O maior desafio do ministro Paulo Guedes será priorizar o crescimento no Brasil pós-pandemia. Quando estudou em Chicago, nos anos 1970, lá era o centro difusor do monetarismo, sob a liderança de Milton Friedman. Propunha-se um contraponto liberal ao keynesianismo liderado nos EUA por Paul Samuelson, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), e no Reino Unido por Cambridge. Estes eram hegemônicos, a ponto de se atribuir ao presidente Nixon, um conservador republicano, a frase “somos todos keynesianos hoje”.

A “Era Keynesiana” começara no pós-guerra, com a Guerra Fria e os EUA promovendo a reconstrução europeia e japonesa. Outro republicano, Eisenhower, incitou os economistas a pesquisarem o crescimento: se o socialismo era um absurdo econômico – consenso entre monetaristas e keynesianos americanos -, como explicar o crescimento da Rússia, que saíra do atraso feudal para afrontar os EUA em setores de ponta, como de armamentos e espacial?

A chamada “Era de Ouro” priorizava o crescimento acelerado e a geração de empregos. Na América Latina, deu lugar ao desenvolvimentismo de governos como de Vargas, Juscelino e militares. O estilo de produção fordista aumentava a produtividade. Sindicatos fortes e multinacionais espalhavam-se pelo mundo, embora cada governo fechasse seus mercados. A lógica “mais produção, emprego e consumo” parecia gerar um círculo virtuoso inesgotável. Mas, ao final dos anos 70, já era visível a perda de fôlego, aprofundado com a globalização das décadas seguintes.

O keynesianismo cedeu o espaço que o monetarismo não soube ocupar: os novos liberais (“neoliberais”) abeberaram-se nos austríacos Hayek e von Mises. Estes, mais filosóficos e menos quantitativos, pouco espaço têm na academia americana, marcada pelo empirismo (“Ciência é Medida”, eis um lema de Chicago).

Tudo isso remete às dificuldades do ministro Guedes de lidar com o crescimento – uma preocupação dentro do próprio governo. O monetarismo nunca o priorizou: centrava-se no que considerava sua consequência nefasta – a inflação. A Guerra Fria e o socialismo real acabaram, economias abriram-se e os sindicatos enfraqueceram. Os problemas são outros: o mundo da Covid-19 é de baixo crescimento e sem inflação. Os fatos atropelam as ideias, mas estas persistem. Keynes dizia que mais difícil do que aceitar as ideias novas era se libertar das velhas. Nesse aspecto, ironicamente, continuamos cada vez mais keynesianos.