Há um consenso entre quem estuda o Rio de Janeiro de que a economia do Estado há muito que vive uma trajetória de declínio. As oportunidades de crescimento econômico foram se restringindo nos últimos anos. Setores tradicionais foram perdendo relevância e atividades econômicas importantes terminaram migrando para outros estados da Federação.

A conjuntura atual retrata esta situação. Enquanto a taxa de desocupação do Brasil terminou o quarto trimestre de 2021 na casa de 11,1%, no Rio de Janeiro atingiu 14,2% – a quinta maior entre todos os estados e a maior da região sudeste. O rendimento médio real das pessoas ocupadas no quarto trimestre de 2021 caiu 15,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. Resultado que representa a maior queda da região sudeste.

Enquanto a estrutura produtiva do estado foi se comprimindo e tornando-se menos diversificada, a economia terminou dependente de poucos setores. Este processo promoveu uma grande desarticulação da estrutura produtiva do estado, caracterizada por um conjunto difuso de especializações setoriais.

O gráfico acima reflete como nos últimos anos a estrutura produtiva fluminense majoritariamente concentrou-se em atividades de serviços, que em sua quase totalidade são serviços de baixa sofisticação tecnológica e baixa remuneração. Para além da indústria, que mencionaremos mais à frente, percebe-se que a agricultura representa muito pouco no estado. Um setor que poderia empregar bastante gente no interior e servir de base para a criação de pequenas agroindústrias regionais que serviriam para abastecer a região metropolitana. Este tema será tratado em artigo futuro.

A indústria fluminense vem trilhando uma trajetória de perda de diversidade e concentração em poucas atividades dedicadas a exploração de petróleo e gás. À exceção de 2016 e 2017, período de queda nos preços internacionais, a indústria extrativa representou quase o dobro do valor adicionado de toda a manufatura do estado.

A perda de diversidade da indústria fluminense é resultado do encolhimento da manufatura do estado. A indústria de transformação fluminense representou em 2019 o equivalente à metade do valor adicionado das atividades imobiliárias. Segundo dados do CAGED, o setor empregou, em janeiro de 2022, pouco mais 397 mil pessoas ou cerca de 12% do total de empregos do estado (menor índice da região sudeste). Montante equivalente a apenas 20% do emprego do setor de serviços.

A trajetória de declínio da economia fluminense possui características comuns com outras regiões estagnadas e/ou decadentes do mundo. Sua estrutura produtiva perdeu setores de maior conteúdo tecnológico e valor adicionado provocando uma especialização em atividades de baixo custo. Este processo foi acompanhado de um encolhimento da dimensão produtiva regional, cuja perda de segmentos mais modernos reduziu a diversidade produtiva fluminense. As firmas passaram a produzir um número limitado de produtos, se transformando em um obstáculo para que o sistema regional de inovação do Estado, que ainda possui ativos importantes, seja capaz de se conectar com o setor produtivo.

Por exemplo, os investimentos realizados pela indústria automotiva no Sul-fluminense, embora importantes, também não foram capazes de internalizar uma parte maior da cadeia produtiva. A despeito desta indústria ser uma das mais integradas às cadeias globais de valor, é também consequência da falta de capacidade das indústrias alocadas no estado em promover efeitos de arrasto nos linkages da cadeia produtiva.

A estrutura produtiva fluminense não consegue transformar as vantagens comparativas de seu território em vantagens competitivas que promovam uma transformação estrutural produtiva na direção de atividades de maior valor adicionado. Diversas atividades industriais e serviços sofisticados foram realocados para outras regiões do país. Isto leva a perda de ativos intangíveis, como mão-de-obra qualificada

O estado fica em muitos casos reduzido a atividades rotineiras e de baixa tecnologia. O resultado é um crescimento econômico débil, insuficiente para promover um nível de emprego e renda que estimule um novo ciclo sustentável de desenvolvimento econômico.

Esta trajetória de declínio produtivo regional cria barreiras que dificultam sua evolução e/ou adaptação a setores tecnologicamente mais modernos. A região apresenta falhas em desenvolver complementaridades que superem lacunas produtivas, dificuldades em adoção de novas tecnologias, erosão de ativos produtivos que possam ancorar novas cadeias produtivas.

Neste sentido, o sistema regional industrial fluminense está aprisionado numa trajetória de declínio e obsolescência. É preciso que se construa uma estratégia de desenvolvimento econômico regional que permita o Estado do Rio de Janeiro alterar sua rota para uma trajetória positiva de regeneração produtiva. Será a base industrial sobrevivente ainda suficiente para reverter este processo?

A necessidade de buscar um novo caminho para a economia do estado do Rio de Janeiro demanda uma análise sobre quais seriam suas potencialidades econômicas. Quais áreas se mostram com maior perspectiva de contribuir para dar maior resiliência econômica ao estado? Como as políticas públicas podem contribuir com este processo? Qual o papel do setor privado fluminense? Este é o primeiro de uma série de artigos na qual procuraremos analisar estas questões para colaborar com a restauração da estrutura produtiva no estado do Rio de Janeiro.

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Os artigos representam a opinião dos autores e não necessariamente do Conselho Editorial do Terapia Política.

Ilustração: Mihai Cauli
Clique aqui para ler o artigo “A situação fiscal do Rio de Janeiro em tempos…. ” de Joilson Cabral e outro.