Marcio é nosso autor mais lido, um recordista capaz de ter seu artigo semanal visualizado por quase cinco mil leitores. Nestes três anos de existência do Terapia Política, publicou, em média, quatro e meio artigos por mês. Outro recorde. Se observarmos com atenção, em todos seus textos sua principal preocupação é com a democracia, o desenvolvimento brasileiro e o engajamento para construção de um país inclusivo, menos desigual.
Desde o início de sua trajetória acadêmica e profissional, ainda como estudante de economia na UFRGS, desenvolveu uma capacidade invejável e rara de navegar com desenvoltura entre vários mundos.
Marcio está longe de ser um típico membro da tribo dos Econ, ironicamente descrita pelo economista sueco Axel Leijonhufvud em “A vida entre os Econ”. Os Econ vivem no longínquo norte frio e melancólico, ao qual se aprisionam com amor quase doentio. Entre seus principais saberes está o de desprezar os habitantes das terras mais quentes ocupadas por seus vizinhos, os Polcis e os Sociogs. Até o Econ mediano encara seus vizinhos com indisfarçável desconfiança e desdém, estabelecendo-se bloqueios que impedem as relações entre as três tribos.(1)
O espirito extremado, árido e xenofóbico da vida no clã dos Econ torna dura e radicalmente seletiva a vida entre eles – os que seguem fiel e cegamente as regras modulares (o moldado e o pré-moldado) ocupam as castas superiores, os outros são vistos como indesejáveis, impuros e tendem a ser expulsos da tribo. Nosso colaborador, agora cotado para ocupar a Presidência do IBGE não ficou refém das visões dogmáticas do saber econômico.
Para os que dizem não ter familiaridade com estatística, vale mencionar que iniciou sua atividade profissional em meados da década de 1980 no Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos, onde ingressou nos estudos de trabalho e do mercado de trabalho. Esse foi o “batismo de fogo” de Marcio Pochmann na atividade profissional.
E quando se menciona o Dieese, um fato que vem imediatamente à memória é a denúncia de que a ditadura militar estava manipulando o índice oficial de inflação de 1973 (IGP). Este episódio tornou o órgão ainda mais reconhecido e respeitado.
Como professor doutor em economia pela UNICAMP, foi um dos criadores do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, coordenando estudos sistemáticos e de qualidade sobre o mundo do trabalho, que viabilizou com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, CNPq/CAPES, FAPESP e SEAD. Seu desempenho acadêmico e como lider o levaram a ser o Secretário Municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Soliedaridade da cidade de São Paulo, de 2001 a 2004.
Nesse esforço organizado ao longo de sua trajetória acadêmica, deve ser reconhecida a habilidade de romper com os tabus, de usar e abusar dos conhecimentos multidisciplinares aos quais somou sua capacidade de produzir e divulgar conhecimentos para fora da tribo acadêmica. Sua produção acadêmica de alta qualidade impressiona. Quem quiser ter uma visão mais detalhada desta trajetória pode visitar seu currículo na plataforma Lattes do CNPq.
Foi essa capacidade de elaboração na pesquisa e de liderança para reunir instituições que credenciaram sua condução à Presidência do IPEA (de 2007 a 2012), uma fundação pública federal vinculada ao Ministério do Planejamento e Orçamento, fundada durante a ditadura militar, em 1964. Uma das marcas na sua gestão foi a implantação do planejamento estratégico e a renovação dos quadros, por concurso público, um sinal de amadurecimento do órgão. Até 1995, seus funcionários ingressavam sem concurso público e muitos para ocuparem funções no ministério, não na instituição.
Marcio Pochmann tem quase 40 anos de percurso profissional e nesse tempo tem exercido o melhor da tradição do que se pode considerar um intelectual público. As velhas utopias, cada vez mais urgentes e contemporâneas, ganharam vida em seus textos breves e claros aqui publicados e nunca perderam a aderência com o chão duro da realidade brasileira.
Os textos do Marcio publicados pelo Terapia Política toda semana, desde 2020, estão disponíveis e tratam de temas variados. A relação destes textos é como um índice remissivo dos descaminhos e também das possíveis e necessárias alternativas para pensar e reconstruir um país democrático e menos desigual.
O IBGE ganha com a presença de Marcio Pochmann. Por onde passou, ele foi alguém que congregou pessoas e adicionou qualidade. Como líder e gestor, os funcionários do IBGE terão a oportunidade de perceber sua capacidade de aceitar novas ideias e criar condições para que elas frutifiquem. O país ganha com sua presença a frente deste órgão tão importante para a pesquisa e para o planejamento.
Nota:
(1) Alusões aos economistas (Econ), cientistas políticos (Polcis) e sociólogos (Sociogs).
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Os artigos representam a opinião dos autores e não necessariamente do Conselho Editorial do Terapia Política.
Ilustração: Mihai Cauli e Revisão: Fernanda Novaes
Leia também “Depois das jornadas de 2013“, o mais recente texto de Marcio Pochmann para o Terapia Política.