papel do Presidente dos EUA é pisar no freio e parar a sanha do complexo industrial militar de promover novas guerras no mundo.

Intenções de Trump:

  1. Testar o efetivo desejo de Putin de alcançar a paz
  2. Alcançar um cessar fogo
  3. Negociação de paz mediante cessão de territórios
  4. Exercício de pressões com ameaça de novas sanções
  5. Articulação de nova reunião trilateral
  6. Retirada dos EUA da guerra o que contraria interesses do Deep State e da CIA

Intenções de Putin:

  1. Assegurar conquista de territórios (Criméia e 4 territórios ucranianos conquistados em 2022)
  2. Neutralizar o alinhamento da Ucrânia com o Ocidente (desistência da entrada na OTAN e paralização do armamento de suas forças armadas)
  3. Consolidação territorial
  4. Fim de seu isolamento diplomático frente aos EUA e Comunidade Europeia
  5. Consolidação de sua participação como potência econômica e militar
  6. Término das sanções do ocidente
  7. Recuperação de ativos congelados (USD 300 milhões)

Deal breaks e pontos de convergência:

A Criméia está fora de qualquer negociação. Ela tem sido desde 1783 a saída da frota naval russa pelo Mar Negro e seu acesso ao sudeste do Mediterrâneo. Ponto inegociável.

A região de Donbass (no leste da Ucrânia) é composta por Lugansk e Donetsky que são territórios majoritariamente russos na Ucrânia e que saíram do controle Ucraniano após o golpe de Estado de 2014. Pelo acordo Minsk 2 a Rússia teria aceito que essa região se tornasse autônoma, o que apesar de contar com o referendo da ONU, não foi respeitado pela Ucrânia.

A Rússia reivindicou em novembro de 2022 as regiões de Zaporíjia e Kherson. Existe a expectativa de que ela aceite devolver esses territórios, ainda não inteiramente conquistados, em troca de Donbass.

O Acordo com os EUA pode ter lugar mesmo sem a concordância da Ucrânia e da Comunidade Europeia. É uma forma dos EUA saírem do conflito e poderem estreitar relações com a Rússia.

Mesmo depois das sanções contra a Rússia, ela continua mantendo significativo volume de comércio para clientes importantes e não será nada fácil destruir essas exportações por força da dependência mútua de tais fornecimentos.

Fica a expectativa do que será negociado no Alasca. E o ideal é que um eventual acordo de paz seja referendado pela ONU.

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