O sistema educacional brasileiro parece se apresentar pouco conectado com inéditos pressupostos que centralizam o rumo do futuro no presente nacional. Desde o seu limiar, a partir da independência nacional, o ensino-aprendizagem esteve, em geral, associado a três elementos principais.

Inicialmente, tivemos a conexão estabelecida com o movimento de internalização do projeto de modernidade ocidental imposto pelo sistema de colonização europeu. Após três séculos de imposição da condição colonial, cujo acesso à educação para a elite local era feita exclusivamente em Portugal, a Independência nacional abriu uma longa transição para o capitalismo.

A adoção do modelo de ensino próprio da sociedade burguesa fracionou a educação para a elite nacional e a aprendizagem para o povo. Mesmo assim, os fundamentos do conhecimento a ser internalizado tinha origem nos pressupostos do Iluminismo, cuja base se originava na Grécia (Ocidente).

Na sequência, a negação do saber dos povos milenares do Oriente (hindus, chineses e outros) se deu combinada com o abandono do saber dos povos originários residentes no continente americano. Com isso, a difusão praticamente exclusiva da perspectiva da natureza apartada do ser humano – como se fosse um mero recurso ilimitado a ser explorado – constituiu o segundo elemento fundante das bases da educação no Brasil.

Já no século 20, com a montagem do sistema nacional de ensino da República, foi aprofundada a perspectiva do modo de vida Ocidental, que se tornava cada vez mais assentado na produção e consumo ambientalmente insustentável. A urbanização e a industrialização buscaram internalizar para poucos o padrão de vida dos países do Norte Global, conforme apontou Celso Furtado no início da década de 1970 no livro O mito do desenvolvimento econômico.

Por fim, o terceiro elemento basilar da educação contemporânea nacional foi a integração crescente com os valores próprios do mundo analógico. Assim, o processo de ensino-aprendizagem amparou-se no acúmulo de conhecimento enciclopédico, nem sempre prático à vida cotidiana.

Além disso, o Brasil transitou para a sociedade de massa, diferentemente dos países do Norte Global, sem a universalização da educação. As consequências disso foram singulares, uma vez que os valores próprios do capitalismo foram sendo socializados pelo quase monopólio familiar dos meios de comunicações, em geral, associados às empresas estrangeiras.

Acontece que desde a virada para o século 21 emergiram três outros novos elementos centrais, redefinindo as bases para a educação.

O primeiro novo elemento se refere ao deslocamento do centro dinâmico do mundo para a Ásia, o que está ressignificando os últimos cinco séculos de domínio Ocidental (1500-2000). Houve apenas um interregno à modernidade Oriental antes do século 16 e este deslocamento está sendo atualmente retomado, em pleno início do século 21.

Nesse sentido, o adequado processo de ensino-aprendizagem atual pressupõe reconhecer rapidamente que o conhecimento não tem suas bases Ocidentais, mas Orientais. Do contrário, a continuidade da dependência das bases educacionais passadas manterá o presente crescentemente distante dos rumos do futuro.

O segundo novo elemento se associa à passagem para o regime climático denominado por Antropoceno. Diante disso, o fracasso de mais de três décadas da adoção da estratégia do “desenvolvimento sustentável” para o futuro da humanidade. São exigidas alterações profundas no modo de produzir, distribuir e consumir, diante da elevação da temperatura mundial.

As consequências são gravíssimas, sobretudo quando se considera a escassez de água doce, ademais de sua contaminação por agentes poluentes e tóxicos no conjunto da natureza. Outro modo de relacionamento humano com a natureza tem motivado a perspectiva do bem viver, cujo papel da ressignificação da educação se apresenta fundamental.

O terceiro novo elemento se encontra relacionado ao ingresso do país na inovadora Era Digital. Ao romper com os pressupostos do mundo analógico, a digitalização da economia e da sociedade colocou em macha forçada a inédita centralidade da internet.

Uma das características disso tem sido a ampliação do fosso que separa a população com acesso pleno à internet daqueles com acesso parcial ou mesmo sem acesso. O excluído do século 21 decorre da precária infraestrutura ofertada por empresas privadas, seja pelo alto custo dos equipamentos ao acesso, assim como acompanhado do analfabetismo digital.

Outra escola contemporânea dos desafios do processo de ensino-aprendizagem precisa nascer do entendimento de que aquilo que existe atualmente repousa no passado cada vez mais distante. Alternativas técnicas a isso existem, embora o obstáculo central atual esteja na ausência de maioria política convergente com as novas bases para a educação brasileira.

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