O capitalismo passa por enorme contradição no Brasil. Apesar do inegável salto tecnológico em curso no mundo, a economia nacional vive a sua grande estagnação, tendo somente nas últimas quatro décadas acumulado quatro recessões (1981-83; 1990-92; 2015-16 e 2020).

Após meio século de expansão capitalista entre as décadas de 1930 e 1970, o que permitiu ao Brasil representar 3,2% da economia mundial no ano de 1980, o país depois ingressou num longo declínio relativo. Em 2019, por exemplo, respondeu por somente 1,8% do PIB global.

Com base na Pesquisa de Inovação (Pintec) recentemente divulgada pelo IBGE, os capitalistas no Brasil regrediram a sua capacidade de inovar. Na comparação entre os anos de 2015/17 com os de 2013/14, por exemplo, somente 1/3 das 116.962 empresas brasileiras com dez ou mais trabalhadores realizaram algum tipo de inovação em produtos ou processos, o que significou a queda de 17,4% no total dos investimentos direcionados para as atividades inovativas.

O excessivo risco econômico gerado por condições adversas nos mercados é apresentado pelos capitalistas como principal obstáculo para o desinvestimento na inovação. Diante do declínio da contribuição do progresso técnico e da inovação de processos e produtos para o dinamismo econômico brasileiro, a produtividade estacionou, distanciando-se das possibilidades de crescimento da produção, seja intensivo ou mesmo extensivo.

O aumento intensivo da economia resulta da elevação da taxa de investimento, que permite ampliar a capacidade de produção, conforme verificado nas três décadas após o fim da segunda Guerra Mundial no Brasil. Depois disso, o crescimento econômico extensivo ocorreu por adições ao nível de produção, ocupando ociosidade existente, sem que a capacidade de produção tenha sido elevada consideravelmente por decorrência da estabilização na taxa de investimento em relação ao PIB.

Nos últimos cinco anos, sem crescimento extensivo, muito menos intensivo, o capitalismo decresceu a sua capacidade de produção. Após a recessão de 2015-16, o país seguiu sem conseguir retomar o nível de atividade econômica alcançado em 2014, sendo que em 2019 era ainda 3% menor.

Neste ano, a recessão se transforma em depressão, com o desinvestimento avançando significativamente. Com a quebra anunciada de várias empresas, a queda no PIB ameaça ser a maior da história do capitalismo no Brasil.

Apesar do receituário neoliberal da redução no papel do Estado desde os anos de 1990, fracassou a aposta central de mover a força motriz da inovação tecnológica através do acirramento da competição intercapitalista. O que se assistiu, em decorrência, foi o aumento da dependência tecnológica do exterior associada à elevação do grau de monopolização nas estruturas de competição capitalista dos mercados.

Percebe-se, portanto e até mesmo com referência dos investimentos tecnológicos em países como os Estados Unidos e a China, por exemplo, que a força motriz do progresso tecnológico e da inovação se assenta no planejamento e propriedade pública. Foi nesse sentido que o capitalismo no Brasil avançou durante o ciclo da industrialização entre as décadas de 1930 e 1970.

Por não ser linear, o desenvolvimento das forças produtivas ocorre na forma de fluxos ou refluxos, uma vez que se associa ao avanço do progresso tecnológico que tende a acontecer, em geral, na forma de saltos de acúmulos da ciência, indústria e técnica. Ao optar por receituário profundamente equivocado, o Brasil aumenta o seu pessimismo na inovação, produzindo mais escravização de sua população em postos de trabalho precários e empobrecidos do que a própria libertação.

Nesse sentido, a realidade que se apresenta pelo declínio em curso do capitalismo no Brasil é a própria negação do horizonte de futuro melhor à sua juventude. Qual o sentido de manter um sistema econômico e social com essa perspectiva?