As recentes entrevistas de Gabriel Galípolo, atual diretor de política monetária e provável futuro presidente do BC a partir de janeiro de 2025, revelam uma posição mais dura de combate à inflação, com possível elevação da Selic já na próxima reunião do Copom em 17 e 18 de setembro de 2024. A XP, Legacy e ASA Investments apontam o crescimento da economia, a queda do desemprego e os aumentos salariais como possíveis causas do distanciamento da inflação do centro da meta de 3% a.a. (estimativa de inflação da XP é de 4,4% para 2024). As previsões são de que a Selic termine o ano em 12% a.a., mesmo num cenário de redução das taxas de juros americanos. Segundo eles, garantir agora seria importante para poder cortar lá na frente. É consenso entre os analistas que, nesse contexto de aquecimento da economia e dos gastos públicos, Galípolo e os outros três diretores do BC, já nomeados pelo presidente Lula, não hesitarão em votar em uníssono pela subida da Selic e, com isso, ganhar credibilidade junto ao mercado financeiro.
As projeções reunidas no Boletim Focus para 2024 também apontam para um maior crescimento do PIB (2,7%) e da inflação (4,2%).
A regra do BACEN é aumentar os juros sempre que a inflação supere a meta, o que é o caso presente.
Rogério Xavier (sócio da SPX Capital), André Jakurski (sócio da JGP) e Luis Stuhlberger (sócio da Verde Asset), em recente participação no Macro Day do BTG Pactual, convergem na ideia de que falta credibilidade para o governo, mesmo apesar das recentes medidas contracionistas anunciadas pelo ministro Haddad com vistas à redução do déficit fiscal. Há o receio de que o BACEN passe a ser mais “político” e menos “técnico”, há descrença no atingimento das metas e no próprio arcabouço fiscal, há severas críticas ao expansionismo do orçamento, há preocupação com a elevação dos salários e do dólar. E o dólar só se equilibra no Brasil havendo margem para carry trade, daí a necessidade de um spread confortável entre a taxa Selic e as treasuries. Mas, acima de tudo, segundo esses três pesos pesados do mercado, a nova equipe do BACEN está mesmo decidida a ganhar credibilidade junto ao mercado. Na terminologia americanófila, Galípolo passaria a atuar de forma mais hawkish e Campos Neto passaria a protagonizar a personagem mais dovish. Segundo eles, para o bem da credibilidade futura, os juros vão subir e isso já estaria alinhado entre eles e até mesmo já seria de conhecimento do presidente Lula.
É impressionante o desprendimento com que representantes do mercado apostam na elevação dos juros básicos e na descontinuidade de uma tendência declinante que vinha acontecendo. Basta acontecer um ataque especulativo ao real para que os novos diretores do BACEN se rendam às pressões do mercado de elevação dos juros e com isso conquistem “credibilidade” futura? E o que isso, no fundo, significa? Que o mercado financeiro dita, quando lhe convém, o ritmo dos juros para o BACEN? Que seria “boa técnica” reverter uma tendência declinante da curva de juros com o argumento de controlar a inflação brasileira? Isso seria estarrecedor para qualquer um de bom senso e que se posicione contra um desnecessário aumento do endividamento público. Fiquemos na expectativa e na torcida para que isso não aconteça.
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Ilustração: Mihai Cauli e Revisão: Celia Bartone
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