“It’s the economy, stupid!” (É a economia, idiota!) é uma pequena variação da frase “The economy, stupid!” (A economia, idiota!), cunhada em 1992 por James Carville então estrategista da campanha presidencial de Bill Clinton contra George H. W. Bush, presidente dos Estados Unidos na época.

Eu ando “surtando” com a pasmaceira do governo federal! Já tendo passado um ano, naturalmente esgotou-se o crédito que eu e toda a torcida do Flamengo lhe déramos. E como me considero membro do “EIR – Exército Intelectual de Reserva”, já estou na idade de poder soltar por aqui minha norma “culto-chula”.

Meu problema é o “jeito Lula” de fazer política. Tenho sempre repetido. Ele tinha o José Alencar pra fazer articulação com a indústria e setores produtivos. Teria também o apoio tópico de Fernando Henrique Cardoso para apoiar reformas pontuais no Congresso. Mas preferiu comprar com o Mensalão os mesmos que ele chamou de “300 picaretas”. E agora com o troca-troca das emendas parlamentares. É o que ele sabe fazer. Ele não sabe usar a capacidade de pressão do empresariado, inclusive o multinacional, claro, para direcionar os Liras, Alcolumbres, etc, num jogo de “ganha-ganha.” Hoje é: “Farinha pouca, meu PIB primeiro”. Agora tem Tebet (que sumiu) e Alckmin. Mas não conta com eles na questão estratégica principal: fazer o país crescer sustentadamente a 5% ao ano ou mais, o que seria bom pra todo mundo!

Lula hoje não tem nenhum instrumento para acelerar a taxa de crescimento. A única decisão autônoma (portanto instrumental) de gasto é o investimento público. Vá lá: habitação e saneamento financiados por dinheiro público não orçamentário (Caixa Econômica), mais os investimentos de uma ou outra empresa pública, (caso óbvio da Petrobras). Mas é muito pouco. O BNDES fala em lançar seus próprios títulos de dívida: é pouco; tapar buraco em rodovias, estaduais ou federais, é jogar dinheiro fora; há gargalos de todo tipo na infraestrutura. Entreguem as ferrovias aos chineses! Devem estar doidos pra pegar, custeando em yens. E eles têm aquelas técnicas “milagrosas” de pré- montagem, ao menos a curto prazo, para recuperar e modernizar ramais existentes.

Tudo bem que estamos atrasados em tecnologia. Mas temos problemas do século XIX…! Lula não precisa de 30 anos pra inverter tendências.

Será que não veem? 2% ou 3% ao ano de crescimento é suicídio político! E não veem que sem crescimento elevado e sustentado não se muda estrutura concentrada da renda e da riqueza?

Alguém perguntará: e se vier inflação? Digo: hoje temos moeda! Pra não falar nas reservas internacionais! Antes do Real não tínhamos. Hoje a inflação é controlável! E não falo só de controle monetário. Falo de políticas tradicionais de regulação macroeconômica, inclusive fiscal. O problema inflacionário agora não é monetário. É de natureza estrutural! São custos, falta de escala, gargalos. Somos escravos do diesel, por exemplo. Pior. Com a revolução tecnológica, aprofundam-se os diferenciais de produtividade no interior do sistema econômico, o que um dia foi chamado de “Belíndia” pelo Bacha, depois de “Ornitorrinco” pelo Chico de Oliveira e, pelo conceito mais abrangente, de “Heterogeneidade Estrutural” (Anibal Pinto).

E os ricos, a alta classe média vão sempre bem! Taxas de juros altíssimas circulam como renda para o consumo rentista. Os ricos e a alta classe média adoram!… Os pobres nem são bancarizados. Esses banquinhos virtuais servem pra pobre fazer pix. Não expandem crédito.

Tem que atacar a distribuição da renda e da riqueza! A atual, pela heterogeneidade estrutural, é inflacionária.

Ah! Mas “o Congresso é conservador”… Digo: Lula tem que ir pra TV e pras ruas!

