Alguns tópicos velozes

  • O assassinato de João Alberto, em Porto Alegre, teve seis indiciados, todos do escalão inferior da rede Carrefour e da empresa de segurança;
  • Em comunicado, a rede promete mudar sua atitude e doar dinheiro para entidades;
  • A rede condena os fatos, mas não assume como sua a responsabilidade pelos mesmos;
  • A asseguradora diz não compactuar, e demite os envolvidos;
  • A rede não demite ou pune nenhum funcionário de escalão superior aos indiciados;
  • Polícia Civil e Ministério Público não indiciam nenhum funcionário da rede ou da empresa de segurança de escalão acima dos seis inferiores;
  • O inquérito anexou o protocolo de segurança e treinamento do Carrefour?
  • A Polícia Civil ouviu os CEOs da empresa? Ouviu os gerentes de loja? Os diretores regionais?
  • Ministério Público diz que o crime inclui racismo, desde o assédio prévio a João dentro da loja, sua humilhação na caminhada, e a demorada e prolixa ação criminosa.

Lembrando

  • Na década de 1990 na França, a queda da arquibancada do Estádio de Ajaccio, com morte de torcedores, gerou culpabilização penal de toda a cadeia de autorização, fiscalização e segurança, chegando aos ministros correspondentes;
  • Também na França, a procrastinação reiterada e intencional do Ministério da Saúde durante alguns anos para a liberação do “pacote anti-AIDS” levou à condenação de diversos funcionários até o ápice da cadeia vertical de decisão;
  • Na Argentina, Alemanha, França e outros países, os crimes de lesa-humanidade cometidos por militares e policiais de baixo escalão levaram a condenações “milenares” de toda a cadeia de comando vertical, horizontal e de participação necessária, incluídos todos os generais;
  • No caso atual do desaparecimento do submarino San Juan, toda a cadeia de comando está sendo investigada na Argentina, chegando ao ex-presidente Mauricio Macri, ministros e mandos médios.

A impunidade

  • É estimulo para novos crimes;
  • Está implícita na atitude da empresa Carrefour, que toca superficialmente o problema e não dá o exemplo em sua própria carne, sem demitir sua diretoria nacional de segurança, que sai, portanto, respaldada pelo Carrefour. O mesmo com a asseguradora;
  • É impossível que tais funcionários agissem como agiram sem obedecer às normativas e treinamento das duas empresas, sem sentir-se apoiados para agir;
  • Fica evidente que os empregados se sentiam estimulados para agir como agiram, à luz do dia, em espaço público e sob a filmagem de diversas câmeras. Ou talvez devessem eles, no calor do momento, decidir qual atitude tomar, se espancar, se parar, se matar, em sucessivos incidentes no dia-a-dia?
  • O não indiciamento dos dirigentes, organizadores, treinadores e chefes executores do assassinato sugere a existência de um “muro de aço” entre os fatos revelados pelas câmeras e estes mesmos executores, como se fossem dois mundos a milhares de distância um do outro, quando na verdade estão em ligação íntima, sendo o espancador apenas o braço perverso do superior mandante;
  • A julgar pela acusação, o crime foi uma “aparição” repentina no chão do mercado, sem relação com o entorno empresarial que o organiza e explica;
  • Como em Brumadinho, Boate Kiss, Vladimir Herzog, casos Marielle e “músico errado”, termina por proteger os hierarcas e se entregam algunspeixes pequenos” para distrair a opinião pública.

NR: Um texto do Raul Ellwanger não poderia acabar sem uma música. Sua escolha foi Samba do lero – Cantares por ironias politicas e sociais, bate na veia. Ouça: https://youtu.be/-jjRgXcCmrs