O povo cubano lutou mais de 300 anos para se libertar de sua condição de colônia espanhola e, após muitas batalhas, a Espanha lhe concedeu “liberdade”, mas ficou subordinada ao controle dos EUA, com o Tratado de Paris, em 1898.

Desde essa “libertação” até o governo do ditador Fulgêncio Batista, Cuba passa a ser quintal dos EUA, controlada por gangues norte-americanas, incluindo a Máfia, que fez do aeroporto militar de Havana passagem do narcotráfico, além de torná-la um bordel para os norte-americanos, com prostituição, jogos, farra e tudo o que consta na típica relação de exploração de colônia e colonizador. E o povo cubano, sem direitos trabalhistas, acesso à educação, moradia digna ou qualquer outra garantia social.

Aos 26 de julho de 1953, então estudante de direito, Fidel Castro organizou o ataque ao Quartel de Moncada, principal evento que antecedeu a Revolução de 1959, tendo por finalidade pegar armas para a população e iniciar uma ação para destituir o general Fulgência Batista. A operação fracassou e os revoltosos foram vencidos e presos. Em seu julgamento, Fidel Castro fez sua própria defesa e argumentou sobre a necessidade de derrubar o ditador em prol da melhoria das condições de vida para o povo cubano. Encerrou sua defesa com a famosa frase “A História me absolverá” que soou quase como uma sentença. Ele e seu grupo foram condenados a 15 anos de prisão embora, em 1955, anistiados.

O grupo “Movimento 26 de Julho”, partiu para o México. Nesse exílio, Fidel Castro conheceu Che Guevara e o convenceu a participar do processo que resultaria na Revolução Cubana, criando o embrião da guerrilha para levar adiante o plano de derrubar Fulgêncio Batista.

Entre 1956 e 1959, várias batalhas tiveram apoio da população rural e urbana. Em 1º de janeiro de 1959, êxito da Revolução Cubana, liderada por Fidel e Raul Castro, Ernesto Che Guevara e Camilo Cienfuegos. A derrota de Fulgêncio Batista e um basta ao imperialismo estadunidense. O Partido Comunista Cubano esteve contra, desde o Assalto ao Quartel de Moncada, em Santiago de Cuba. Era uma revolução popular, inspirada no político, pensador, jornalista, filósofo e poeta cubano José Martí e não em Karl Marx, inclusive, a fé religiosa dos cubanos não foi proibida e sequer sua arte foi descaracterizada em prol do realismo socialista. A Revolução de 1959 assegurou a independência de Cuba como nação e impôs limites à expansão imperialista dos EUA.

Com a derrota de seu anfitrião na Ilha, o ditador Fulgêncio Batista, aos 17 de abril de 1961, os EUA invadem Playa Girón, entrada da Baía dos Porcos, com mais de 1.500 homens armados para a guerra, tanques, artilharia e mais de 30 aviões. Mas em apenas 66 horas a brigada invasora e mercenária sustentada pelos EUA foi derrotada pelo exército e o povo cubanos. Primeiramente, os pelotões de observações do batalhão com 399 das milícias nacionais revolucionárias e das milícias camponesas enfrentando os agressores que, ao darem o alarme da invasão, retardaram o avanço do inimigo. Depois, os alunos da Escola de Oficiais da Milícia e dos batalhões de milícias constituíram a força inicial de choque, em Pálpite, derrotaram os mercenários, forçando sua retirada. Além da juventude que estava em campo cumprindo com o slogan: “Muerte a los invasores!”, afundando parte da frota naval inimiga, forçando outra a se retirar, derrubando cinco aviões dos mercenários.

Derrotados os mercenários, os cubanos constataram que dentre os 1197 prisioneiros, 800 deles eram proprietários ou parentes de pessoas que, antes da revolução, detinham 370.628 hectares de terras em Cuba, 9.666 casas e edifícios, 70 centrais açucareiras, cinco minas e dois bancos. Também havia entre eles 135 ex-militares da ditadura de Fulgêncio Batista e 65 delinquentes, dos quais cinco eram conhecidos como assassinos e torturadores. Nesse momento, Fidel Castro declarou que o país seria socialista. Os EUA cortam relações diplomáticas e, em 1962, impõem o bloqueio.

Havia antecedentes, antes do bloqueio, pois no ano seguinte à Revolução, em 1960, inconformado com a nacionalização de empresas estadunidenses pelo governo de Fidel Castro, o presidente norte-americano Dwight Eisenhower, como retaliação econômica, reduziu importações de açúcar da Ilha, acreditando – sem sucesso – que assim derrotaria o governo cubano.

Em 1961, antes da invasão de Playa Girón, em 3 de janeiro, os EUA rompem oficialmente as relações diplomáticas com Cuba. Em seguida, no governo de John Kennedy, se opera a invasão de Playa Girón, com a ajuda da CIA, o grupo de mercenários cubanos exilados tentam derrubar Fidel e são derrotados.

