John Maynard Keynes é o maior economista político de todos os tempos, embora muitos se refiram a ele como um macroeconomista. A visão de Keynes era que os problemas do sistema ou a sua própria superação deveriam ser resolvidos com uma abordagem de economia política. Como ele disse em seu panfleto The Means to Prosperity, economia política é “… uma mistura de teoria econômica com a arte de estadista”. Em poucas palavras, a economia política está preocupada com a interação de duas dimensões: política e economia.

A arte da política requer persuasão e publicismo. Keynes utilizava veículos acadêmicos, panfletos, jornais e revistas para divulgar suas ideias. Durante a Grande Depressão dos anos 1930, Keynes foi perguntado se o governo estado-unidense deveria continuar aumentando as suas despesas visando uma recuperação – tal como havia programado o New Deal de F. D. Roosevelt.

Abaixo uma tradução livre de fragmentos da resposta de Keynes. É um dos textos mais brilhantes do economista político (e habilidoso publicista) sobre o tema, é simples e complexo. É brilhantemente criativo. Para Keynes, quem fazia extravagância eram governantes que não gastavam e deveriam ser considerados LUNÁTICOS. Pasmem: o artigo foi publicado na RedBook, numa revista voltada para o público feminino nos Estados Unidos.

OS ESTADOS UNIDOS DEVEM GASTAR PARA SAIR DA DEPRESSÃO?

  1. Ninguém do senso comum poderia duvidar disso, a menos que sua mente tivesse sido desordenada por um financista “sólido” ou por um economista “ortodoxo”. ()
  2. É impossível supor que possamos estimular a produção e o emprego evitando gastos. ()
  3. Gastar significa extravagância? Um homem que é extravagante logo se tornaria pobre. Como, então, uma nação pode ficar rica fazendo o que deveria empobrecer um indivíduo? É esse tipo de raciocínio que deixa o público confuso. ()
  4. Quando um indivíduo gasta, ele afeta não apenas a si mesmo, mas a outros. Gastar é uma transação frente e verso. Se gasto minha renda comprando algo que você pode fazer por mim, não aumentei minha própria renda, mas a sua. Se você responder comprando algo que eu posso fazer para você, minha renda também aumentará. (…)
  5. Se todos gastam com menos restrições, todos se tornam mais ricos e ninguém será empobrecido. Cada homem se beneficia das despesas de seu vizinho (...)
  6. Abster-se de gastar em um momento de depressão, não apenas falha, do ponto de vista nacional, em aumentar a riqueza – é extravagância: significa desperdício de mão-de-obra disponível e desperdício da energia disponível nas máquinas ()
  7. A nação é simplesmente uma coleção de indivíduos. Se, por qualquer motivo, os indivíduos que compõem a nação não estão dispostos a gastar o suficiente para empregar os recursos com os quais a nação é dotada, então deve ser o governo, que é o representante coletivo de todos os indivíduos na nação, que deve preencher essa lacuna. Pois os efeitos das despesas do governo são precisamente os mesmos que os efeitos das despesas dos indivíduos (…)
  8. Quando o governo toma emprestado para gastar, indubitavelmente, o país fica endividado. Mas a dívida de uma nação com seus próprios cidadãos é uma coisa muito diferente da dívida de um indivíduo. A nação são os cidadãos que a compõe – nem mais nem menos – e dever dinheiro aos cidadãos não é muito diferente de dever a si próprio. ()
  9. Se indivíduos se recusam a gastar, então o governo deve fazer isso por eles. Seria melhor se eles fizessem, mas isso não é argumento para [o governo] não fazê-lo. ()
  10. Tomemos, para fins de ilustração, um projeto de construção de uma hidroelétrica pelo governo. O governo paga salários com dinheiro emprestado aos homens que empregou. Mas o benefício não para por aí. Esses homens, que antes estavam desempregados, agora estão recebendo salários do governo, gastam esses salários em … camisas, botas e afins. Os fabricantes dessas camisas e botas, que até então estavam desempregados, gastam seus salários e, assim, estabelecem uma nova onda de empregos adicionais, de produção adicional, de salários adicionais e de poder de compra adicional. E assim continua, até descobrirmos que para cada homem realmente empregado pelo governo, três ou talvez quatro homens adicionais são empregados para suprir suas necessidades e as necessidades uns dos outros. (…)
  11. Isso não é tudo. O desemprego estabelece um sério sacrifício financeiro para os governos municipal, estadual e federal. A diminuição do desemprego significaria uma redução considerável nas despesas com o apoio aos desempregados. Ao mesmo tempo, os recebimentos da tributação aumentariam à medida que a renda tributável do país aumentasse… Esses importantes fatores devem ser observados antes que se diga que os gastos do governo envolvem dívida adicional improdutiva. (…)
  12. A depressão é ela própria a causa dos déficits do governo, resultantes do aumento das despesas de apoio aos desempregados e da queda no rendimento da tributação. A dívida pública é inevitável em um momento em que o gasto privado é inadequado: é melhor contrair dívida ativamente gerando emprego e promovendo a atividade industrial do que sofrer passivamente como consequência da pobreza e da inatividade. (…)
  13. Não há melhor maneira pela qual os Estados Unidos podem se dedicar à prosperidade do que gastando na construção de casas. A necessidade está esperando para ser satisfeita; o trabalho e os materiais estão aguardando para serem utilizados. Esse gasto espalhará o emprego para diversas localidades. Não há maior benefício social e econômico do que boas casas. ()
  14. O homem que considera tudo isso como uma extravagância ou algo sem sentido que empobreceria a nação, em comparação com não fazer nada e abandonar milhões de desempregados, deve ser reconhecido como um lunático. ()
  15. É difícil organizar rapidamente qualquer tipo de projeto de construção de casas em uma escala suficiente. Enquanto isso, outras formas de despesa do governo… não devem ser desprezadas. Mesmo as despesas de transferência de dinheiro são muito melhores que nada. O objetivo deve ser elevar a despesa total a um número alto o suficiente para empurrar a vasta máquina da indústria americana (…).