TP: Ricardo Salles e o Ministério do Meio Ambiente são alvos de busca e apreensão da Polícia Federal, numa ação autorizada pelo Supremo Tribunal Federal. A operação de hoje se fundamenta nas suspeitas de crimes de corrupção, prevaricação e facilitação de contrabando praticados por agentes públicos e empresários do ramo madeireiro. Meses antes, poucos depois da queda de Abraham Weintraub, o jornalista Moisés Mendes avisou que o homem da boiada seria o próximo. Salles resistiu. Talvez agora tenha chegado sua vez. Quem sabe indígenas possam ser salvos e o meio ambiente deixe de ficar à mercê do genocídio ambiental. O artigo de nosso colaborador ganhou atualidade. Escrito ainda em 2020, ele clamava pela urgência da destituição do homem da boiada. (Eduardo Scaletsky)

 

O homem da boiada está sem munição

Ricardo Salles tem o perfil do desatinado já com um pé no penhasco. Se Bolsonaro não conseguir segurá-lo e ele for expelido do governo, teremos um candidato a atitudes imprevisíveis.
Salles ataca quem defende o que ele deveria defender, mas agora agride aliados, para se posicionar bem, não necessariamente no governo, mas na família. Salles assumiu que é o cara dos Bolsonaros, do pai e dos filhos, mais do que Ernesto Araújo.
Usa a linguagem dos garotos, rebaixa o debate nas redes sociais, ataca com apelidos, defende-se com argumentos precários e desculpas furadas, mas é da confiança da família.
Salles é a bala de borracha deles no olho dos inimigos, com o suporte tático de um general, não qualquer general, mas um vice-presidente da República que lhe assegura cobertura como presidente do Conselho da Amazônia. Mas resistirá até quando, se a turma do Nhonho decidir enfrentá-lo?
Força demais quem tenta compará-lo a Abraham Weintraub, que fez sua parte nos ataques ao Supremo e depois arranjou um exílio com mais de R$ 100 mil por mês em Washington.
Weintraub atacava a universidade, professores, estudantes e inimigos da família, e não só do governo, para ficar bem, como ficou, com todos os garotos. Mas esse nunca tentou fazer escada brigando com gente de dentro do governo. Conseguiu o emprego no Bid e agora não se incomoda com ninguém.
Salles é o sujeito escalado por Bolsonaro para fazer passar a boiada e a cachorrada na Amazônia, empurrando junto o Brasil arcaico dos grileiros, dos incendiários, dos garimpeiros e dos assassinos de índios. Tem uma missão que poucos assumiriam com tanta desenvoltura e competência.
Mas também é ingenuidade achar que Salles seria apenas o emissário de Bolsonaro para consolidar a presença ‘ideológica’ do governo numa área já marcada, muito antes do bolsonarismo existir, pelo reacionarismo e pela incivilidade de quem tem poder ou almeja ter à força e com fogo.
As regiões dos devastadores, da Amazônia ao Cerrado e ao Pantanal, têm baixa densidade eleitoral. Não seria pelos eleitores que Bolsonaro brigaria tanto para se acumpliciar com os destruidores do meio ambiente e de terras de indígenas.
O que Salles cumpre é a missão de atender as demandas de novos e velhos fazendeiros que resistem a se modernizar, misturados a garimpeiros, invasores e bandidos em geral, porque no fim todos eles são quase a mesma coisa. Esse Brasil arcaico tem expressiva representação no Congresso que pode salvar Bolsonaro.
Salles e Tereza Cristina falam por eles. A diferença entre Salles e Tereza Cristina é que o primeiro abre a porteira para a boiada, e a segunda é uma das donas dos bois.
Em nome dessa gente é que Bolsonaro vende a conversa da ocupação da Amazônia a qualquer custo, para proteger o território e oferecer novas oportunidades e renda, e que Tereza Cristina e Salles falam do boi bombeiro.
Weintraub fez um bom serviço, mas acabou tombando. Há limites para a falta de escrúpulos, e no caso de Salles os limites não serão estabelecidos por ambientalistas, povos da floresta, os servidores do Ministério ou líderes de outros países e de organismos internacionais.
Os limites não virão também do agro que evoluiu para a racionalidade econômica ambiental, nem de empresários e banqueiros ligados ao marketing ambientalista. É mais provável que sejam impostos por gente de dentro do governo, que ele ataca por encomenda dos Bolsonaros, para manter os militares e Nhonho no espaço que lhes cabe.
Salles dá sinais de cansaço e pode se juntar a outros derrotados da ala ideológica liderada por Carluxo. Até os carrapatos da boiada sabem que ele dispara apelidos porque já está desorientado e com pouca munição.

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