Muito tem se falado da escassez de nomes com peso político e eleitoral para estar à frente de uma candidatura presidencial capaz de unir a centro-direita no Brasil. No entanto, há bem pouco tempo esses nomes existiam e gozavam de grande prestígio no cenário nacional. Por causas diversas, perderam relevância, tiveram sua trajetória precocemente interrompida, foram engolfados por denúncias de corrupção e até mesmo presos.

Sem a pretensão de esgotar o assunto, esta coluna dedica-se a analisar alguns casos, mostrando o quão perto alguns chegaram do poder e como outros poderiam ter ido bem mais longe em suas carreiras. Por falta de outro critério, seguiremos a análise em ordem alfabética.

O primeiro da lista é Aécio Neves da Cunha, neto de Tancredo Neves. Secretário particular do avô, participou das campanhas das Diretas Já e presidencial de Tancredo. Foi diretor da Caixa Econômica Federal e deputado por quatro mandatos, tendo chegado a presidente do Congresso Nacional no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. Foi eleito e reeleito governador de Minas Gerais e comandou o estado de 2003 a 2010, quando se candidatou ao senado federal.

Durante a campanha presidencial daquele ano, abandonou o candidato do PSDB, José Serra, em Minas, à sua própria sorte. Como resultado, Dilma Rousseff livrou mais de 2 milhões de vantagem contra o candidato tucano, assegurando a vitória em um estado estratégico no mapa eleitoral brasileiro.

Aécio tornou-se presidente do PSDB em 2013, em substituição a Sérgio Guerra. Lançou-se candidato à presidência, tendo sido o tucano que mais perto chegou de quebrar a hegemonia petista desde as eleições de 2002. Conseguiu deixar Marina Silva para trás e passou ao segundo turno. Ao final, faltaram-lhe três milhões de votos para derrotar a petista, que foi reeleita.

Foi mau perdedor, não reconhecendo a vitória de Dilma e dizendo ter perdido a eleição para uma organização criminosa. Apoiou o impeachment e o governo de Michel Temer. Em 2017 foi flagrado pedindo dois milhões de reais ao empresário Joesley Batista, do grupo JBS. Livrou-se do afastamento no senado, mas teve que amargar a prisão da irmã e de um primo.

Conseguiu se eleger deputado federal por Minas em 2018, mas tornou-se persona non grata no partido e ainda teve que assistir ao governador de São Paulo, João Dória, avançar sobre a máquina partidária tucana. Aécio atualmente responde a diversos processos no STF por caixa dois e corrupção. Um fim melancólico para quem saiu das eleições de 2014 com um capital eleitoral de 51 milhões de votos.

O próximo nome é Eduardo da Costa Paes. O atual prefeito do Rio iniciou sua carreira como subprefeito da Zona Oeste do Rio de Janeiro, nomeado por seu padrinho político, César Maia, no início dos anos 90. Foi vereador, deputado federal e secretário de Meio Ambiente de Maia, com quem rompeu em 2002. Filiou-se ao PSDB e foi novamente eleito deputado federal. Tornou-se secretário geral do partido e teve atuação de destaque na oposição, durante o escândalo do mensalão.

Concorreu ao governo do Estado do Rio em 2006 e teve pouco mais de 5% dos votos. Declarou apoio a Sérgio Cabral Filho no segundo turno, de quem tornou-se secretário de Turismo, Esporte e Lazer. Filiou-se ao PMDB e concorreu à prefeitura do Rio em 2008, derrotando Fernando Gabeira em disputa pra lá de acirrada, quando teve pouco mais de 50% dos votos, graças a um feriado prolongado providencialmente decretado por Sérgio Cabral e que elevou as abstenções em regiões da cidade onde Gabeira havia tido melhor desempenho no primeiro turno. Em 2012 Paes seria reeleito no primeiro turno.

Durante seus dois governos, trabalhou ativamente, realizando diversas obras graças ao apoio do Governo Federal, surfando nas ondas da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Não conseguiu, no entanto, fazer seu sucessor. Pedro Paulo, então secretário executivo de coordenação de Governo, passou a campanha respondendo sobre uma suposta agressão contra a ex-mulher. Sua candidatura, junto com outras do centro político – Carlos Roberto Osório e Índio da Costa – acabou imprensada pela radicalização que aflorou entre os dois Marcelos, Freixo, pelo PSOL, e Crivella, pelo PRB. Pesaram contra também o desabamento da ciclovia da Avenida Niemeyer, grampos telefônicos em que Paes falava mal da cidade de Maricá e debochava de Luiz Fernando Pezão e Dilma Rousseff e a forma grosseira e machista com que tratou a moradora de um conjunto habitacional, ao lhe mostrar seu novo apartamento.

Depois de um período nos Estados Unidos, Eduardo Paes voltou ao Rio e saiu candidato a governador do estado em 2018, pelo Democratas. No segundo turno foi atropelado pela onda conservadora que varreu o país e perdeu para Wilson Witzel, do PSC. Voltou a trabalhar na iniciativa privada e, em 2020, foi novamente candidato a prefeito, desta vez vencendo Marcelo Crivella.

Paes agora tenta manter-se como um ator influente no jogo das eleições para governador do Rio em 2022. Prometeu ficar na cadeira de prefeito até o fim de seu mandato, em 2024. Se não concorrer à reeleição, terá pela frente um hiato de dois anos até as próximas eleições, quando poderá disputar novamente o governo do estado ou tentar uma vaga de senador ou deputado em Brasília.

Assim como seu mentor César Maia, Paes já se encontra no terceiro mandato como prefeito do Rio. Resta saber se irá além e conquistará o governo do Estado, o que Maia não conseguiu. Ou se está destinado a ser um político local, sem musculatura para voos mais altos.