Já meteu o pau no Netanyahu. Agora tem que meter o pau nessa vergonha nacional da renda. E isto só se faz combinado ao crescimento. E traz junto a Tebet e o Alckmin… Se Lula entrasse por este caminho, logo descobriria que precisa ter plano (Art 174 e seu § 1º da Constituição). E logo se lembraria de aprimorar o “Conselhão”, que ele mesmo criou e está vigente, voltando-o para assessorar o Planejamento.

Ah! Mas dependemos da “conjuntura econômica internacional”, da “economia globalizada”, etc.

Digo: O Brasil é um dos poucos países do mundo com significativo grau de autonomia decisória em política econômica. Pertence ao pequeno grupo de países de grande extensão territorial, grande população e mercado interno, com muitos recursos naturais e ainda grande potencial de sustentabilidade. É um dos chamados “países baleia”. E a renovada metodologia de planejamento socioeconômico dá conta das relações e interações estratégicas entre os grandes agentes econômicos, dos atores políticos e das incertezas fora de qualquer controle.

Preocupo-me com a quase ausência pública de quadros experimentados como, para citar, Luciano Coutinho e Luiz Gonzaga Belluzzo, por exemplo. Mas estes não têm pra quem falar neste governo… Falar talvez, para o Lula, quando a conjuntura política “mostrar os dentes”… “(…)The economy, stupid!”

Penso num shadow cabinet para a formulação de um plano alternativo.

Do jeito que está não se consegue dar consistência, coerência, ao complexo de idéias corretas. Veja-se o caso da recém lançada política industrial. Há um debate com críticas mais que corretas. Essa é uma problemática onde Luciano deveria ser referência. O “companheiro Alckmin” precisa de um “orientador” em economia…

A Tebet, depois de um excelente discurso de posse, andou falando umas besteirinhas sobre suposta disponibilidade de recursos públicos para investimento, e…, e… anda caladinha!… rsrs

Belluzzo deu uma ótima entrevista recentemente sobre política macroeconômica. Como sempre uma aula, convidativa a não especialistas. Mas aproveito para trazer minha crítica, por considerá-la absolutamente central neste momento. Não concordo com a aprovação que ele dá à gestão do então Ministro Mantega. Influenciado talvez pelo “social-desenvolvimentismo”, Mantega fez a desoneração dos bens de consumo duráveis, aqueles da chamada linha branca, por exemplo. Mas também as enormes TVs de tela plana, pra embelezar a sala dos favelados… Acreditaram num círculo virtuoso entre consumo de duráveis e investimento industrial (o velho efeito acelerador), ajudado pelos programas de transferência de renda e aumento real do salário mínimo. Esqueceram-se inteiramente da outra (e principal) perna do crescimento: o gasto autônomo em investimento público, que tendeu a zero! Uma leitura errônea e trágica de Celso Furtado, pelos “social-desenvolvimentistas”. Bem que fizeram depois uma autocrítica “envergonhada”, mas só pra bons entendedores…

Resumindo:

Acho que temos uma oportunidade. Lula está “fu”, se não der uma virada. O setor produtivo é aliado potencial. Estou falando de “jogo cooperativo”. Não se trata de alinhamento absoluto com o governo. Isto não existe, obviamente. Mas Lula só quer conversinha com Lira… Tem que conversar com as indústrias! Alguém dirá: “isso o Alckmin já faz.” O problema é outro: é crescer a 5% ao ano, …ou mais! Como somos “vira latas”, chama o Fishlow e o Stiglitz, porra! Prestem atenção também no André Lara Resende, um liberal “acima de qualquer suspeita”… A GloboNews ia ficar “maluca”….

Falando sério: se não muda, a direita já chegou!… (Para uma leitura acadêmica, segue de meu artigo “Planejamento Indicativo: elo perdido do desenvolvimento”)

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Os artigos representam a opinião dos autores e não necessariamente do Conselho Editorial do Terapia Política. 

Ilustração: Mihai Cauli  e  Revisão: Celia Bartone
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