Pedro é cristofóbico. Terrivelmente cristofóbico. Outro dia, em sua igreja, uma transexual foi expulsa. Pessoa invertida. Pecadora. Fruto podre que ameaçava de podridão os bons cristãos daquele cesto de fé.

Pedro a abraçou. Assim, na frente de todo mundo. Argumentou com os seus que o dever cristão é amar incondicionalmente. Amar o crente e o descrente. O santo e o pecador. Quem ama, acolhe. Quem ama, não exclui.

Foi expulso também. Aos sopapos e ofensas gesticuladas e gritadas. Provou do ódio que negou ao pecador. Pedro não tinha jeito mesmo.

Passou por outras igrejas. Sempre assim, cristofóbico. Numa delas, alguém contava empolgado sobre o carro que ganhou. Deus que lhe dera. Prova de sua fé e de que era mais digno de Deus que os outros, com seus carros piores.

Pedro até que tentou mas, cristofóbico que é, não conseguiu ficar calado. Disse que não há mérito no que se tem, mas no que se faz. Bastou. Virou motivo de fofoca, chacota e, claro, ódio. Ficou sem clima para frequentar aquela igreja. E lá se foi para outra. E depois outra e outra. Pedro não se emenda.

Mas é na política que Pedro se mostra mais cristofóbico. Acha que se for para misturar Cristo com política, então o amor deveria ser o princípio primeiro deste tipo de política. Mas não é o que Pedro vê e ouve.

Ouviu pedidos de voto para um candidato. Verdadeiro cristão. Miliciano que expulsou a bala crentes de religiões concorrentes. Provou sua fé incendiando um terreiro de Umbanda e ameaçando de morte a velha que tomava conta do lugar. Jesus na boca e arma na mão.

No mesmo dia, ouviu outro pedido. Para o concorrente. Oposto ideológico do primeiro. Também cristão, diziam. Indignado com tudo. Fala com ar de superioridade. Denuncia os males do mundo. Com ímpeto. Às vezes, fúria. Faz pouco caso de quem pensa diferente. Pouco amoroso também. Sem arma na mão, de língua que fere como flechas.

Olhando à direita e à esquerda, não viu amor. Não viu respeito. Não viu perdão. Não viu fé. Mas ouviu muito falar de Cristo pra cá e Jesus pra lá. Só palavras. Vazias como promessas de campanha.

Pedro disse o que pensava para um e para outro. Mal visto por um e outro. Cristofóbico para um e para outro.

Entendeu que Cristo na política é arma. Para convencimento e persuasão de alguns. Para evitar ter que convencer e persuadir a outros. Só um rótulo. Jeito de dizer que se é gente boa mesmo fazendo o contrário do que qualquer pessoa boa faria. Como os manjados bordões: “eleitor amigo, você me conhece”, dito por um desconhecido que não é seu amigo.

Pedro resolveu deixar a política de lado. Na verdade, foi deixado de lado por ela primeiro. Segue por aí sozinho. Amando, perdoando, sendo caridoso. É sua política. Sem armas ou arminhas. Sem ofensas. Sem arrogância. Sem ameaças. Sem competição. Sem eleição. Sem salário, que não a satisfação íntima do exercício da sua fé.