O título do artigo é uma frase do Chacrinha, famoso animador de auditórios que jogava bacalhau na plateia, fazia piada com os calouros e promovia vários artistas em seus programas. Chegou a ser considerado um dos artistas mais famosos da Tropicália. Era o circo para a maioria da população que não tinha pão.
O nosso presidente, Jair Bolsonaro, o ‘Capitão Corona’ ou ‘Capitão Cloroquina’ do Brasil, como é chamado pela imprensa internacional, não promove o circo. Promove a destruição. Aposta na negação de vírus e na morte. Como disse quando perguntado sobre o número de mortos: “E daí”.
É um governo cujo propósito é destruir. Isso é o que o distingue de todos os governos que o precederam. Não é o combate à corrupção. E o caminho para isso foi construído pela antipolítica da Operação Lava-Jato: a luta contra a corrupção. Não que tal luta não seja importante. É. Mas não é uma política positiva. Não se constrói uma sociedade só com ela. Porém, águas passadas não movem o moinho. Temos que olhar o futuro.
A grande contradição é que o ‘Capitão Corona’ pode emergir politicamente mais forte da sua infecção pela Covid-19 e da pandemia. Ele está fazendo política contra tudo que ele dizia sobre os parlamentares, seus companheiros de mais 30 anos de mandato na Câmara dos deputados. Nada como a sobrevivência para mostrar que somos o que fazemos ou para transformar o que somos. Articula com o centrão para formar uma barreira a um possível, mas não provável, processo de impedimento. Começa a alterar a sua imagem para “Capitão Paz e Amor”.
Essas aparências não podem enganar para o verdadeiro perigo que ele representa. Bolsonaro é perigoso, mas não é idiota. Ao contrário. Ele tem dado mostras que sabe calcular muito bem os seus passos políticos. Gostemos ou não, tem uma clara visão de mundo: autoritária, preconceituosa, meritocrática, individualista e com um profundo desrespeito pela vida humana.
O caminho certo para entender o que está acontecendo com a política e a economia na pandemia no Brasil passa por evitarmos o jogo no seu campo: a guerra cultural e de costumes.
A pandemia vai causar uma crescente desigualdade social e econômica. Isso é o que representa ameaça à democracia. A crescente desigualdade, o esvaziamento econômico e social da classe média, o aumento do desemprego nas camadas populares são tendências que já estavam presentes antes da pandemia e serão exacerbadas pelo coronavírus. Essas tendências aumentam o risco de minar a democracia constitucional e trazem o perigo do regime autoritário.
Em uma democracia, as pessoas não são apenas consumidores, trabalhadores, empresários, poupadores ou investidores. São cidadãos. Esse é o vínculo que une as pessoas em um esforço compartilhado. A cidadania requer lealdade às instituições políticas e jurídicas democráticas e aos valores do debate aberto e da tolerância mútua que os sustentam; preocupação com a capacidade de todos os cidadãos terem emprego e renda para construir uma vida digna e o desejo de criar uma economia que permita o florescimento da civilização no país.
Ao acelerar tendências, a crise social só tende a aumentar. Porém, a emergência sanitária e social abriu espaço para a execução do piloto de uma política de renda mínima, o que vem deixando o neoliberalismo falando sozinho. Temos que insistir na proposta de transformar o auxílio emergencial em permanente. Temos que fortalecer o Sistema Único de Saúde-SUS. Temos que reivindicar um ministro de Saúde que não seja um cumpridor de ordens para uso da cloroquina. Temos que fortalecer os mecanismos de seguridade e proteção social. Temos que pressionar para o crédito chegar nas pequenas e médias empresas. O FUNDEB tem que ser mantido e ampliado. A política de educação não pode ser de guerra cultural. Os direitos do trabalhador não podem ser cortados. Sem emprego e sem renda o cidadão perde a sua dignidade.
Esse é o nosso campo de luta. Pressionar pelas políticas de emprego, salário e saúde. Um exemplo dessa ação da Frente Democrática foi a aprovação do auxílio emergencial. O ‘Capitão Corona’ e o Guedes propuseram um auxílio ridículo e indigno de R$ 200 por três meses e restrito aos cidadãos considerados vulneráveis. Foi na Câmara dos Deputados, que o programa se construiu. Nas negociações finais, o valor que já tinha sido aumentado para R$ 500 por mês, subiu para R$ 600 por proposta do governo. O inefável Guedes ainda quis tirar o caráter de renda mínima do auxílio emergencial, para denomina-lo “coronavoucher”. A ideologia do ajuste fiscal é maior do que a vida das pessoas.
Desde abril até o início de julho, o auxílio emergencial adicionou R$ 120 bilhões (1,8% do PIB). Prorrogado até agosto com a ampliação dos elegíveis e se todos conseguirem acessá-lo, mais R$ 250 bilhões entrarão no circuito de renda e gasto da economia (equivalentes a 3,8% do PIB).
Os recursos para a sobrevivência dos vulneráveis e informais estão melhorando a fraca atividade econômica e impedindo que a recessão se amplie nos indicadores de dinamismo. Mesmo que ainda mostrando sinais de reação vagarosa, estão melhores do que os estimados pela maioria das consultorias econômicas.
O foco para a construção de uma frente democrática que nos leve a uma ampliação da acumulação de forças para enfrentar as eleições municipais deste ano e derrotar o ‘Capitão Corona’ em 2022 deve ser a resistência à destruição de tudo o que construímos a partir da redemocratização. A política de construção da Frente Democrática é a política da construção da vida e não da sua destruição. Os cidadãos não podem se sentir culpados ao reivindicarem a proteção social como um direito legítimo, e serem humilhados pela dependência dos programas governamentais.
Esse é caminho para derrotarmos o ‘Capitão Corona’ em 2022. O impedimento só virá como um acidente de percurso do ‘Capitão Corona.’