Impressiona a velocidade destrutiva das ocupações no Brasil durante a pandemia da Covid-19, sem paralelo anterior. Na recessão passada, por exemplo, o ponto mais baixo alcançado pelo total de ocupados somente ocorreu no primeiro trimestre de 2017 (88,6 milhões de ocupados), após dois anos de queda consecutiva e acumulado do PIB em 7%.

Neste segundo trimestre de 2020, com apenas três meses após o registro das primeiras iniciativas governamentais de enfrentamento da Covid-19, o nível da ocupação desabou para o montante de 83,3 milhões de trabalhadores. Com isso, somente 48% da população em condições de trabalhar estava ocupada no segundo trimestre de 2020, enquanto no primeiro trimestre eram 54% do mesmo contingente de ocupados.

Ademais da queda vertiginosa dos ocupados, há ainda 12,9 milhões de trabalhadores que seguem ocupados porque os seus contratos de trabalho encontram-se atrelados ao pagamento dos salários diretamente pelo governo federal (Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda). Iniciado em abril desde ano, a vigência do programa que tem prazo de encerramento após quatro meses, atende a 1,4 milhão de estabelecimentos empresariais.

No caso dos trabalhadores que se mantiveram ocupados durante a pandemia, a situação não parece melhor. A consideração a esse respeito provém da análise de investigações realizadas sobre as condições e relações de trabalho atuais dos ocupados.

Ao se tomar como referência as pesquisas com docentes (Gestrado/Cnte), bancários (Dieese/Sindicatos de Bancários) e entregadores em empresas de plataforma digital (Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista – Remir) constata-se o quanto a ocupação tem sido exposta à maior intensificação e rebaixamento nas condições de trabalho. No caso dos trabalhadores em educação, por exemplo, percebe-se que se já não bastasse a precariedade nas condições de trabalho em algumas escolas, o período da pandemia terminou por agravar ainda mais o quadro tanto pela ausência de suporte às redes de ensino como pela insuficiência de profissionais.

Além disso, as atividades não presenciais têm repercutido intensamente na rotina dos trabalhadores em educação. Com o movimento de retomada das atividades presenciais, o risco da exposição à Covid-19 transcorre em meio à piora das condições sociais e econômicas das famílias dos alunos, cujos efeitos nas condições de trabalho não devem ser desprezados.

A presença do teletrabalho a envolver mais da metade de toda a categoria dos bancários indicou o descontrole do tempo de trabalho, sendo que quase 40% dos ocupados apontaram elevação da jornada e ¼ deles não recebe pelas horas extras ou tem um banco de horas funcionando. Ao serem forçados a realizar o trabalho em casa, oito a cada 10 bancários informam que o exercem compartilhando com espaço comum à família, sem que os bancos se responsabilizem pela qualidade e saúde do trabalhador.

A fadiga e o cansaço diante da longevidade e intensidade do trabalho durante a pandemia da Covid-19 identificadas no exercício do teletrabalho na educação e bancos, também tem sido apontadas pelos trabalhadores de entrega nas empresas que operam com plataformas digitais. De acordo com entregadores de empresas como iFood, UberEats, Rappi e Loggi, por exemplo, o crescimento na demanda por trabalho tem transcorrido em simultâneo à queda do rendimento auferido durante a pandemia.

Além da queda nos rendimentos dos entregadores que trabalham em plataforma digital, o risco de contágio viral aumentou e contaminou parcela da categoria. Na maior parte das vezes, as iniciativas de proteção partiram dos próprios ocupados diante das condições precárias e incertas de exercício do trabalho.

A pandemia do novo coronavírus tem impactado negativamente o comportamento ocupacional. De um lado, a parada econômica imposta pelas medidas de isolamento social derrubou o nível de ocupação e, de outro, antecipou tendências que já vinham sendo gradativamente implantadas como o teletrabalho. A se manter, o futuro do trabalho acresce das mudanças em curso e que vão configurando as relações de trabalho, em geral, rebaixadas e mais precárias.