O mais raro no mundo é um homem maduro”, escreveu André Malraux em suas memórias.

Muito se escreveu sobre maturidade e, pessoalmente, sempre me achei imaturo, mas a partir dos 65 anos comecei a me achar maduro. Sempre é difícil responder o que é mesmo um homem maduro, pois, às vezes, definir é simplificar. Nunca leria um ensaio que buscasse definir o que é maturidade, como se fosse um ideal a ser atingido. Há uma tradição de se dizer que os homens são mais imaturos que as mulheres, que estas sabem mais o que querem, são mais independentes. Já os homens sofrem mais quando sozinhos, têm dificuldade de se organizar para viver. Não sei se do tempo do Malraux até hoje a vida mudou e a gente consegue amadurecer sem tanta dificuldade e sofrimento. Erik Erikson escreveu sobre a Teoria do Desenvolvimento Psicossocial em vários estágios, em que o sétimo seria entre os 41 e os 65 anos, o estágio da maturidade. Nesse período de amadurecimento, de maturidade, o indivíduo passa a investir mais nos demais e menos em si, pois se conhece melhor.

O jornalista Richard Stengel foi editor-executivo da revista Time e colaborou com Nelson Mandela na sua autobiografia. Escreveu o livro Os caminhos de Mandela, cujo subtítulo é: Lições de vida, amor e coragem. Stengel escreve que várias vezes perguntou para Mandela o que ele tinha mudado na prisão. Mandela não respondia em que seus 27 anos de prisão – dos seus 43 anos até seus 71 – o tinham modificado. De tempos em tempos, o jornalista voltava à pergunta, até que o líder negro sul-africano respondeu, simplesmente: “Saí maduro”. No livro, o jornalista esclarece que com a maturidade Mandela pôde controlar seus impulsos mais juvenis e conseguiu dominar as emoções do modo de ver o mundo. Aprendeu a ter simpatia pela fragilidade humana, manteve a suavidade e a sensibilidade de jovem, mas desenvolveu uma concha mais dura e mais invulnerável para se proteger.

Conheci homens, mas também mulheres, com dificuldade de aproveitar melhor suas experiências de vida, para conviverem com as inevitáveis frustrações e aprender com elas. Recordo do pai de um amigo internado por problemas cardíacos se queixando, brabo: “São essas pequenas coisas que me enlouquecem”. Quem se perde diante de pequenas coisas, imagine diante das grandes coisas. Enfim, era um homem que teve dificuldade de amadurecer. Creio que amadurecer é subir uma montanha mais devagar, bem mais, mas ter uma visão mais de conjunto de si, da vida, do mundo. A ter, como Mandela, uma maior simpatia pela fragilidade humana e suportar que a crueldade humana é maior do que podia imaginar. Penso que para se viver melhor é preciso perceber a incrível complexidade do ser humano, em que as simplificações podem ser sedutoras, mas são ilusões. Amadurecer é aprender a se desiludir, sem renunciar aos sonhos de mudar, se não o mundo, pelo menos a vida. Ah, e nunca renunciar ao entusiasmo do amor, que é o que de melhor se pode dar e receber na vida. (Publicado no Face do autor).

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Ilustração: Mihai Cauli Revisão: Celia Bartone
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