O Brasil, com sua crescente inserção no comércio internacional, se destaca no conjunto de atividades intensivas em recursos naturais, como exportador de alimentos (soja, milho, carnes, suco de laranja, café, açúcar, pescado, mel), bem como petróleo bruto e minério de ferro. São aquelas atividades geradoras de saldos em dólares, que fortalecem o volume de reservas cambiais em moeda forte. Entretanto, o adensamento dessas cadeias produtivas e a industrialização geradora de maior complexidade são um desafio nesses tempos de guerra tarifária promovida pelo governo americano.
Uma segunda fonte de expansão futura da economia brasileira seriam as atividades intensivas em infraestrutura, aproveitando a característica de uma país continental, com múltiplas realidades sociais e ambientais. Destacaria a expansão da rede metroviária, a recuperação das estradas, das ferrovias, das hidrovias e a construção das infovias, bem como a oferta de habitação, energia, saneamento e serviços urbanos nas grandes regiões metropolitanas que abrigam metade de nossa população.
Melhoria na infraestrutura, além de gerar empregos e salário para nossa força de trabalho desocupada, pode propiciar, também, alívio ao cotidiano das populações periféricas e incremento na qualidade de vida nas comunidades. Hoje, o trabalhador gasta muito tempo no deslocamento casa-trabalho, tanto pelas distâncias, quanto pelos engarrafamentos.
O elevado nível de concentração de renda e de riqueza determina a terceira frente de expansão que se concentra nos serviços sociais. Nossa inserção dependente com o exterior força a prática de baixos salários pelo empresariado (90% dos novos empregos formais paga apenas dois salários mínimos mensais). Por outro lado, a carga tributária indireta sufoca o poder de compra dos assalariados. E a alta informalidade gera um enorme exército de reserva de força de trabalho que pressiona, negativamente, as rendas salariais praticadas no país.
Outra frente de dinamismo é a produção e o consumo de massa de uma população de 213,4 milhões de brasileiros no país de dimensões continentais. Nesse ramo, temos uma indústria de bens voltados para a subsistência dos assalariados, além de serviços como saúde, educação e o papel relevante das transferências de renda. Dos 19,5%, em relação ao PIB, que o Orçamento Federal movimenta na forma de gasto primário, uma parcela muita expressiva se orienta para esses setores, o que contribui para a redução das desigualdades regionais e pessoais na injusta sociedade brasileira.
Nesse contexto, pensar o Estado do Rio de Janeiro (ERJ) e suas potencialidades é papel urgente de sua elite dirigente. O estado, a partir de 2006, com o anúncio das jazidas do pré-sal, ampliou sua condição de grande produtor de óleo e gás e arrecadador de recursos orçamentários oriundos da indenização da produção na plataforma continental brasileira.
Entretanto, apesar desse imenso potencial produtivo, a economia da segunda unidade federativa do país viveu ciclos de prosperidade (entre 2006 e 2014) e, em seguida, uma profunda crise desde 2015 e que se arrasta aos dias atuais – marcada por expressiva escassez de recursos fiscais, limitação da capacidade de investimentos – e tudo isso impactando a rede de empreendimentos produtivos presentes em seu território. Nesse quadro, a crise social agudiza os problemas relacionados à violência urbana. Nesse contexto, o gasto orçamentário estadual com a Função Segurança Pública chega a 20 bilhões de reais por ano. Cifra superior às dotações de Saúde e Educação.
Comprovando os outros efeitos deletérios dessa desaceleração cíclica em vigor na economia fluminense, o IBGE constatou uma forte redução do crescimento populacional. E no mercado de trabalho, a PNAD Contínua mais recente revela uma taxa de desocupação da força de trabalho de 8,1%, contra uma média nacional de apenas 5,8%. O desemprego cai nacionalmente, mas o mesmo não ocorre na economia do ERJ. A alta informalidade predomina e a falta de oportunidades atinge jovens, negros e pessoas com escolaridade de nível médio incompleto. Como agravante, a sociedade fluminense tem fortes carências no ensino técnico de caráter público.
Para superar esses desafios, uma alternativa seria adensar a cadeia produtiva de óleo e gás, dado que economias muito atreladas à oferta de bens primários e matérias-primas de exportação encaram perdas no segmento industrial (o mais centrado em inovação tecnológica e ganhos de produtividade), que é o mais dinâmico na oferta de empregos com carteira assinada, alta remuneração e garantias trabalhistas.
Falando em termos estruturais, a expansão metropolitana do ERJ se organizou em eixos radiais, seja por Rio-São Paulo, Rio-Minas, Rio-Vitória. Essa característica não ocorreu somente por rodovias, mas segue uma configuração semelhante por gasodutos, redes de comunicação, rede elétrica, entre outros.
Na atualidade, a economia fluminense é fortemente influenciada pelo ciclo internacional das commodities, o que exige gestão eficiente dos recursos do estado devido às flutuações nos investimentos. Nesse contexto, há uma ausência de ação concreta da gestão pública, em desenvolver uma estrutura permanente de planejamento regional, que articule e promova políticas territoriais comprometidas com a recuperação econômica sustentada da atividade produtiva fluminense, embora o petróleo responda por 30% do PIB.
Matriz produtiva concentrada em setores muito simples acaba gerando baixíssimo encadeamento, ou até inexistente. O Rio precisa priorizar investimentos em setores de alta complexidade produtiva, ou seja, aqueles que geram efeitos de encadeamento para frente – qualquer atividade que por sua natureza não atende exclusivamente as demandas finais, induzindo os esforços para que se utilizem seus produtos, como insumos de alguma outra atividade – e para trás (qualquer atividade econômica não-primária que acarrete esforços para suprir insumos de atividades dinâmicas).
Nesse aspecto, vale frisar que o ERJ possui, localizado em seu território, uma grande instituição de crédito para o desenvolvimento – o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES.
A proximidade do ciclo eleitoral de 2026 coloca o desafio da retomada do desenvolvimento na mesa das grandes discussões.
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Ilustração: Mihai Cauli
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