Neste domingo, 25, os chilenos irão às urnas para responder a duas perguntas: se desejam convocar uma Assembleia Nacional Constituinte e quem a comporá.
O plebiscito nasceu dos protestos massivos que explodiram na noite de 18 de outubro de 2019 – o estallido social – e se estenderam até serem interrompidos em fevereiro deste ano, pela chegada do coronavírus ao país. Iniciado pelos estudantes, contra o aumento de 30 pesos nas passagens do metrô de Santiago, rapidamente foi ampliado com a adesão de praticamente todos os setores sociais, com suas demandas específicas: a desigualdade social, o custo do sistema privado de pensão, a repressão estatal, o alto endividamento das famílias, as privatizações neoliberais até do serviço de distribuição de água, a grave poluição industrial, a violência e opressão contra as mulheres, a usurpação de terras e os massacres de Mapuches, a única etnia indígena ainda sobrevivente de cinco séculos de extermínio naquele território.
O que começou com estudantes secundaristas, a pular as catracas do metrô da capital, se alastrou pelo país e despertou a fúria contida durante 30 anos de uma democracia determinada pela ultraconservadora Constituição de 1980, imposta pela mais cruel ditadura do continente.
Nem o Estado de Emergência, nem o toque de recolher, nem as tropas dos Carabineiros e do Exército foram capazes de conter os protestos de rua, que feriram tantos policiais quantos civis, forçaram a queda imediata de oito ministros e forçaram a convocação do plebiscito deste domingo – que pode convocar a primeira “Constituinte feminista do mundo”: meio a meio dos mandatos divididos entre homens e mulheres, como propõe a esquerda.
Esse processo vem sendo acompanhado pelo jornalista Aldo Quiroga, da TV Cultura de São Paulo. Ele foi ao Chile ouvir as demandas que convergiram para produzir o estallido. E documentou as impressionantes marchas pelas avenidas da capital e a ocupação da praça Baquedano, que a violência policial não conseguiu impedir. Foi esta ocupação que inspirou o título do documentário, extraído do poeta Castro Alves “a praça é do povo, como o céu é do condor”.
Link: “Como o céu é do condor” . Duração: 54 minutos
Sobre o mesmo tema, o Terapia Política publicou o artigo de Rodrigo Stumpf González “Chile: terremotos e plebiscitos”.