A queda de 1,5% do PIB brasileiro no primeiro trimestre não se deve só à pandemia, da qual incluiu apenas 15 dias. Com esta, projeta-se para 2020 uma taxa sem precedentes, como a de -8% do Banco Mundial. Há quem despreze o fato, ao ponderar que o indicador não é uma boa medida de desempenho econômico. Em parte, porque os serviços são de difícil mensuração e hoje, no país, perfazem dois terços do PIB. Este foi criado para medir a produção de bens e serviços, e é verdade que quantificar automóveis ou tijolos é menos sujeito a erros do que serviços médicos ou de design.
As dificuldades de medir o PIB remontam aos primeiros cálculos. A crise de 1929 conscientizou os governos sobre a necessidade de acompanhar mais de perto as flutuações econômicas, mas como medir a economia informal, se esta não dá nota fiscal? E atividades ilícitas ou consideradas imorais, como jogo do bicho e prostituição, que sustentam famílias e até escolas de samba? Chegou-se a dizer que o PIB é machista, pois não computa os serviços da dona de casa, já que não passam pelo mercado, mas os incorpora se feitos por restaurantes e lavanderias.
Outra crítica aponta que o indicador não mede bem-estar. De fato, trata-se de número que soma da mesma forma remédio e veneno, feijão e bomba atômica. Se a produção for com trabalho escravo ou destruição do ambiente, o PIB não está nem aí: seu propósito é captar quanto foi produzido, não como, nem o quê. Mas a crítica extrapola ao cobrar que ele expresse mais do que se propõe, pois é indicador de produção e não de bem-estar. Este pode ser medido por outros, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que incorpora variáveis como expectativa de vida ao nascer e de educação, além do PIB per capita.
Com tais limitações, por que o PIB é importante? Ao medir o nível de atividade econômica, sabe-se se haverá mais ou menos bens e serviços à disposição da população, investimentos, arrecadação do governo e expectativa de mais empregos e oportunidades. Pode o bolo crescer sem distribuição de renda, mas esta não melhorará sem mais produção, pois não haverá o que distribuir. No mínimo, o crescimento do PIB é pré-requisito. Enfim, o usuário deve estar consciente dos limites, como no uso de qualquer indicador, mas não o subestimar. O negacionismo, como em outras áreas, nada ajuda.