• Como será amanhã?
    Responda quem puder
    O que irá me acontecer?
    O meu destino será
    Como Deus quiser
    Como será?
  • (O Amanhã de João Sérgio)

Existe uma grande desorientação da população com relação às alternativas políticas. As últimas pesquisas do Datafolha e do Ibope confirmam isso. Os resultados são bastante contraditórios. Pode ser. Como afirmam alguns especialistas no tema, talvez isso seja o resultado do método de ouvir os participantes – por telefone, devido à pandemia. A mim parece que essa é uma explicação fraca para o tamanho da discrepância nos resultados, que também foram sentidos nas eleições municipais.

A pesquisa Datafolha mostra que o índice de aprovação do Bozo é o de sempre, acrescido de 11% de crescimento na faixa até dois salários mínimos. Cerca de 52% acham que ele não tem culpa pelas mortes. Porém, a maioria acha que ele não governou bem durante a pandemia. O índice de aprovação indica que Bolsonaro tem um núcleo de apoio muito forte. Algo similar ao de Trump nos EUA. Também indica que a extrema direita saiu do armário e veio para ficar no cenário político. Ela não tem mais receio de postar as suas ideias nas redes sociais e ganhar pessoas que sempre pensaram desse modo, mas estavam enrustidas.

A pesquisa do Ibope indica que o Bozo perdeu cinco pontos percentuais de avaliação positiva, entre setembro e dezembro de 2020. Há três meses, o resultado positivo era de 40%, agora 35% da população avalia o desempenho dele como ótimo ou bom. Melhor do que os 29% de aprovação há um ano. A pesquisa aponta, também, que 33% dos brasileiros consideram o governo ruim ou péssimo, uma elevação de 4% em relação à pesquisa anterior. A avaliação por regiões mostra que a popularidade do Bozo caiu em todas as regiões do país, à exceção do Nordeste. O Sudeste e Nordeste são as mais descontentes com o governo: 36% ruim ou péssimo no Sudeste e 34% no Nordeste. A região Sul é onde a aprovação é mais alta, atingindo 44% de ótimo e bom.

Mesmo ao se considerar que pesquisa de popularidade reflete um determinado momento da conjuntura política, é inegável que esses resultados apontam para uma grande incerteza da população com relação ao futuro.

Essa incerteza política abre uma janela de oportunidade para a oposição. Sem auxílio emergencial, o Brasil começará 2021 pior do que termina 2020. O auxílio foi importante de duas formas. Em primeiro lugar, para uma retomada em V da economia, que apresentou um crescimento de 7,5% do PIB no terceiro trimestre. Apesar de não recuperar as perdas no ano, foi um resultado expressivo, em grande parte devido ao auxílio emergencial. A sua retirada fará com que a economia tenha uma retomada bem menos acentuada, por ausência de demanda e perda de impulso econômico. O auxílio emergencial também é fator fundamental no combate à desigualdade e à miséria durante o período em que perdurar a crise sanitária.

O impacto da pandemia na população foi muito desigual. Os trabalhadores com salários muito baixos foram os mais afetados, tanto os formais, pelo desemprego, como os informais, pela ausência de demanda para os seus serviços. Portanto, a renda emergencial é importante tanto para expansão quanto para mitigar o aumento da desigualdade.

O desemprego no Brasil está em nível recorde, com destaque para o alto nível de desalentados. Os dados do IBGE indicam que o desemprego no Brasil está em 14,6% (14,1 milhões de brasileiros). Já os desalentados, pessoas que desistiram de procurar emprego, chegam a um total de 5,86 milhões de pessoas. Os desempregados e desalentados somam 20 milhões de brasileiros, quase 20% da força de trabalho. Além disso, muita gente parou de procurar emprego, tanto pela pandemia em si, quanto pelo baixo crescimento econômico. Nessa situação, as pessoas tendem a achar inútil procurar emprego, porque perdem tempo e se expõem ao risco da doença. Provavelmente, em 2021, com o fim do auxílio emergencial, o desemprego vai aumentar.

