Considerações sobre a conjuntura política e eleitoral para 2026

A análise da última pesquisa Genial/Quaest apresenta uma estabilidade dos resultados (números). Porém alguns pontos merecem ser destacados, conforme o resumo elaborado pelo diretor do instituto.

1) O governo anunciou ou iniciou a implementação de um conjunto de propostas amplamente aprovadas pela sociedade – em média, 79% entre os que conhecem as medidas. No entanto, o desconhecimento ainda é elevado: cerca de 60% da população não ouviu falar das iniciativas.

2) A percepção sobre a economia também começou a dar sinais de melhora. Pela primeira vez em muitos meses, houve uma queda expressiva na fatia da população que avalia que a economia piorou: 56% em março, contra 48% em maio de 2025.

3) A percepção de desaceleração da inflação de alimentos também contribuiu para uma avaliação mais favorável da economia. Em março de 2025, 88% diziam que os preços dos alimentos haviam subido nos mercados; em maio, esse número caiu para 79%.

4) A reversão na percepção de alta dos preços da gasolina também contribuiu para a melhora, ainda que marginal, na percepção geral sobre a economia. Eram 70% os que sentiam a alta da gasolina em março, em maio o percentual chegou a 54%.

Olhando esses pontos destacados, são todos positivos e deveriam fazer com que a avaliação do governo fosse melhor. Mas há um detalhe no primeiro ponto que, na minha opinião, explica por que os fatos positivos não contribuem para uma melhor avaliação do desempenho do governo. O governo regularmente tem contribuído para gerar um desequilíbrio informacional. O volume de notícias negativas sobre o governo foi mais que o dobro do que de notícias positivas no período, o que gera uma enorme quantidade elementos que repercutem nas plataformas digitais, dominadas pela extrema direita.

Achar que a grande mídia seria neutra e imparcial é desconhecer ou ignorar o seu papel fundamental como aparelho ideológico do Estado comprometido, até o fim, com a preservação dos interesses da burguesia liberal conservadora – que historicamente, em condições que ameaçam a perda de alguns dos seus privilégios, nunca se furtou de apoiar uma solução autoritária e fascista. Seja na década de 1930-40, de 1960-70 ou mais recentemente, com o impedimento da Dilma e o apoio ao Bolsonaro.

Os pontos negativos realçados na pesquisa são os seguintes:

1) Entre as notícias negativas mais lembradas espontaneamente está o caso do INSS, que reaproximou a corrupção ao governo. Esses dois temas – INSS e corrupção – lideram as menções entre os que afirmaram ter visto mais notícias negativas sobre o governo.

2) Mas não foi só o INSS que estancou o possível efeito positivo da economia e dos programas do governo sobre a aprovação. O próprio Lula 3 tem passado a impressão, cada vez maior, de que é pior do que os governos Lula anteriores.

3) Quando estimulado, o escândalo no INSS foi reconhecido por 82% da população. Ou seja, trata-se de um tema de ampla repercussão. Um tema que ganhou duas vezes mais atenção do público do que as políticas ou programas anunciados pelo governo.

4) O desgaste para o governo foi claro: 31% dos brasileiros responsabilizaram o governo Lula pelo caso, 26% não sabem de quem é a responsabilidade e apenas 8% colocam a responsabilidade no governo Bolsonaro. Ou seja, a oposição venceu a guerra de narrativas.

5) Também continua maior (numericamente) o percentual de brasileiros que dizem que o governo Lula 3 é pior do que o governo Bolsonaro. Mais uma comparação que desqualifica a atual administração.

6) E, por fim, mais brasileiros acreditam que o governo Lula 3 é pior do que eles esperavam inicialmente. Trata-se de uma clara quebra de expectativa, que prejudicou a recuperação da aprovação do governo.

7) Como resultado, o governo colhe uma impressão muito negativa sobre os rumos do país. Nesta pesquisa, 61% afirmam que o Brasil está indo na direção errada, contra 32% que acreditam que estamos indo na direção certa.

8) O escândalo do INSS e as expectativas frustradas sobre o desempenho do governo começam a afetar não só o governo, mas a imagem do presidente: 48% acreditam que Lula não é bem-intencionado e 70% acreditam que ele não cumpre suas promessas de campanha.

O escândalo do INSS foi apenas mais um produzido pelo próprio governo. Antes dele, teve o caso PIX, depois o do IOF. São tiros no pé, no mínimo, que somam-se à incapacidade do governo em divulgar de forma coordenada e integrada propostas como a isenção do imposto de renda para quem ganha acima de cinco salários mínimos, a proposta de lei para acabar com a jornada 6×1 e apresentar na discussão do IOF a proposta de corte dos benefícios fiscais (gastos tributários) e da redução do valor das emendas dos parlamentares, com a argumentação de que a austeridade é nossa: somos austeros para atender os mais pobres.

Por último, um dado positivo. As diferenças de percepção sobre os candidatos para 2026 nos grupos ideológicos mostram que a base de voto do Lula é mais firme do que a de Bolsonaro. A esquerda está mais consolidada na convicção de que Lula não deveria desistir. Só 13% opinam contra a candidatura de ambos, enquanto 35% dos bolsonaristas acham que os dois deveriam jogar a toalha.

Se o governo parar de dar tiros no pé, melhorar a coordenação política e a sua comunicação, saindo da defensiva e entrando na ofensiva ideológica, política e econômica, poderemos ter um ambiente eleitoral muito mais favorável. Neste sentido, o governo não pode fazer concessões que prejudiquem o segmento mais pobre da população, como por exemplo, suspender o aumento real do salário mínimo, mudar para pior as regras de concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC) ou permitir mudanças nos pisos constitucionais de saúde e educação.

Em síntese, o governo precisa mostrar que está cumprindo as promessas de campanha. A combinação de um ajuste na comunicação junto com a percepção da sociedade de que houve uma melhora da economia vai resultar numa retomada da avaliação positiva.

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Os artigos representam a opinião dos autores e não necessariamente do Conselho Editorial do Terapia Política. 

Ilustração: Mihai Cauli 
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