A ascensão e a recente expansão do BRICS (ingresso de Egito, Emirados Árabes, Etiópia, Indonésia e Irã) representam um fenômeno significativo na reconfiguração da ordem global no século XXI. Formado por economias emergentes e em desenvolvimento, o BRICS+ busca, além de maior projeção de seus membros, a promoção de um sistema internacional multipolar e mais equitativo.

Um dos eixos centrais de sua agenda é o enfrentamento das assimetrias internacionais – desequilíbrios de poder e recursos que marginalizam o Sul Global em esferas econômicas, financeiras, políticas, tecnológicas e de governança. O Brasil, com a presidência rotativa do BRICS em 2025, pode moldar a agenda do grupo e reforçar prioridades que visam a mitigar essas assimetrias.

A formação do BRICS+ pode ser entendida como uma tentativa de “contrarrefoma” da governança global estabelecida ao fim da Segunda Guerra Mundial, que refletiu a assimetria de poder em favor das economias capitalistas desenvolvidas.

O agrupamento reúne países heterogêneos, que compartilham aspiração de maior protagonismo e representatividade em instituições e mecanismos de decisão globais. A adição de membros, potências regionais e exportadores de energia, aumenta o peso do coletivo.

O BRICS+ busca desafiar a hegemonia na Política (sub-representação no Conselho de Segurança da ONU e em outras instâncias multilaterais), nas Finanças (dominância do dólar, condicionalidades em instituições como o FMI e o Banco Mundial) e na Economia (regras comerciais desiguais, barreiras não-tarifárias e vulnerabilidade de economias dependentes de commodities).

As prioridades da presidência brasileira do BRICS+ em 2025, alinhadas à sua política externa tradicional e às demandas contemporâneas do Sul Global, serão cruciais para orientar a ação do BRICS+ no enfrentamento das assimetrias internacionais.

Essas prioridades são:

  • Reforma da Governança Global e Reforma do Sistema de Paz e Segurança Multilateral, para torná-los mais representativos do Sul Global, ampliar a voz e o poder de voto de economias emergentes nas instituições financeiras internacionais (FMI, Banco Mundial) e fortalecer o multilateralismo inclusivo;
  • Cooperação Financeira, Monetária e Comercial: avançar na reforma da chamada Arquitetura Financeira Global, incentivar esquemas de Compensação Mútua de Créditos, fortalecer o Novo Banco de Desenvolvimento como uma instituição de fomento ao desenvolvimento do Sul Global, e aprimoramento do Arranjo de Reservas de Contingência (CRA) para garantir liquidez em tempos de crise;
  • Clima, Desenvolvimento Sustentável e Transição Energética: defesa da justiça climática, mobilização de novos e adicionais recursos para o financiamento climático, promover a cooperação em bioeconomia, energias renováveis e tecnologias de baixo carbono, e garantir que a transição energética seja inclusiva e equitativa;
  • Cooperação em Saúde;
  • Ciência, Tecnologia e Inovação e Regulação da Inteligência Artificial: incentivar a cooperação em pesquisa e desenvolvimento em áreas estratégicas (IA, biotecnologia, energias renováveis), fortalecer as redes de inovação entre os países-membros, e promover o compartilhamento de plataformas digitais para o desenvolvimento;
  • Desenvolvimento Institucional do BRICS.

Apesar do projeto do BRICS+, a concretização de seus objetivos no enfrentamento das assimetrias enfrenta desafios significativos. O primeiro deles são as profundas diferenças econômicas, políticas e ideológicas entre os membros, que podem dificultar a formulação de posições e ações coordenadas. Há também os conflitos de interesse ou tensões bilaterais entre alguns membros, que podem comprometer a coesão do grupo. Finalmente, há a resistência de potências estabelecidas, as quais podem reagir aos movimentos do BRICS+, buscando fragilizar sua unidade ou limitar sua influência.

Por outro lado, o potencial do BRICS+ se consolidar como um pilar de uma ordem multipolar é considerável, como mostram a ampliação do grupo e a agenda da presidência brasileira. A capacidade do BRICS+ de conseguir resultados tangíveis dependerá da sua coesão interna e capacidade de construir apoios de outros atores relevantes no cenário global.

Em 2025, o BRICS+ tem a oportunidade de ser um agente para a construção de um sistema internacional menos assimétrico. Ao focar na reforma da governança global, na cooperação financeira e monetária, no desenvolvimento sustentável, na cooperação internacional em saúde e na ciência e tecnologia, o agrupamento pode desafiar as estruturas existentes e fazer propostas que beneficiem uma parcela maior da população mundial. O enfrentamento das assimetrias internacionais é uma condição para a estabilidade e a prosperidade global em um mundo cada vez mais interdependente.

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Os artigos representam a opinião dos autores e não necessariamente do Conselho Editorial do Terapia Política. 

Ilustração: Mihai Cauli e Revisão: Celia Bartone
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