Seguimos com outro Eduardo. Neto de Miguel Arraes, perseguido pela ditadura militar, Eduardo Henrique Accioly Campos desde cedo conviveu com nomes proeminentes da política pernambucana e nacional. Foi chefe de gabinete do avô quando este era governador de Pernambuco e elegeu-se deputado estadual em 1990 pelo PSB. Perdeu a disputa para a prefeitura de Recife em 1992, ficando apenas em quinto lugar, mas recuperou-se dois anos depois, elegendo-se deputado federal. Licenciou-se do cargo para ser secretário de governo de Arraes e depois secretário de fazenda, entre 1995 e 1998.

Conquistou novos mandatos como deputado federal em 1998 e 2002. Por três anos consecutivos esteve na lista dos deputados mais influentes do Congresso. Convidado por Lula, foi ministro de Ciência e Tecnologia entre 2004 e 2006. Em 2005 assumiu a presidência do PSB e em 2006 elegeu-se governador de Pernambuco, reelegendo-se em 2010, com mais de 80% dos votos, sagrando-se o governante mais bem votado do Brasil.

Seus dois governos caracterizaram-se pela realização de grandes obras e atração de investimentos privados, e pela diminuição dos índices de violência. Em 2013, já mirando a presidência da República, rompeu com o governo Dilma alegando proximidade da presidente com setores políticos tradicionalmente corruptos.

Formou chapa com Marina Silva, da Rede, em um movimento chamado de Nova Política. Eduardo Campos teria sido um candidato fortíssimo nas eleições de 2014, com grandes chances de quebrar a polarização PT-PSDB. Na noite de 12 de agosto daquele ano foi entrevistado na bancada do Jornal Nacional, encerrando sua participação no noticiário com a frase: “Não podemos desistir do Brasil”.

No dia seguinte, embarcaria no aeroporto Santos Dumont em um Cessna Citation 560 com destino ao município paulista de Guarujá para cumprir agenda de campanha. A aeronave caiu sobre o bairro do Boqueirão, em Santos, sem deixar sobreviventes. Eduardo Campos morreu no mesmo dia que seu avô, falecido em 2005.

O trágico acidente interrompeu uma caminhada que tinha tudo para desaguar na conquista da presidência da República e talvez mudar de forma radical os caminhos da nação. Ou não. Para seguir o que é quase uma regra na política brasileira, Eduardo Campos teve seu nome citado na Operação Turbulência, da Policia Federal, deflagrada em 2016 para investigar crimes de lavagem de dinheiro, organização criminosa e falsidade ideológica.

Parte dos mais de R$ 600 milhões movimentados pelo esquema criminoso teria sido utilizada para comprar a aeronave que Campos utilizava nos deslocamentos de campanha e que, numa ironia do destino, o levou em sua derradeira viagem.

O último personagem é talvez o caso mais emblemático da política nacional de perda de todos os limites éticos e morais em prol de uma vida de luxo e dissipação. Sérgio de Oliveira Cabral dos Santos Filho foi deputado estadual entre 1991 e 2003, e senador de 2003 a 2006. Foi governador do Estado do Rio entre 2006 e 2014, quando renunciou ao cargo.

Filho do jornalista Sérgio Cabral, um dos fundadores do Pasquim, Cabral Filho priorizou em seus governos as áreas de saúde e segurança pública, respectivamente com a criação das Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e das Unidades de Política Pacificadora (UPP). Foi reeleito em 2010 com mais de 60% dos votos, no primeiro turno.

Por trás do discurso de eficiência na gestão e da criação de programas que visavam facilitar a vida da população e a melhoria do ambiente de negócios, estava um gigantesco esquema de propinas e a dissipação de recursos públicos que bancavam uma vida luxuosa, com uso de helicóptero do governo para deslocamentos entre a Lagoa e o Palácio Guanabara e idas à casa de praia em Mangaratiba nos finais de semana. O dinheiro sujo também financiava a compra de joias para a primeira dama Adriana Ancelmo, pagas em dinheiro vivo.

Com o tempo, a blindagem de Sérgio Cabral, habilmente administrada por uma famosa agência de relações públicas, tornou-se inútil diante das relações promíscuas com empresários, das constantes viagens a Paris, sempre de primeira classe, da descoberta que o escritório de advocacia do qual sua mulher era sócia prestava serviço para concessionárias como SuperVia e Metrô Rio e do recrudescimento da violência na guerra urbana entre a PM e o tráfico.

Durante as manifestações de 2013, Cabral ficou acuado em seu apartamento de luxo no Leblon. Aliás, é de se estranhar que a mídia nunca tenha se interessado de onde vieram os recursos tanto para comprar o imóvel na zona sul do Rio, de altíssimo padrão, quanto a mansão em Mangaratiba.

Sérgio Cabral Filho foi preso em 17 de novembro de 2016 pela Polícia Federal durante a Operação Calicute, no âmbito da Operação Lava Jato. Alguns de seus ex-secretários de governo também foram para a cadeia. Contra o ex-governador pesava a acusação de desvio de R$ 224 milhões. Em 6 de dezembro daquele ano Cabral tornou-se réu pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. No mesmo dia, Adriana Ancelmo também foi presa.

Seria monótono citar aqui todas as condenações ao ex-governador. Com novas condenações em diferentes processos, a pena de Sérgio Cabral Filho já chega a 280 anos de prisão. O político que liderou o segundo estado mais importante da federação por oito anos e que chegou a ter o nome cogitado para uma candidatura à presidência da República, agora está preso em Bangu 8, no Complexo Penal de Gericinó, na zona oeste do Rio.

Adriana Ancelmo rompeu com Sérgio Cabral Filho em 2020 e está namorando.

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