Às Ruas para eleger Lula
Uma visão crítica dos erros do campo progressista no primeiro turno das eleições no Rio de Janeiro
Cabe a nós lutarmos para garantir a eleição de Lula. Nós, a gente comum da esquerda, do centro, da direita, religioso ou ateu, o único requisito deve ser o desejo de derrotar Bolsonaro. A frente ampla tem que extrapolar os limites das lideranças da política e ganhar as ruas.
Aos que moram no Rio, como eu, nossa luta é aqui. Mas não podemos contar com as lideranças locais não alinhadas a Bolsonaro, essas falharam miseravelmente e o resultado no primeiro turno aqui foi o que vimos.
Freixo fez tudo certo antes da eleição. Foi ao centro, ampliou, na hora da campanha, entretanto, esqueceu e teve vergonha do que representava, fez uma campanha que não empolgou e nada falou para a juventude organizada das periferias, para quem os mandatos dele na ALERJ foram importantes. Não foi ao segundo turno e, pior, não reconstruiu um campo democrático e popular no Rio, que era sua maior missão como liderança política de um Estado política e economicamente arruinado.
Quaquá, liderança do PT no Rio, vice-presidente nacional do Partido, eleito deputado federal, fez um diagnóstico crítico correto da campanha do Freixo, baseada só no discurso moralista. Mas ele mesmo fez tudo para minar a candidatura. Falava difusamente numa “rejeição”, mas nunca apresentou uma saída à inegável rejeição que qualquer um do campo não-bolsonarista teria no Rio de Janeiro. Mais importante, nunca apresentou um outro nome que sombreasse o de Freixo.
Representou bem a confusão que reinou no PT do Rio, que cometeu o erro, mais um, de não entender que o bolsonarismo fechou as portas da conciliação. Ouvi de pessoas tarimbadas politicamente que Claudio Castro não era “tão bolsonarista assim”. Essa é a frase síntese de o quanto estamos perdidos. Esses respeitáveis interlocutores talvez achem que o bolsonarismo não tem aliados, teriam dificuldades de explicar os quase 43% de votos do atual presidente no primeiro turno.
Eduardo Paes, prefeito da Capital, igualmente, não entendeu que está no mesmo gueto político da esquerda, talvez acredite que os aliados conjunturais de Bolsonaro o apoiarão no futuro. Tenho sérias dúvidas. Ajudou a propagar a rejeição a Freixo e a dividir o campo democrático, em busca de um (atualmente) ilusório centro, não entendeu que ele tinha o papel fundamental de ampliar Freixo para o centro e que isso, a meu juízo, o beneficiaria no futuro. Agiu de forma amadora e improvisada, foi colocar água no moinho do Rodrigo Neves, que não decolou e cujo maior serviço na campanha foi dizer que Freixo era amigo de traficantes.
Molon fez o que fez, abandonou uma candidatura a deputado que certamente seria a mais votada do Estado e que poderia eleger mais candidatos progressistas. Teria papel relevante no Congresso, certamente, como importante parlamentar que sempre foi e que consegue ser ouvido para além da esquerda. Preferiu, contudo, a aventura do senado que só serviu a ele mesmo, seu partido elegeu 1 deputado federal. Mas conseguiu o que aparentemente mais queria, desestabilizou a candidatura Freixo e todo o campo progressista. Alijou seu “maior competidor” e em 2024 provavelmente ressurgirá como representante do… campo progressista. Derrotar Bolsonaro no Rio certamente era coisa menor para ele.
O PSOL apoiou Molon e com isso também prejudicou a candidatura Freixo. O partido pode ter suas razões, nenhuma válida politicamente, assim entendo. Se lançasse candidatura própria seria coerente, mas apoiar Molon só serviu aparentemente para dificultar o PT de eleger um senador, numa tola disputa pela minoritária franja da esquerda, erro político que a esquerda insiste em repetir, década após década, em especial no Rio de Janeiro.
Então, Freixo fez uma campanha ruim, sim, mas todas as demais lideranças e forças políticas não alinhadas ao bolsonarismo no Estado, da esquerda ao centro, contribuíram.
Minaram a candidatura progressista não porque tivessem algo melhor para colocar no lugar, não tinham, mas porque ninguém teve a decência ou competência de enxergar o cenário terrível. Nem falo em desprendimento, por favor, falo apenas em reconhecer o que a situação política exigia, união, fazer o que Lula fez ao chamar Alckmin e Marina, para citar apenas esses dois.
Enquanto o bolsonarismo e aliados se uniram em torno de Claudio Castro, mesmo sendo amplamente majoritários no Estado, a esquerda e o centro disputaram para ver quem vai mandar no gueto.
Isso prejudicou a candidatura Lula, que poderia ter se saído melhor no Estado. Perdemos tempo discutindo questões menores, pessoas menores, enquanto o outro lado trabalhava forte. Nem tudo foi ruim, diga-se, os resultados apontaram para uma necessária e urgente renovação. Que os eleitos saibam reconstruir nosso campo, inclusive superando essa estranha atração que a esquerda do Rio de Janeiro tem faz tempo pelo gueto e que agora, parece, atraiu também o centro político.
E nesses dias até o segundo turno cabe a nós, com maior ou menor militância, carregar a campanha de Lula, não podemos esperar que as lideranças que erraram muito no primeiro turno façam isso. Não quero exclui-las, por favor, quem sou eu, o futuro poderá reservar a redenção para algumas delas, mas agora é tempo de nós mostrarmos a cara, na rua, sem medo.
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Ilustração: Mihai Cauli
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