Se Lula se mantiver na frente nas pesquisas eleitorais do início de 2026, vai acabar atraindo mais apoios e a disputa pela presidência será menos árdua.

Pesquisas em meados de dezembro, já com a configuração de candidatos às eleições presidenciais do ano que vem incluindo o senador Flávio Bolsonaro, lançado pelo pai e endossado pelo PL, se mostraram bastante confortáveis para o atual governo e seu candidato à reeleição, o presidente Lula.
Todas as simulações feitas na pesquisa Genial/Quaest (disponíveis online em https://quaest.com.br/lps/lp-pesquisa-eleitoral-2026-genial-quaest/) mostram Lula na frente, com vitórias consolidadas contra quaisquer dos candidatos de oposição considerados (Flávio Bolsonaro ou os atuais governadores de São Paulo, Paraná, Goiás e Minas Gerais) no segundo turno. Mostram ainda Lula liderando no primeiro turno contra qualquer um deles, sendo importante apontar que Flávio, lançado recentemente contra governadores que estão há meses em campanha, aparece na frente destes qualquer que seja o candidato escolhido entre eles. Mostra ainda, no primeiro turno, que outros candidatos testados na pesquisa, como Aldo Rebelo (pela Democracia Cristã), Renan Santos (pelo Partido Missão, estruturado pelo MBL) ou Ciro Gomes (agora pelo PSDB) aparecem com percentuais pequenos, fora Ciro, que mantém um patamar de pouco menos de 10%. Só para ter ideia, Lula aparece com números entre 34% e 41%, Flávio Bolsonaro com entre 21% e 27%, os governadores entre 4% e 13% (e, entre estes, Ratinho Jr., do Paraná, é quem aparece um pouco melhor).
Esses resultados, além de um número equilibrado entre os que avaliam positivamente e negativamente o governo atual, mostram algumas coisas. A primeira é que continua uma forte polarização, e parece quase impossível dissolver essa polarização (e a campanha nem começou – quando começar, o embate deve levar a uma polarização ainda maior entre governo e bolsonarismo). Ou seja, a ideia da construção de uma candidatura de centro segue bastante distante, e não deve ser possível de ser construída para esse processo eleitoral.
O segundo ponto é que, apesar da tentativa de construção de uma candidatura de um dos governadores para representar a oposição ao governo, o nome que aparece como mais competitivo ainda é um que tenha o sobrenome Bolsonaro. Assim, não parece ter adiantado todo o esforço dos governadores e de setores econômicos que os sustentam, como boa parte do agronegócio e parte importante do mundo dos interesses financeiros (que acabou ficando conhecido no debate pela rua de concentração das instituições financeiras na cidade de São Paulo, a Faria Lima). Flávio se mostrou mais viável para disputar em especial o primeiro turno, mas praticamente garante a vitória de Lula no segundo turno, por operar com um alto nível de rejeição, cerca de 60%. Entretanto, caso o candidato de oposição fosse um dos governadores, o seu desempenho seria pior do que o de Flávio (enquanto Flávio faz 36% no segundo turno, os governadores variam de 33% a 35%, todos no mesmo patamar, dentro da margem de erro).
Em qualquer dos casos, Lula faz de 44% a 46%, e ganha no segundo turno. Mas o que é relevante aqui é que os governadores parecem herdar de alguma maneira a rejeição do bolsonarismo. Ou seja, apesar da rejeição dos govenadores ser menor, eles acabam não melhorando o desempenho da oposição no segundo turno. Mesmo a tentativa de trazer o tema segurança para o centro do debate parece não ter surtido muito efeito positivo para a oposição até aqui, já que esse tema é muito mais estadual do que federal, e neste nível, a Polícia Federal tem se mostrado bastante ativa e eficiente, reforçando a atuação do Executivo federal no tema.
Pesquisas são um retrato momentâneo da situação, do instante em que são feitas. Entretanto, para além de questões como acompanhamento e torcida, as pesquisas têm um papel político importante, por dar o contexto em que os atores políticos vão se mover. Apesar de não viabilizar um candidato, o centro político existe, assim como existem partidos e segmentos políticos que podem mudar de posição, e também as diferenças existentes entre os próprios partidos nas diferentes regiões, e movimentos que podem representar “oportunismo” eleitoral (lembrando que o termo oportunista não é necessariamente pejorativo, quando falamos no futebol de um centro avante oportunista, isso é uma qualidade). Deputados, senadores e governadores de diversos matizes vão tentar se eleger no ano que vem, e a sustentação de candidatos com grande rejeição ou inviabilidade eleitoral junto a um eleitorado atento pode representar um ônus, e isso pode acabar motivando o posicionamento desses candidatos em relação à eleição presidencial.
Assim, entrando na frente, e seguindo na frente no primeiro trimestre do ano que vem, o candidato Lula pode acabar atraindo apoio de quem quiser tornar a sua disputa eleitoral menos árdua, ampliando sua base política de sustentação. Dessa forma, as pesquisas desse final de ano podem ir ajudando a criar um quadro positivo para a candidatura de continuidade do governo. Esse é um retrato, sujeito a grande debate e oscilações (nacionais e internacionais, como temos visto), mas que vai se desenhando até aqui.
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Ilustração: Mihai Cauli e Revisão: Celia Bartone
Leia do autor “Eleições 2026: a direita tenta jogar no seu campo“.
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