Os números divulgados pelo IBGE nesta semana foram devastadores. Efeito da pandemia, foram eliminados 7,8 milhões de postos de trabalho de março a maio deste ano, uma redução de cerca de 8,3% em um único trimestre, segundo a Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios Contínua (PNADC). E destes trabalhadores, pouco menos de 400 mil tentaram retornar ao mercado de trabalho procurando emprego, o restante passando à inatividade. Ou seja, se somarmos esses que não procuraram emprego aos desocupados (12,9% no trimestre), chegamos a uma taxa próxima a 19% – quase um trabalhador em cada cinco. Isso frente a uma recessão estimada como próxima a 10% este ano, de acordo com o Fundo Monetário Internacional.
No dia primeiro de julho, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e o Ministério da Saúde anunciaram cerca de 1,45 milhão de casos confirmados e mais de 60 mil mortes. E o país segue com um ministro da Saúde interino, como se já não houvesse problemas suficientes.
Na gestão da saúde, e na da economia, a figura do “Mito” vai sendo engolida pela pandemia, em uma antropofagia que parece produzir o “Pandemito”, uma figura cada vez mais com o perfil baixo, encurralada pelo Judiciário e pelo Congresso e principalmente por sua incapacidade de responder às necessidades de ação colocadas pela realidade. Das palavras erradas na hora errada, como quando tripudiou das vítimas da Covid-19 com um solene: “E daí? Lamento! Quer que eu faça o quê?” Como se o chefe do Executivo Federal não tivesse de responder pela crise sanitária. Nos últimos dias, há um silêncio estranho, o presidente parece engolido pela crise no seu próprio quintal – Fabrício Queiroz, Frederick Wassef, seus próprios filhos, a filha do Queiroz e por aí vai. O país encara as crises sanitária e econômica e olha para a presidência lembrando das palavras do Barão de Itararé: “De onde menos se espera, daí é que não sai nada.”
Enquanto isso, a economia brasileira mostra previsões sombrias. As projeções para o Produto Interno Bruto indicam uma queda de 10% neste ano, ou seja, mais desemprego. Por outro lado, a Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão autônomo, vinculado ao Senado Federal, projeta um déficit primário do governo central de R$ 877,8 bilhões, em 2020, 12,7% do PIB. Mesmo diante da grandeza destes números, analisando o país em todas suas facetas, faz sentido propor medidas de ajuste fiscal nestas condições? Grande parte dos países do mundo está respondendo que não é hora de falar em ajuste, é hora de salvar vidas e cuidar da economia.
No entanto, os gestores de nossa política econômica, em tempos de pandemia, se mostram cada vez mais distantes das políticas econômicas do resto do mundo, que neste momento jogam todas as suas fichas para viabilizar os gastos do combate à pandemia e à recuperação de suas economias – mesmo vendo crescer a relação dívida/PIB, ampliando as emissões e aumentando gastos com investimentos públicos ou para distribuição direta de dinheiro à população. No Brasil não, para a área econômica do governo, aqui é diferente. Aqui, prevalece o que se poderia caracterizar como insanidade fiscal, a crença absurda de que somos os únicos a agir corretamente, em meio a esse mundo de “gastadores irresponsáveis”, alguns dos quais tradicionalmente guardiões históricos das preocupações fiscais, como os alemães, mas que nesse momento se curvam aos programas de salvamento. Aqui, nossos gestores da política econômica não são irresponsáveis. São dementes. Nesse momento, “pandementes”.