Numa entrevista com duração de 1h40 à Tutaméia, o professor Ricardo Antunes (UNICAMP) nos remete a várias questões conceituais complexas sobre o trabalho e faz uma ponte com as mazelas que estão ocorrendo no Brasil. Ao mesmo tempo em que fala de velhas questões, mostra que elas ficam cada vez mais contemporâneas, porque justamente no momento em que a produção de riqueza e a produtividade alcançam níveis inéditos, derivados das novas tecnologias e dos ganhos de eficiência, o custo do trabalho vai sendo reduzido enquanto o lucro se amplia.
Desde os anos 70 do século passado houve um avivamento dos debates e das análises sobre a natureza do processo de trabalho, assim como das transformações e impactos com referência às radicais inovações tecnológicas que se iniciavam e seus impactos sobre as qualificações tradicionais, o nível de emprego, a organização da produção e do trabalho, cada vez mais flexível e fragmentado em cadeias produtivas globais, nas quais os elos mais nobres dessa cadeia estão situados em suas matrizes.
Uma nova agenda de pesquisas e desafios para o mundo do trabalho se consolidou, com destaque para temas como a perda da centralidade do trabalho enquanto elemento da sociabilidade, o mercado de trabalho como um princípio alocativo fracassado, a distribuição desigual dos riscos do mercado de trabalho, a informalidade espúria, formas alternativas de geração de trabalho e renda, o trabalho feminino socialmente útil e não pago e muitos outros.
Para uma breve referência teórica citamos três autores (dentre os mais importantes) e suas obras representativas da emergência dessas questões apontadas: Harrry Braverman, Trabalho e Capital Monopolista: A Degradação do Trabalho no Século XX (EUA 1974, Brasil 1977); André Gorz, Adeus ao Proletariado: Para Além do Socialismo (França 1980, Brasil 1982); e Claus Offe, Capitalismo desorganizado: transformações contemporâneas do trabalho e da política (Alemanha 1985, Brasil 1989).
Com a hegemonia neoliberal e a incessante pregação e prática da retirada de direitos sociais e trabalhistas acompanhadas da implantação das lógicas de mercado sobre a previdência social, um novo quadro se criou. Nele, o que se busca é que tudo passe a ser território de mercado. Infelizmente não há um debate público empenhado no esclarecimento dessas transformações que têm levado sofrimento e angústias para quem vive de seu trabalho e tem pela frente uma situação mais precária e insegura. Há também novas formas de resistência e alternativas se desenhando ainda que incipientes, mas promissoras.
Link da entrevista: https://www.youtube.com/watch?v=5cLEZXwzCPk