A taxa básica de juros voltou a subir na última reunião do COPOM na quarta-feira, dia 04/08. A taxa foi para 5,25%, uma subida de um ponto percentual, a maior desde fevereiro de 2003. A elevação da taxa é uma resposta a previsões de inflação medida pelo IPCA para este ano, que superam os também 5,25% do teto da meta de inflação, e se aproximam de 6%. Assim, dentro do regime de metas de inflação, a menos de romper, na prática, com o sistema sem dizer que estava fazendo isso e adotando algum recurso retórico, o Banco Central não tinha muito o que fazer. Como comentou um alto executivo de um grande banco nacional, reproduzindo um discurso de atendente de boteco, “é o que temos para hoje”.

Ou seja, a não ser que rompesse com o sistema de metas de inflação (o que até poderia ter sido um caminho, mas não para um governo profundamente enfraquecido politicamente como o atual, e que mantém suas costuras de relações com setores do mercado financeiro), não havia outra opção a não ser elevar as taxas de juros. Estabeleceu-se também se a subida de um ponto percentual era o que tínhamos para a ocasião, em analogia ao executivo financeiro que fez o comentário, ou se arredondar a taxa em 5%, subindo 0,75 ponto percentual, teria sido um caminho mais prudente. Provavelmente o 0,25 ponto percentual não faria a menor diferença, para o bem ou para o mal.

A questão é que o aumento das taxas de juros vem sendo aplicado como receita para uma inflação que está longe de ser de demanda. Assim, o efeito é muito perto do nada, se for diferente dele. A inflação é decorrente da desvalorização do real frente ao dólar (combinada à dolarização de preços na economia nacional), ao alto grau de componente importado dos principais produtos da economia brasileira, fazendo com que aumentos do dólar impactem diretamente os preços dos produtos finais de consumo, e à dolarização dos preços de commodities agrícolas, minerais e energéticas e seus processados (ou seja, a vinculação dos preços no mercado interno aos preços do mercado internacional, o que faz com que o preço dos produtos que consumimos e que são produzidos aqui, mesmo assim, sofram os efeitos da subida de preços nos mercados internacionais, como é o caso das carnes, do óleo de soja, açúcar e álcool, arroz, derivados de petróleo, como gasolina, diesel e gás de botijão, e outros).

A pergunta é: subir as taxas de juros vai impactar aí? A resposta é, nesse patamar, e no mundo de incertezas que prevalece nos mercados internacionais, com a aversão ao risco dominando, é provável que não. Afetaria se com a subida conseguíssemos captar dólares no mercado mundial em quantidade que levasse o real a se apreciar frente ao dólar. A queda de braço tem acontecido há algumas semanas no mercado de câmbio, mas o dólar insiste em ficar em um patamar superior a R$ 5,20. Cai eventualmente e volta a subir, dando grandes ganhos aos especuladores que compram na baixa e vendem na alta, surfando na política do Banco Central para ganhar. Ou seja, a alta das taxas de juros até aqui não serviram para fazer cair o valor do dólar de forma sustentada e assim segurar a alta de preços causada pela dolarização.

Entretanto, se não funcionam para isso, as taxas de juros subindo alteram as expectativas empresariais sobre a ativação da economia. Ou seja, dessa maneira o Banco Central contribui para abater o ânimo empresarial quanto a qualquer processo sustentado de retomada da atividade econômica, algo que o país tanto precisava. E sobre o qual alguns chegaram a se animar bastante, já que qualquer crescimento esse ano será potencializado pela comparação com o fundo do poço que tivemos com a recessão do ano passado. O governo federal vinha até o comecinho de 2021 rebatendo o discurso da falta de gasto público para ativar a economia com um discurso de forte viés fiscalista, mas apontando para as baixas taxas de juros como um elemento importante para contribuir para a ativação da economia. Esse ponto vai sendo pouco a pouco abandonado.

Assim, a subida mais acentuada das taxas básicas de juros no período recente, elevando o piso da escada dos juros na economia (a taxa básica é a menor taxa, mas ao elevá-la, é como se o conjunto dos juros cobrados na economia suba conjuntamente), vai sepultando na prática qualquer expectativa de uma recuperação mais vigorosa, para não dizer de qualquer retomada sustentada da atividade econômica no país.

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