O governo, após a divulgação do resultado do PIB do terceiro trimestre, publicou uma nota técnica em que afirma que o conjunto das políticas sociais colocadas em prática para enfrentar os efeitos perversos da pandemia e melhorar a situação social e econômica das pessoas deve ser encerrado e abrir espaço para as reformas estruturais e o ajuste fiscal.

Com esse cenário para 2021, a manutenção do Teto de Gastos, para os investidores (Faria Lima) é o elemento central para a estabilidade, para dar confiança e aumentar o investimento.

Essa teoria da “fada confiança”, a regra Teto de Gastos, se não fazia sentido quando foi aprovada, agora é ainda mais extemporânea. A manutenção da regra vai ser um obstáculo severo para a recuperação da economia brasileira. É na crise que o setor público é mais necessário, principalmente agora, para manter as transferências emergenciais, para o retorno dos investimentos públicos e para maior administração da pandemia. Ou seja, a PEC do Teto de Gastos não deveria ter sido aprovada em nenhum contexto econômico.

Sem o auxílio emergencial, a situação vai ficar ainda pior pelo aumento da inflação. O corte no valor do benefício de R$600,00 para R$300,00, a partir de setembro, pode levar a um aumento da desigualdade, levando o Brasil aos níveis dos anos 1980. Apenas com a redução do auxílio, mais de 8,6 milhões de brasileiros estão sendo jogados na pobreza.

Além disto, provavelmente o primeiro trimestre de 2021 vai ser pior que o último trimestre de 2020. A economia não recuperou a perda nem da pandemia, nem da crise de 2014/2016. Vale lembrar, a previsão de crescimento do PIB para 2021 é de 3,5%, a maior parte por carregamento estatístico.

A economia internacional deve começar a apresentar um clima de maior otimismo com o início da vacinação contra a Covid-19. Além de estarmos atrasados, o impacto positivo para a economia brasileira não deve ser muito grande. As exportações não passam de 20% da demanda agregada. Mais de 80% do PIB é realizado no mercado interno.

Mesmo se as previsões mais otimistas da aliança Guedes/Faria Lima se realizassem, o que é bastante improvável e duvidoso, e a economia tivesse um desempenho milagroso, dificilmente haveria uma grande incorporação do enorme exército de desocupados e desalentados no mercado de trabalho.

Quanto ao conceito em moda do mercado financeiro, a “poupança precaucional”, que substituiria uma grande parte do auxílio emergencial aos vulneráveis e daria base para a recuperação no início de 2021, o próprio Banco Central levanta dúvidas. No último Relatório de Inflação, afirma que essa poupança está concentrada nas rendas mais altas e é um efeito da redução de gastos com serviços que não puderam ser consumidos (médicos, serviços pessoais, viagens, etc.). Aliás, como escrito em qualquer manual de introdução à economia.

Em resumo, a recuperação da economia não emite sinais de forte dinamismo para 2021, nada além de um carregamento estatístico, repique estatístico derivado de uma base de comparação muito baixa. O quadro mostra um aumento do desemprego que restringe a demanda, uma situação fiscal frágil que deixa pouca margem para os investimentos públicos e fortalece a incerteza que atrasa o investimento privado.

A desorientação da população tem forte razão de ser. Por um lado, Bolsonaro joga na confusão e no negacionismo da pandemia. Se não há pandemia, não há cura para ela. Simplesmente deixe a vida te levar desde que você e sua família não sejam um dos mais de 180 mil mortos. Por outro, a oposição não sabe quais são suas prioridades para combater o autoritarismo, o negacionismo e o preconceito.

Não adianta xingar de fascista, ignorante, genocida e do que você quiser. A oposição tem que mostrar suas propostas concretas para enfrentar a crise da renda, do desemprego, da pandemia e da falta de vacina.

A manutenção do auxílio emergencial envolve uma contradição para a base política do Bozo. Para aprová-lo, tem que romper o teto de gastos e perder a Faria Lima. Se o mantiver, terá de explicar porque negou até agora. Sem clareza da oposição a desorientação continuará.