Em 24 de março, John Kennedy decretou embargo total sobre Cuba. E, em outubro de 1962, impõe um bloqueio naval impedindo que navios da URSS entregassem novos mísseis em Cuba e exigindo o desmantelamento dos que já estavam na Ilha. Foram várias as sanções para isolar Cuba da comunidade internacional, atravancando todas as relações diplomáticas ou comerciais com outros países.

Durante todo esse tempo os EUA seguem rigorosamente esse bloqueio e, com a queda do Muro de Berlim, em 1989 e, com o colapso da URSS, em 1991, Cuba foi atingida em cheio em sua vida relativamente tranquila garantindo alimentação gratuita, todos os cidadãos trabalhando para o governo, boa saúde pública e educação também gratuitas, além do direito de moradia. A relação desfavorável de importação e exportação de Cuba, muda drasticamente sua realidade. Os EUA acreditaram no nocaute, o fim da Revolução.

Em 1989, com George Bush no poder, é aprovada no Congresso a Lei Torricelli, conferindo poder às sanções dos EUA contra Cuba, de caráter extraterritorial proibido pelo direito internacional. E, a partir de 1992, qualquer navio estrangeiro, independentemente de sua procedência, se ancorasse em porto cubano ficaria extremamente proibido de entrar nos EUA pelo prazo de seis meses, também impondo sanções a qualquer país que fornecesse assistência a Cuba.

Depois, em 1996, na administração de Bill Clinton, a Lei Helms-Burton acrescenta a retroatividade à extraterritorialidade, mais um ato proibido pelo direito internacional, violando até mesmo o direito norte-americano, sancionando qualquer empresa, até as norte-americanas, que se instale nas propriedades nacionalizadas a partir de 1959.

Apesar do lobby agrícola dos norte-americanos, em 2000, conseguindo um relaxamento das medidas para vender sua produção à Cuba, havia condições restritivas nas negociações, impondo pagamento adiantado e em dinheiro, sem possibilidade de crédito ou pagamento em outra moeda que não fosse o dólar que os estadunidenses fabricam em casa.

Na administração de George Bush, quatro anos depois, os EUA criaram a Comissão de Assistência para uma Cuba Livre, dissimulando novas sanções, desde a limitação das viagens a Cuba e, em 2006, para prejudicar a cooperação médica internacional que é uma importante fonte de divisas para Cuba, essa comissão proíbe as exportações de aparelhos médicos “destinados ao uso em programas de grande escala para pacientes estrangeiros”.

Com Barack Obama, em 2009, foram revogadas as limitações de viagens e remessas impostas em 2004. Essa reaproximação chegou ao ápice em 10 de dezembro de 2013, durante uma cerimônia de homenagem a Nelson Mandela, quando Obama e Raúl Castro trocaram um considerado “histórico” aperto de mãos”.

Duas semanas antes de Fidel Castro morrer, aos 90 anos, em 8 de novembro de 2016, o republicano Donald Trump venceu a eleição presidencial e acabou por destruir todos os supostos esforços do antecessor em amenizar as relações dos EUA com Cuba.

Aos que não sabem que a diferença entre os republicanos e os democratas é só a cor da coleira, a eleição de Joe Biden parecia apontar como uma esperança de relações humanitárias entre os EUA com Cuba. Mas ele vem se mostrando tão hostil e cruel com Cuba como John Kennedy e todos os outros que o sucederam.

Agora, em meio à pandemia, os EUA, com a CIA e a OEA patrocinam grupos antirrevolucionários como se o problema fosse o sistema cubano e não consequência do bloqueio, respaldados pela imprensa burguesa internacional com seu discurso hegemônico do capitalismo como a última página da história. Privando ao país o acesso aos meios de combate à Covid-19, nesse momento em que o isolamento restringe o turismo, uma das principais rendas da ilha caribenha.

Nesse projeto cruel e desumano, está claro que não é somente contra Cuba, essa pequena Ilha pobre do Caribe, mas uma estratégia dos EUA para desmoralizar o exemplo do socialismo cubano como possibilidade de superação do capitalismo nas questões humanitárias. Equivale à ideia de um cientista que queira medir o tempo de vida de um peixe o colocando fora d’água.

Compreendemos as questões internas da realidade cubana, pois nenhum sistema é perfeito e toda revolução é permanente, principalmente quando todos os inimigos ainda estão de plantão. Mas o que realmente incomoda em Cuba é a insuportável resistência de um país tão pobre e pequeno não se ajoelhar diante do Império e não os erros da Revolução.

A Revolução Cubana, em apenas 62 anos de vida, tem cumprido a duras penas muitos dos seus ideais socialistas, ao passo que a revolução burguesa, em seus 232 anos, nunca conseguiu colocar em pauta nenhuma de suas promessas de “Igualdade, Fraternidade e Liberdade”.

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