O 1º de maio é comemorado em todo o planeta em homenagem aos trabalhadores. Segundo a Wikipedia, “a homenagem remonta ao dia 1º de maio de 1886, quando uma greve foi iniciada na cidade norte-americana de Chicago, com o objetivo de conquistar condições melhores de trabalho, principalmente a redução da jornada diária, que chegava a 17 horas, para oito horas. Nessa manifestação, houve confronto com policiais, o que resultou em prisões e mortes de trabalhadores. Seria esta uma manifestação que serviria de inspiração para muitas outras que se seguiriam. Essas lutas de trabalhadores não foram em vão. Os trabalhadores de todo o mundo conquistaram uma série de direitos e, em alguns países, tais direitos ganharam códigos de trabalho e também estão sancionados por constituições”.

E por aqui? Foi preciso uma pandemia para o (des) governo descobrir, no ano passado, que havia 46 milhões de brasileiros e brasileiras sem conta no banco, acesso à internet e CPF ativo. São desempregados, autônomos e trabalhadores informais para quem o auxílio emergencial é questão de sobrevivência. Depois de três meses de interrupção, a ajuda voltou agora com valores reduzidos.

Nada há o que comemorar. Em janeiro a taxa de desemprego estava em 14,2%, o que significa 14,3 milhões de desempregados. A Covid-19 foi a pá de cal em uma economia que começou a declinar no segundo trimestre de 2014, ainda no governo Dilma. Seguiu-se uma recessão aguda nos dois anos seguintes e outros dois de crescimento pífio, com Michel Temer. Na época, a aposta era que a reforma trabalhista, com flexibilização de regras e de direitos criaria milhões de empregos. Não aconteceu. Serviu apenas para precarizar ainda mais a situação de pessoas que já trabalhavam muito e ganhavam muito pouco.

Vieram as eleições de 2018 e foi eleito um aventureiro que trouxe a reboque outro aventureiro. O “mercado” e a classe média acreditaram que o capitão deixaria seu posto Ipiranga implantar sua agenda privatizante e liberal, criando com isso condições para o famoso “crescimento sustentado”, que tanto perseguimos.

Mas a realidade – essa teimosa – se impôs e o país continuou se arrastando em 2019. O que já não vinha bem piorou de vez com o novo coronavírus. Muito embora o dinheiro liberado – a contragosto – por Bolsonaro e Guedes tenha representado um respiro para milhões de brasileiros, o fato é que as nuvens no horizonte são negras, prenúncio de mais tempestade adiante.

Ainda não se sabe quanto tempo será preciso até que cheguemos num patamar de vacinação que permita a suspensão total das medidas restritivas. Até lá, os serviços – o setor da economia que mais emprega – continuarão sofrendo. Restaurantes, salões de beleza, academias e outros negócios continuarão a ter que fazer malabarismos para não fechar.

Por outro lado, daqui a alguns anos teremos toda uma geração chegando ao mercado de trabalho com deficiências de aprendizagem causadas pela pandemia, que inviabilizou o ensino presencial, única possibilidade para milhões de crianças e jovens sem acesso à internet. O reflexo será visto na remuneração, que será menor, e na qualidade dos empregos, que será inferior.

Mas e a “nova economia”? Com suas oportunidades não ajudou a criar outras oportunidades? Não é benéfica ao país? Diga isso aos motoristas e entregadores de aplicativo. Chefes de família desempregados ou jovens que complementam a renda da família obrigados a dirigir ou pedalar 12, às vezes 14 horas por dia, sem direito a férias, FGTS e afins. São os subempregados do século XXI. Os novos precarizados, que vieram se juntar aos camelôs, biscateiros, diaristas, catadores de lixo e de papel e outros menos afortunados na batalha pelo pão de cada dia.

Mas nada disso importa para os “faria limers” que ganham milhões especulando na bolsa. Não importa para o “PIB” que se reuniu em São Paulo para ovacionar Bolsonaro enquanto bebia Don Perignon. Não importa para os militares, que tiveram os vencimentos aumentados na reforma da previdência e ainda por cima usufruem de seis mil cargos em ministérios, autarquias e estatais. Não importa para os pastores de araque, que vivem como nababos às custas de milhões de pessoas humildes que querem apenas acreditar que ainda é possível ter fé. Não importa para os milicianos, que exploram economicamente e impõem um regime de terror a essas mesmas pessoas humildes. Não importa para os madeireiros e grileiros, que querem apenas sugar as riquezas da terra. De fato, nada disso importa para Jair Bolsonaro e seu entorno.

Nesse Dia do Trabalho, o que importa a milhões e milhões de brasileiros é apenas conseguir um emprego.

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