O que pensam nove importantes dirigentes públicos brasileiros, de diferentes matizes ideológicos, sobre a estratégia para cumprir suas funções na organização pública num complexo cenário de mudanças? Esta é a pergunta que o autor responde com o seu premiado trabalho de pesquisa desenvolvido no programa de pós-graduação em Gestão Estratégica da UFRRJ. Ao longo do livro, Robson Leite navega analisando o pensamento e a prática de Luiz Paulo Correa da Rocha, Sérgio Ruy Barbosa, Jandira Feghali, Arolde de Oliveira, Luiz Fernando Marinho Nunes, Cmte. Bittencourt, Tarso Genro, André Ceciliano e Nilo Batista. O prefácio parcialmente reproduzido aqui foi escrito pelo prof. Américo da Costa Ramos Filho e é uma bela resenha para discussão de tema crucial na Administração Pública: o papel de seus dirigentes.

Resenha: Estratégia e liderança em tempos de profundas mudanças: o caminho do sucesso na organização pública  

Tal papel [dos dirigentes públicos] envolve a compreensão conjunta e integrada de aspectos sociais, técnicos, econômicos, administrativos e políticos, embebidos, sobretudo, na dimensão humana. O dirigente não lida somente com números, restrições, procedimentos e interesses de poderes diversos, mas com pessoas em si mesmas, suas aspirações, subjetividades e, o que é muito importante, sua dignidade e direito inalienável de ser respeitado.
Robson busca quatro pilares para sustentar uma ação do dirigente voltada para a efetividade e a garantia de uma administração estratégica no setor público em um ambiente de constantes mudanças. Um pilar refere-se à busca de negociação com todas as partes interessadas à organização pública a ser dirigida. Outro pilar envolve a conciliação do planejar com o desenvolver, numa construção coletiva com equipes e partes interessadas, numa concepção dinâmica e não estática. Os demais dois pilares reforçam a prática administrativa orientada à missão social pública e às estratégias necessárias para alcançá-la e à mobilização das pessoas de modo inspirador e orientado para o crescimento individual, coletivo e do bem público. Como pode ser observado, os quatro pilares são formados pela relação com o outro, de construir com o outro, na relação com os públicos de interesse, com a equipe, com a sociedade.
Nesse sentido, são tomadas da literatura quatro abordagens teóricas, cada uma delas relacionadas a um pilar descrito no parágrafo anterior: a Teoria dos Stakeholders de Freeman, o Planejamento Estratégico Situacional (PES) de Carlos Matus, a Estratégia como Prática Social (ECP) de Whittington e a Liderança Transformacional de Burns, reunidas em um arcabouço integrado centrado no Planejamento Estratégico Situacional. Tal arcabouço possibilitou a compreensão de fatores críticos à implantação e administração da estratégia pelo dirigente de organização pública, levando em consideração, com base nas palavras do próprio autor, o cumprimento da missão social, o atendimento dos públicos de interesse, a dinâmica do ambiente e o fortalecimento da equipe rumo aos objetivos pretendidos.
Para chegar a um arcabouço teórico com maior robustez, o autor desenvolve um estudo de campo a partir de entrevistas com importantes nomes do quadro político-administrativo nacional, e ressalte-se, de diferentes matizes ideológicas, convergentes ou não às do próprio autor. Isso permitiu um maior distanciamento de considerações de ordem político-partidária, não que se proponha uma neutralidade que não existe em um trabalho científico, especialmente se proveniente de ciência social aplicada, mas para mostrar que soluções rumo a uma maior efetividade e desenvolvimento estratégico não são privativas de uma alternativa política específica, desde que orientada à compreensão do bem público. Bem público este que, tomando por base Aristóteles em sua obra “Ética a Nicômaco”, requer ser alcançado pelo correto deliberar, decidir e agir, considerando diversos aspectos, que, transpostos ao mundo contemporâneo, podem ser sugeridos no arcabouço teórico construído: levar em conta as diferentes aspirações do corpo social, basear-se na prática, não obedecer a padrões rígidos de planejamento que não levem em conta a dimensão humana e reunir as pessoas envolvidas nessa missão de transformação.
Trata-se de uma sabedoria prática, fundamental para aquele que administra, que pode viabilizar os conhecimentos científicos em busca da verdade até então alcançada pela humanidade e as técnicas cada vez mais atualizadas e vitais para a produtividade processual, (vide a transformação digital pela qual vivemos com todas suas possibilidades e receios) tendo em vista o bem público e a virtuosidade do dirigente. De pouco adianta ter à disposição o conhecimento teórico e as mais modernas tecnologias informacionais sem a sabedoria prática (para Aristóteles, “phronesis”) que permite julgar, ponderar, calcular, deliberar, decidir e agir para o bem maior. É sobre isso que, em última instância, o arcabouço construído por Robson, a partir da experiência prática de dirigentes públicos de diferentes origens, aborda.
Para isso, conta a profunda sensibilidade de Robson. Homem da tecnologia (analista de sistemas envolvido em diferentes projetos de tecnologia de informação em uma grande e emblemática empresa brasileira) e da ciência (acadêmico com artigos publicados e experiência no ensino universitário e corporativo) reúne uma sustentada experiência prática, seja como voluntário na educação social, como dirigente público na superintendência regional do trabalho no Rio de Janeiro, e como deputado estadual no mesmo estado. Em todos os casos, teve oportunidade de extrair os princípios presentes no arcabouço teórico aqui apresentado, bem como de tomar decisões que foram determinantes para a efetividade pública e para o bem público, como ele mesmo mostra no livro.
Portanto, parabéns ao Robson e parabéns ao leitor que, confio, não se arrependerá de conferir os elementos expostos no livro, uma contribuição de expressiva qualidade à administração pública, unindo estratégia, prática e liderança, sem perder de vista a dimensão humana. Não se pode esperar outro resultado de Robson, com sua sensibilidade e proatividade na busca de um país melhor, que seja mais beneficiário do conhecimento administrativo e político, mas não por uma ótica meramente técnica ou acadêmica, mas eminentemente prática e social. E não é uma obra acabada no sentido de que encontra as respostas prontas para tudo, longe disso. Oferece, sobretudo, reflexões significativas para a compreensão da realidade nacional, dialogando com você, leitor, no sentido de preencher lacunas, oferendo soluções que ajudem o Brasil a ser o país em que nós, brasileiros, merecemos viver. Bom proveito!

***
Os artigos representam a opinião dos autores e não necessariamente do Conselho Editorial do Terapia Política. 

Clique aqui para mais informações sobre o livro.