A palavra em inglês lobby significa vestíbulo, portaria, salão de entrada, dentre outros significados. Ela é usada de forma consagrada, em todo o planeta, representando um grupo de interesse que deseja influenciar um ou mais tomadores de decisões públicas ou privadas a fim de obter objetivos lícitos ou evitar prejuízos. O lobby não representa apenas o interesse particular, mas também o interesse coletivo de algumas pessoas ou mesmo os interesses públicos. No contexto de marketing, lobby refere-se à atividade de um profissional ou grupo para influenciar decisões de tomadores de decisão (como legisladores) em favor de seus próprios interesses, que podem ser de empresas, sindicatos ou ONGs, em troca de benefícios. O objetivo é promover ou impedir políticas favoráveis à agenda do grupo, utilizando estratégias de comunicação e relações para persuadir e construir consensos.
A força dos lobbies no Brasil é significativa e, devido à falta de regulamentação clara, frequentemente se confunde com práticas ilícitas como corrupção e tráfico de influência. Atuando em diversas esferas do poder público, os lobbies influenciam a formulação e a aprovação de políticas e de legislações. Setores com maior poder econômico, como o agronegócio, setores exportadores e o sistema financeiro, têm uma influência desproporcional nas decisões governamentais.
A fragilidade do sistema político brasileiro o torna especialmente vulnerável à influência de grupos com poder econômico concentrado, que podem exercer pressão excessiva. A linha tênue entre o lobby legítimo e práticas criminosas, como o pagamento de propinas, gera desconfiança pública e estigmatiza a atividade. Grandes empresas e grupos econômicos dispõem de recursos muito maiores do que a sociedade civil organizada, distorcendo o equilíbrio democrático da influência política. Exemplos são o agronegócio, percebido como o setor mais influente no Congresso Nacional, e o setor financeiro considerado o segundo setor mais influente.
Tem lobby para tudo que é lado no nosso país. É lobby contra a segurança pública, contra medidas de proteção ao meio ambiente, contra o Estado laico, em favor da energia fóssil, dos plásticos, contra o desarmamento, contra a diminuição dos subsídios que já estão na casa dos R$ 600 bilhões anuais, contra a regressividade dos impostos, contra a economia do bem-estar, enfim, lobbies pelo status quo, contra e a favor do progresso.
Qual não foi a minha surpresa ao constatar, em recente maquinação da Câmara dos Deputados, a favor do seu corporativismo, votação retumbante a favor da PEC da blindagem (ou melhor, bandidagem). Foi preciso uma importante mobilização popular contra tal medida de impunidade, para o Senado Federal se posicionar contrariamente a ela. Menos mal. Mas, logo a seguir, o poderoso lobby das bets foi vitorioso contra o aumento da tributação sobre elas. É vergonhoso constatar que apesar de todos os malefícios que as bets causam para a sociedade brasileira, elas conquistaram grande parte do Congresso e do Judiciário. Hoje em dia, ninguém é páreo para o Tigrinho em Brasília.
Avaliando os lobbies americanos, Kenneth McCarthy, um pesquisador de mídia norte-americano e autor do livro “JFK and RFK’s Secret Battle Against Zionist Extremism”, baseado em documentos confidenciais que foram desclassificados sobre as políticas dos EUA e estratégias geopolíticas, ele argumenta que o assassinato do presidente John F. Kennedy retirou significantes obstáculos ao lobby israelense no tocante ao desenvolvimento da bomba atômica daquele país. Kennedy havia ordenado inspeções no reator israelense Dimona e que o American Zionist Council se registrasse no FARA (Lei de Registro de Agentes Estrangeiros), o que foi ignorado após sua morte.
Martin W. Sandler, historiador dos EUA, afirma, categoricamente, com base nas cartas trocadas por J.F. Kennedy e Ben Gurion, que foi o Mossad o responsável pelo assassinato de presidente americano, por força da pressão exercida por ele contra o programa atômico israelense.
Chris Hedges, jornalista, ganhador do Prêmio Pulitzer, que foi correspondente estrangeiro por mais de 15 anos do The New York Times e que cobriu numerosas guerras ao longo de décadas e escreveu vários livros, incluindo, “America: The Farewell Tour and American Fascists: The Christian Right and the War on America”, além de seu último trabalho intitulado “A Genocide Foretold (Penguin Random House)”, afirma que o lobby de Israel é um dos mais poderosos do mundo, devido às contribuições para as campanhas multimilionárias de políticos nos EUA.
Jeffrey Sachs, professor da Columbia University, afirma que o lobby poderoso de Israel induziu os EUA a participarem de conflitos armados em sete países, notadamente, Líbano, Síria, Iraque, Líbia, Sudão, Somália e Irã. As consequências sempre são catastróficas, mas o jogo dos lobbies continua presente.
Segundo o historiador João Miragaya, mestre pela Universidade de Tel Aviv e colaborador do Instituto Brasil – Israel, “não fosse o ataque desastrado de Israel ao Catar, provavelmente não estaria acontecendo o cessar fogo em curso presentemente em Gaza”. Em 9 de setembro, Israel cruzou uma linha vermelha bombardeando um grupo de negociadores palestinos em um bairro residencial de Doha, no Catar. Isso foi o ponto de inflexão que alterou a dinâmica entre as partes envolvidas no conflito e na negociação para retomar a via diplomática. A violação da soberania de um parceiro incondicional dos EUA e a forte pressão dos países envolvidos forçaram Donald Trump a uma reprimenda pública a Netanyahu, seu pedido de desculpas públicas e a decisão de encaminhar o cessar fogo em Gaza. Lobbies bem sucedidos e lobbies malogrados, todos fazem parte do jogo.
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Ilustração: Mihai Cauli e Revisão: Celia Bartone
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